A Polícia Civil investiga a morte de uma mulher de 24 anos internada após passar por cirurgias plásticas na cidade de Sobral, no interior do Ceará. A família da empresária Viviane Lira Monte registrou boletim de ocorrência por suspeita de negligência médica.
Segundo a família da vítima,
houve negligência médica, pois Viviane foi liberada em apenas um dia após as
cirurgias. Em nota, a Polícia Civil disse que "apura as circunstâncias de
uma morte suspeita".
O cirurgião plástico que
realizou os procedimentos, Alexandre Colombaretti, disse que ainda não foi
intimado para depor. Em entrevista ao g1, o médico afirma que aguarda o momento
de ser ouvido pela Polícia para prestar esclarecimentos sobre o caso.
O caso é investigado pela
Delegacia Municipal de Sobral, no interior do Ceará. Familiares da empresária
denunciaram o caso à polícia no dia 27 de setembro.
Agora, a Polícia Civil deve
ouvir relatos de testemunhas, familiares e do médico que realizou as cirurgias.
A partir da investigação, a polícia decide se denuncia ou não os responsáveis.
Os familiares de Viviane
afirmam que a empresária realizou cirurgias plásticas no dia 31 de agosto
(sábado) e foi liberada no dia seguinte por um médico plantonista. No mesmo dia
em que chegou em casa, a jovem teria relatado que sentia muitas dores, não
conseguia urinar e tinha dormência no corpo.
Na ocasião, os parentes de
Viviane entraram em contato com o cirurgião plástico, que teriam recomendado
que ela fosse levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Os familiares
afirmam que o médico não estava mais na cidade de Sobral.
Ao g1, Alexandre Colombaretti
afirma que ele mesmo esteve no hospital para dar alta à paciente e que os
familiares entraram em contato com ele dois dias depois, quando a paciente
passou a apresentar uma dificuldade respiratória.
“A cirurgia dela foi super
tranquila. No dia seguinte, eu passei no hospital pra dar alta pra ela. Ela
estava bem, dentro de todo o pós-operatório, e foi pra casa. Em 48 horas, ela
começou a apresentar uma dificuldade respiratória. Os familiares entraram em
contato comigo, e eu orientei que eles fossem na emergência pra fazer uma
avaliação”, afirmou o cirurgião.
O médico relata, ainda, que
estava na cidade de Sobral atendendo em seu consultório quando foi contatado
pela família de Viviane quando ela começou a passar mal. E acrescenta que
permaneceu na cidade por cerca de cinco ou seis dias acompanhando a internação
da paciente, mantendo contato com os médicos e familiares de Viviane.
Discordância sobre a quantidade
de procedimentos
Segundo a família e amigos da
empresária, foram seis cirurgias plásticas realizadas ao mesmo tempo. O
companheiro de Viviane, Renan Santiago, afirma que ela gastou cerca de R$ 40
mil pelos procedimentos após passar meses economizando.
Os procedimentos relatados pela
família são:
mamoplastia redutora (redução
de mama);
lipoaspiração no abdômen;
lipoaspiração nos braços;
lipoaspiração nas costas;
lipoaspiração no pescoço;
e lipoenxertia glútea
Na versão do médico, a paciente
teria passado por apenas duas cirurgias: uma redução de mama e uma
lipoaspiração.
“A Viviane não fez, como está
sendo relatado, seis procedimentos. Ela fez, na verdade, duas cirurgias, que é
uma mamoplastia redutora e uma lipoaspiração, que engloba algumas regiões do
corpo, mas é apenas uma cirurgia”, diz o cirurgião.
Perguntado sobre quais regiões
estavam incluídas na lipoaspiração, ele explicou que o procedimento foi
realizado no abdômen, nos braços, nas costas e no pescoço. Ele também afirmou
ser comum que o procedimento seja feito em mais de uma região na mesma
cirurgia.
“É bem comum. Geralmente se faz
uma lipoaspiração de barriga e costas, isso é praticamente clássico. E, às
vezes, acrescenta algumas áreas quando o paciente quer… um braço, uma papada
são regiões menores”, disse ao g1.
Um dos amigos da empresária
afirmou que Viviane havia procurado outros médicos, que tinham se recusado a
realizar todos os procedimentos que ela queria de uma vez.
