Um dos depoimentos do ex-PM Élcio de Queiroz em seu acordo de delação premiada aponta o possível envolvimento de um novo personagem no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
O novo suspeito é Bernardo Bello, que já é investigado como um dos líderes do jogo do bicho no Rio.
A vereadora Marielle Franco foi executada no Rio de Janeiro em 14 de março de 2018 | Divulgação
O novo suspeito é Bernardo
Bello, que já é investigado como um dos líderes do jogo do bicho no Rio.
Segundo Élcio, o grupo liderado
por Bello teria fornecido tanto o celular utilizado por Ronnie Lessa, apontado
como o autor dos disparos contra Marielle e Anderson, quanto o veículo
Chevrolet Cobalt prata conduzido pelo próprio ex-PM no dia do crime.
Élcio assinou um acordo de
colaboração após a Polícia Federal reforçar as provas de sua participação no
crime, como motorista de Lessa --os dois estão presos desde 2019. O crime
aconteceu em 14 de março de 2018.
Parte das revelações do ex-PM
embasaram a operação Élpis, que prendeu o ex-bombeiro Maxwell Côrrea, apontado
como responsável por campanas de monitoramento da vereadora e por atuar após o
assassinato na tentativa de destruição de provas.
Segundo a delação, Bello e o
chefe de sua segurança, José Carlos Roque Barboza, são suspeitos de terem
participado do crime. O primeiro teria dado o celular a Lessa, enquanto o
segundo, forneceu o carro.
O Ministério Público e a
Polícia Federal ainda investigam as informações fornecidas pelo delator. Neste
sábado (29), o Disque Denúncia do Rio divulgou um cartaz pedindo mais
informações sobre seu paradeiro --ele está foragido e é suspeito de ser o
mandante do assassinato de outras pessoas no Rio. A reportagem não conseguiu
contato com seu advogado.
A reportagem apurou que Élcio
afirmou na colaboração que, após a morte da vereadora, o celular foi destruído
por Lessa e o carro, desmanchado com ajuda do próprio ex-PM e de Maxwell.
O delator diz ainda que, depois
do assassinato, Lessa não voltou a receber mais nenhum aparelho nem veículo do
grupo de Bello.
Élcio havia revelado no outro
depoimento o uso por Lessa de um celular "diferenciado". Ele diz ter
visto o aparelho uma vez antes do crime e no dia, quando o atirador usou para
acessar o mapa durante a perseguição ao carro da vereadora.
"Vou falar posteriormente,
encontros casuais, apareceu também celular, que eu achei estranho aquele
celular aparecer pra ele. Ele [Lessa] costumava andar com celular de última
geração, era um celular feio, mas era um smartphone. E o Ronnie não fala em
telefone, só digita. Aí eu perguntei e ele falou que era de uma pessoa que
tinha fornecido para ele", disse Élcio, segundo trecho da delação.
No novo depoimento, o ex-PM diz
que o celular foi repassado ao atirador por Bello. O aparelho teria sido
entregue após a primeira tentativa de cometer o crime, no final de 2017, e
tinha como objetivo o manter o contato entre os dois.
Os contatos entre Lessa e Bello
eram mediados por Roque e por um outro ex-PM, Edimilson Oliveira da Silva,
conhecido como Macalé.
Segundo o delator, a dupla
costumava buscar Lessa no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, para levá-lo à casa
do bicheiro, no mesmo bairro. Para isso, usavam um Corolla branco.
Élcio conta na delação que viu
o amigo ser buscado pelos dois pelo menos quatro vezes nos meses que
antecederam a primeira tentativa de assassinato da vereadora, que aconteceu no
fim de 2017. Com a ofensiva frustrada, Bello teria dado o celular a Lessa para
que tivessem uma comunicação mais direta, segundo apontam as investigações.
Lessa, Élcio e outros
envolvidos tinham costume de frequentar a região conhecida como Quebra-Mar, na
Barra da Tijuca.
Macalé, assassinado em 2020, é
apontado em outras investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro como
integrante do grupo de Bello.
Já era sabido que Élcio apontou
Macalé como quem trouxe o "trabalho", no caso o assassinato, para
Lessa. Ele também teria participado, como motorista, da primeira tentativa de
matar Marielle, ainda em 2017.
Segundo o ex-PM, Lessa culpou
Macalé por não ter conseguido assassinar a vereadora nessa primeira tentativa.
Por isso, decidiu chamar o Élcio na segunda ofensiva.
Macalé é apontado como
integrante do braço armado do grupo de Bello em investigações sobre a morte de
rivais da contravenção e em atentados envolvendo a disputa interna que mantêm
com os herdeiros do bicheiro Waldemir Paes Garcia, o Maninho.
Ex-genro de Maninho, Bello
teria rompido com a família Garcia e é suspeito de ser o mandante da morte do
irmão do bicheiro, Alcebíades Paes Garcia, o Bid --morto em 2020. Ele também é
suspeito de tentar matar Shanna Harrouche Garcia, sua ex-cunhada.
Bello chegou a ser preso na
Colômbia, em janeiro de 2022 no processo em que é apontado como o mandante do
assassinato de Bid. Ele foi solto após uma decisão do STJ (Superior Tribunal de
Justiça) em junho do ano passado.
Na quinta-feira (27), Bello foi
alvo de um novo mandado de prisão sob suspeita de ter mandado matar um advogado
em Niterói, em maio de 2022. Segundo o Ministério Público, Carlos Daniel Dias
André se tornou alvo do bicheiro após um conflito mediado pelo advogado.
Autor:FOLHAPRESS
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