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Santana do Cariri, no Ceará, é a maior produtora de mel de abelha do país, segundo o IBGE.

Nem só de pesquisas científicas no mundo da paleontologia e de turismo religioso com a Beata Benigna vive Santana do Cariri. Com quase 17 mil habitantes, de acordo com o Censo mais recente do IBGE, o município atraiu a atenção nos últimos anos pela intensa produção de mel de abelha, sendo destaque em todo território nacional.

O município produziu quase 1,2 milhão de quilos (kg) de mel em 2023.

Santana do Cariri, no Ceará, é a maior produtora de mel de abelha do país, segundo o IBGE — Foto: Ely Venancio/EPTV

No ano passado foram produzidos quase 1,2 milhão de quilos do alimento, o que garantiu a liderança do município entre as cidades do País que mais produz mel de abelha, pelo menos é o que aponta a Pesquisa da Pecuária Municipal de 2023 (PPM), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada em setembro.

Cidades que mais produzem mel de abelha no Brasil

 

Colocação          Cidade      Quantidade (kg)

     Santana do Cariri (CE)     1.187.702

     Arapoti (PR)    1.051.523

     Santa Luzia do Maruá (PA)      1.045.050

     São Raimundo Nonato (PI)     916.693

Fonte: IBGE

O resultado confirma uma tendência de crescimento registrada desde 2021 e que refletiu no Estado como um todo. Agora o Ceará passou a ser o quinto Estado do País em termos de produção do alimento.

Estados que mais produzem mel de abelha no país

Colocação          Estado      Quantidade (kg)

     Rio Grande do Sul   9.111.304

     Piauí         8.829.805

     Paraná      8.488.483

     Minas Gerais    6.862.976

     Ceará        5.703.654

Fonte: IBGE

 

Mas o que levou a pequena Santana do Cariri a dominar os números? O g1 foi até lá ver de perto essa produção.

Tesouro escondido na floresta

Mel orgânico é produzido entre as plantas nativas da Chapada do Araripe. — Foto: Lorena Tavares/ SVM

Em meio a plantações de abacaxi, mandioca e feijão os agricultores de Santana do Cariri descobriram uma riqueza escondida no clima ameno e na água abundante que só a Chapada do Araripe proporciona: as abelhas.

É entre plantas nativas que elas se sentem em casa e produzem mel orgânico de qualidade. Resultado: os agricultores perceberam isso e aos poucos migraram de atividade se transformando em apicultores.

Foi o que fez Cristiano Vicente Silva há vinte anos. Ele conta que a vida dura na roça deu lugar ao manejo com as abelhas e isso mudou a vida dele e da família.

"Eu sou apaixonado pelo meio ambiente, por isso comecei com as abelhas em 2004, peguei amor pela profissão. Lá no início tinha apenas três colmeias e hoje tenho perto de 200. Fui gostando e o dinheiro que veio mudou a minha vida."

Mais de 100 famílias do Sítio Lírio, zona rural de Santana do Cariri, se dedicam a produção de mel de abelha. — Foto: Lorena Tavares/ SVM

Morador do Sítio Lírio, Cristiano é apenas um dos mais de 30 apicultores que sobrevivem da renda do mel só nessa localidade. Santana do Cariri tem mais de cem famílias dedicadas à produção, que ao longo do ano varia de acordo com as floradas das plantas.

Em novembro veio a safra mais rentável, a do cipó uva, planta nativa da Chapada do Araripe de onde as abelhas extraem o néctar para produzir o alimento. "Essa florada se torna a mais importante do ano porque nos traz benefício, vende mais pois esse mel é diferente. Ele é claro e de sabor suave que é bastante valorizado, bem procurado e mais caro. O mel escuro chega a custar R$ 12, R$ 13, R$ 14 o litro no máximo, já o mel claro chega a R$23 até R$33." comemora o apicultor Geoavane de Melo.

Para a jovem Maria Laís, técnica de campo do Senar, a geografia da Floresta é a grande reponsável por toda produção.

"Quando a gente olha para a apicultura no município de Santana do Cariri, a gente olha especificamente para esse ambiente geográfico de Chapada do Araripe, a gente sobe para o platô da Chapada na área mais alta que traz essas características ambientais que são interessantíssimas pro desenvolvimento das abelhas e trabalhamos algumas comunidades. Nesses locais, os produtores que querem se desenvolver dentro da cadeia produtiva, abraçam a proposta do trabalho."

Produção pode ser maior

Mas nem tudo são flores. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará, os dados atuais da produção no Ceará podem ser ainda maiores.

"A gente já detectou que muito mel que é produzido em algumas regiões do Estado, como Inhamuns, Parambu, é comercializado pro Piauí e de lá exportado. Se esse mel fosse exportado por aqui, nós poderíamos ser o maior exportador de mel do Brasil. Não somos. Esse mel não é computado como proveniente do Ceará." Explica Amílcar Silveira, presidente da FAEC.

O presidente da Federação Cearense de Apicultores (Fecap), Joventino Neto, celebra os dados divulgados pelo IBGE, mas não tem dúvidas de que o Ceará lidera o ranking de produção.

 

"O Ceará é o maior produtor de mel do Nordeste. Não vamos nos enganar, porque tem muita produção nossa que sai pelas fronteiras sem fiscalização. Então temos que ver uma forma de fiscalizar e valorizar nosso produto."

Falta apoio

Em meio a toda essa discussão dos números, em Santana do Cariri os apicultores seguem trabalhando e revelam que a quantidade de mel poderia superar ainda mais as expectativas se houvesse mais apoio.

"A gente sente falta de ajuda, de pessoas desenvolvendo projetos que venham melhorar a produção, trazer mais cursos de capacitação, porque a gente tem essa dificuldade de aprender coisas novas dentro da apicultura. Muita gente aqui ainda tá trabalhando no modo antigo." Revela Cristiano.

Por enquanto o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), tem uma técnica que também é moradora da cidade que presta assistência técnica. Maria Laís, monitora cada etapa da produção dos apicultores.

"A gente faz um acompanhamento técnico e gerencial da cadeia produtiva junto aos 30 produtores onde juntos a gente vai pensando metodologias de trabalho para melhoria das técnicas que eles utilizam com as abelhas pra que eles compreendam quais são os custos, os lucros da atividade e comecem a tratar como empreendimento, como um negócio e não apenas como atividade secundária."

Fonte: G1

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