O monitoramento nas redes sociais visando combater os discursos de ódio que tanto assolam o ambiente cibernético hoje em dia, além de estratégias que visam dificultar a livre circulação de armas no país são ferramentas fundamentais para evitar massacres como os que aconteceram em Blumenau, na manhã desta quarta-feira (5). Na ocasião, um suspeito identificado como Luiz de Lima entrou no jardim de uma creche e matou três meninas e um menino, com idades entre 4 e 7 anos.
O crescimento desses casos no Brasil cresceu desde 2011 com o massacre em Realengo-RJ.
De 2011 até o momento, muitos ataques e massacres ocorreram no Brasil | Reprodução
Diversos fatores para esse fenômeno social que ganhou grandes proporções
com o massacre de Columbine, em 1999, nos Estados Unidos e parece ter uma
escalada no Brasil. Nos últimos 10 dias, pelo menos dois ataques a escolas
foram registrados no Brasil. No final de março, em São Paulo, um adolescente
foi para a escola com uma faca e matou a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, e
feriu outros cinco estudantes.
Aqui no Pará, no último dia 30, um adolescente de 17 anos esfaqueou um
colega de turma na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Palmira Gabriel, no
bairro do Tenoné, em Belém.
O pesquisador de segurança pública Jorge Tassi
acredita que a crescente violência precisa ser analisada sob várias
perspectivas, incluindo a social, antropológica, psicológica e cultural.
Ele argumenta que é fundamental entender como os
jovens têm fácil acesso às armas por meio do mercado paralelo, muitas vezes
usando as redes sociais para localizar vendedores.
Tassi acredita que controlar esse mercado é
essencial para prevenir ataques violentos. Ele também destaca a exposição
massiva à violência em programas de televisão e redes sociais, que contribui
para uma cultura colérica e agressiva, mas que não é discutida de forma
adequada.
“Uma pessoa fissurada em violência pode acarretar
processos monstruosos. Porque a violência oferece um excesso de dopamina e
serotonina no organismo, gerando prazer. Ela afeta o batimento cardíaco, mexe
com o processo do alimento, com o nível de ansiedade. Ela afeta o fisiológico
do ser humano”, disse.
Grupos masculinistas
Yasmin Curzi, pesquisadora do Centro de Tecnologia
e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas, destaca que o caldo machista em que os
autores de atentados estão inseridos precisa ser estudado. Ela explica que na
deep web e em fóruns de grupos radicais, há um discurso de ódio e violência que
permeia o cotidiano desses jovens, especialmente aqueles que se intitulam como
celibatários involuntários (incels).
Esses grupos masculinistas têm uma visão de que a
expansão dos direitos para mulheres e pessoas LGBTQIA+ e da democracia
representa uma ameaça aos valores do Ocidente. Yasmin enfatiza a importância do
monitoramento da polícia sobre o que é arquitetado por esses grupos na deep web
e nas redes sociais, bem como ações para derrubar fóruns e interromper a
disseminação do discurso de ódio.
Mudança de cultura
Rita Andréa Guimarães, psicanalista e fundadora do
IMA Instituto e Câmara de Mediação Aplicada, argumenta que é crucial para a
sociedade discutir as concepções relacionadas à masculinidade. Ela aponta que
muitos massacres são cometidos por homens e questiona a ideia de masculinidade
transmitida pela cultura. Além disso, ela ressalta que os homens não são
educados para lidar com vulnerabilidade e elaboração de sentimentos.
Histórico preocupante de ataques no Brasil
Desde o ano de 2011, o Brasil já teve pelo menos 10 ataques a creches e escolas. Há de se destacar o massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, que chocou o país no dia 7 de abril de 2011.
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Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo |Reprodução
O autor dos disparos foi um ex-aluno da escola,
Wellington Menezes de Oliveira, que não tinha antecedentes, mas tirou a vida de
12 pessoas e deixou dezenas feridas. Após levar um tiro na barrida, ele cometeu
suicídio.
Além do caso citado, relembramos o da Escola
Estadual Primo Bitti e Centro Educacional Praia de Coqueiral, em Aracruz, no
Espírito Santo, em novembro do ano passado. Na ocasião, foram três mortos e
outros 13 feridos.