"Ela tinha esse interesse
de fazer cirurgia plástica e andou procurando alguns médicos. Esse médico que
ela encontrou fazia coisas que os outros médicos disseram que não seria
possível fazer tudo junto. Ela fez muitos procedimentos ao mesmo tempo. Ela
pesquisou alguns outros médicos, mas eles se recusaram a fazer tantos
procedimentos", disse Ayrton Alcântara, amigo da empresária.
Com 15 anos de atividades como
cirurgião plástico, Alexandre também declarou que nunca chegou a ser processado
por procedimentos anteriores, conforme afirma que vem sendo relatado nas redes
sociais.
Para médico, internação não
teve relação com cirurgias
O motivo da internação de
Viviane na emergência após as cirurgias plásticas foi um quadro de pneumonia
bilateral, conforme o boletim de ocorrência feito pela família. A infecção
afeta os dois pulmões e pode levar a dificuldades respiratórias.
Segundo o médico, Viviane
passou pelos procedimentos pré-operatórios exigidos pelo Conselho Federal de
Medicina (CFM). Dois dias antes da cirurgia, ela estava bem e não apresentava
nenhum quadro de infecção respiratória.
“Eu sempre oriento os meus
pacientes, até na minha orientação de pré-operatório, eu sempre coloco para os
pacientes: não ficar em lugares aglomerados para que não possam pegar uma
infecção. Inclusive, essa infecção não se manifesta até a cirurgia e, às vezes,
se apresenta depois da cirurgia”, declarou Alexandre.
Quando Viviane foi transferida
para a UTI, o médico afirma que esteve presencialmente no hospital acompanhando
a situação e em contato com a equipe multiprofissional do hospital.
“Ela começou a
antibioticoterapia no primeiro dia de internação dela na UTI e foi melhorando.
Fui acompanhando os parâmetros laboratoriais dela, ela foi se recuperando.
Foram feitas várias avaliações da equipe multidisciplinar do hospital”,
comentou o médico.
O cirurgião também afirmou que
a equipe médica fez avaliações para acompanhar como estava a recuperação das
duas cirurgias plásticas.
“Não tinha nada de infecção nas
áreas cirúrgicas. A cirurgia da mama dela tava toda fechada, não tinha infecção
nas áreas da lipoaspiração. Só depois, com o tempo, uma pequena regiãozinha da
mama, por causa de manipulações, de virar o paciente de um lado para o outro,
abriu uma coisa pequenininha. Tem relato aí de que a mama toda abriu, na
verdade, nada disso aconteceu”, afirma Alexandre.
Ele afirma que acompanhou o
tratamento de Viviane na UTI e que esteve em contato com a família dela,
ajudando inclusive a transmitir as informações, simplificando os termos mais
técnicos.
Pelo relato da família, o
diagnóstico da empresária, ainda na UPA, havia sido o de embolia pulmonar, um
quadro grave que tem início quando um coágulo entope um vaso sanguíneo do
pulmão, impedindo a passagem de sangue.
Segundo os parentes, após ser
levada para a UTI, Viviane ainda teve uma parada cardíaca e foi reanimada. Dias
depois, os médicos teriam chamado a família, explicando que o estado dela era
grave.
Os parentes afirmam que Viviane
foi piorando a cada dia, precisando do auxílio de bolsas de sangue e contraindo
infecção por bactéria e fungos. Eles relatam que a cirurgia nos seios chegou a
abrir e que ela teve secreção nos braços.
Viviane morreu no dia 26 de
agosto, na véspera do seu aniversário de 25 anos, que seria comemorado na
sexta-feira (27). Ainda segundo os parentes, o cirurgião chegou ao hospital
horas antes da mulher falecer, ligou para a equipe da UTI e depois saiu sem
falar com a família.
Caso segue em investigação
O caso é investigado pela
Delegacia Municipal de Sobral, unidade da Polícia Civil do Ceará responsável
pela apuração do caso. Em nota, a Polícia disse que 'apura as circunstâncias de
uma morte suspeita'.
Ao g1, Alexandre Colombaretti
informou que ainda não foi ouvido pela Polícia e que vai prestar
esclarecimentos quando for chamado. Ele declarou, ainda, que está surpreso pela
repercussão nacional do caso e que as cirurgias foram feitas dentro dos padrões
estabelecidos.
Por g1 CE
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