A criatividade de Raul Seixas era uma coisa absurda. Esse trecho entre aspas faz parte da última faixa do disco que mostrou Raul pra todo o Brasil: “Krig-ha, Bandolo!”.
É uma vinheta narrada por ele, com algumas distorções vocais toscas, sem música. Colocar isso num álbum agora já seria disruptivo, imagina em 1973.
“Krig-há, Bandolo!” foi o primeiro álbum solo de Raul Seixas. Ele tinha 28 anos. TODAS as músicas fizeram sucesso e todas elas são de composição de Raul Seixas, cinco em parceria com Paulo Coelho.
Fazem parte desse álbum clássicos como “Ouro de Tolo”, “Mosca na Sopa”, “Metamorfose Ambulante” e “Rockixe”. Ouro de Tolo foi um acontecimento, aliás, é um acontecimento até hoje.
A música é cheia de críticas sociais e econômicas, foi lançada durante a ditadura militar e não sofreu nenhum tipo de cesura. A letra é de uma profundidade tamanha, que não deve ter sido absorvida completamente pelos censores.
É daquelas músicas que, cada vez que você a ouve, você saca alguma coisa diferente. Até hoje. A música foi lançada na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro e Raul Seixas surgiu cantando ao vivo no meio do povo. Até o Jornal Nacional mostrou esse momento.
Capa do album krig-ha, bandolo!
do Raul Seixas.
Disco de estreia de Raul
“Krig-há, Bandolo!” é um álbum muito maduro pra um artista de 28 anos. Se você for julgar os seguintes critérios: Originalidade, qualidade textual, produção musical e interpretação, é impossível não dar dez pra todos.
Ele juntou metais, cordas, berimbau, banjo, sintetizadores e fez um disco de rock. O trabalho é uma alquimia perfeita. Mas essa maturidade lírica e sonora, não veio por acaso.
O maior sonho de Raul na juventude era ser escritor, como Jorge Amado. Não se adaptou a escola, mas lia muito. Se interessava por filosofia, latin e devorou a biblioteca de seu Pai, um engenheiro de estrada de ferro.
Depois de aceitar o convite de para ir ao Rio de Janeiro tentar a vida de artista, fracassou com a banda Raulzito e os Panteras e voltou para salvador. Em Salvador, acabou conhecendo um diretor da gravadora CBS Discos, muito forte na época.
Esse diretor convidou Raul para ser produtor na gravadora e ele retornou ao Rio. Essa é a fase responsável pelo amadurecimento sonoro de Raul. Ele produziu discos de Jerry Adriani, Edy Star, Diana e outros artistas da Jovem Guarda.
Depois de ganhar uma certa notoriedade como produtor, Raul Seixas começou a emplacar algumas de suas composições com os artistas da gravadora. Pelo conteúdo dessas composições gravadas por outros artistas, fica evidente que foram escritas por Raul com objetivo comercial.
Não eram músicas que
representavam o trabalho autoral, de fato, de Raul Seixas que conheceríamos
anos depois quando ele assumiu a paternidade do Rock brasileiro. Mas essa fase
comercial da Raul Seixas trouxe toda a bagagem que ele precisava para se lançar
como artista e causar um impacto logo no disco de estreia.
pra onde quer que vá.
Corajoso, irreverente, sonhador e
inteligente, são adjetivos que servem tanto para o Raul Seixas quanto para o
meu Pai.
Minha Mãe, que nem era tão fã
assim, acabou aprendendo todas as músicas do Raul e
sempre canta junto. Inclusive, quando eu nasci, ela foi convencida a me dar o
nome de Raul.
Ela conta que concordou porque era um nome bonito e não porque era o mesmo nome do Raul Seixas. Pro meu Pai acho que o motivo era só o Raul Seixas mesmo.
Agora finalizando o trecho que coloquei entre aspas no início do texto, Raul Seixas, que era agnóstico, escreve uma das frase mais crentes que já ouvi:
“Deus é aquilo que me falta
para compreender o que eu não compreendo”
Ao mesmo tempo em que ele assume a falta de Deus em sua vida, ele reconhece a
necessidade da presença Dele para compreender os mistérios dela. Um cara
complexo né?
Vamos então a nossa lista das 4 músicas que são do Raul Seixas e você não sabia (nem meu Pai sabe dessas)
1- “Doce, Doce Amor”- Jerry Adriani (Raul Santos Seixas/Mauro Mota)
2- “Se ainda existe amor”- Balthazar (Raul Santos Seixas)
3- “Tudo Acabado”- Odair José (Raul Santos Seixas)
4- “Ainda Queima A Esperança”- Diana, Leonardo, Barra da Saia (Raul Santos Seixas/Mauro Motta)
Fonte: primeirapagina
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