Outros casos
Escola Estadual Professora Carmosina Ferreira Gomes (Sobral-CE, 2022)
📷 |Reprodução
Um aluno de 15 anos atirou em três estudantes na
instituição. O atirador utilizou uma arma que pertencia a um colecionador,
atirador desportivo e caçador (CAC), levando o instrumento escondido sob o
uniforme escolar, passando despercebido pelo vigilante da escola.
Colégio Municipal Eurides Sant'Anna (Barreiras-BA, 2022)
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Escola Estadual Professora Carmosina Ferreira Gomes |Reprodução
Um ataque a em uma escola em Barreiras, na Bahia,
resultou na morte de uma aluna cadeirante de 19 anos, identificada como Geane
da Silva Brito. De acordo com a polícia, um adolescente de 14 anos, que
estudava na mesma escola, invadiu o local armado e atirou contra os alunos. O
atirador foi baleado e levado para o Hospital Geral do Oeste pelo Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Escola Municipal Brigadeiro Eduardo Gomes (Ilha do
Governador-RJ, 2022)
Três alunos de 14 anos foram alvo de um ataque a
faca perpetrado por um colega de turma. De acordo com informações da Polícia
Militar, o agressor chegou a registrar a própria ação em vídeo.
Escola Aquarela (Saudades-SC, 2021)
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Escola Aquarela |Reprodução
O ataque resultou na morte de três crianças e duas
funcionárias. O agressor, de 18 anos na época, desferiu golpes contra si mesmo
e foi levado em estado grave para um hospital da região após o crime.
No momento do ataque, havia 20 crianças sob os
cuidados de cinco professoras na escola. O primeiro alvo do agressor foi a
professora Keli Adriane Aniecevski, que mesmo ferida, correu para uma sala onde
estavam quatro crianças e a agente educativa Mirla Renner, de 20 anos. O
agressor invadiu a sala e continuou os ataques, resultando na morte de Keli e
três crianças. Mirla chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos.
Escola Estadual Orlando Tavares (Caraí-MG, 2019)

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Escola Estadual Orlando Tavares, zona rural de Minas Gerais |Reprodução
O ataque foi realizado por um aluno que não estava
presente na escola localizada em uma zona rural de MG. O estudante foi
posteriormente apreendido pela polícia. As vítimas foram atingidas através de
uma porta fechada e sofreram ferimentos no pescoço e braço.
Centro Educacional Unificado Aricanduva (São Paulo-SP, 2019)
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Centro Educacional Unificado Aricanduva |Reprodução
Um aluno de 14 anos esfaqueou um professor dentro
da escola. De acordo com a Polícia Militar, o estudante também ficou ferido
após se ferir ao avisar seus colegas sobre o ataque. O incidente ocorreu
durante uma troca de aulas, quando o aluno encontrou o professor no corredor e
o esfaqueou antes de retornar à sala de aula. O estudante estava no 9º ano do
ensino fundamental e não possuía histórico de problemas com colegas e
funcionários.
Escola Estadual Raul Brasil (Suzano-SP, 2019)
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Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano |Reprodução
Dois homens encapuzados, um adolescente e um homem
de 25 anos mataram sete pessoas, incluindo cinco alunos e duas funcionárias.
Antes do ataque, a dupla havia assassinado o proprietário de uma loja da
região. Ambos eram ex-alunos da escola e depois do ataque, o adolescente matou
o homem mais velho e se suicidou. Eles haviam feito um "pacto" de
cometer o crime e depois se suicidar.
Colégio Estadual João Manoel Mondrone
(Medianeira-PR, 2019)
Um aluno de 15 anos entrou e atirou contra colegas
de classe, deixando dois feridos: um de 15 anos atingido nas costas e outro de
18 anos com ferimento leve na perna.
Colégio Goyases (Goiânia-GO, 2017)

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Colégio Goyases |Reprodução
Um estudante de 14 anos atirou e matou dois alunos
e ferindo outros quatro. O adolescente, filho de policiais militares, tirou uma
pistola .40 de sua mochila durante o intervalo das aulas e efetuou os disparos.
Ele foi impedido de recarregar a arma pela coordenadora da escola.
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Com informações de O Tempo.
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