Para impedir que a Covid-19 se propagasse ainda mais na sociedade, uma série de medidas foram adotadas desde o início da pandemia. Uma delas foi o pedido de isolamento social voluntário, tido como o mais eficaz meio de prevenção. Porém, o isolamento também provocou efeitos colaterais, mesmo para quem não chegou a contrair o vírus, apontou uma pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS).
Estudo avaliou o comportamento das pessoas durante a pandemia e especialistas alertam para o risco do sedentarismo e maus hábitos.
A obesidade atingiu 21,5% dos adultos nas capitais do país, segundo a pesquisa. | Reprodução |
Segundo o estudo “Doenças Crônicas e Seus Fatores de Risco e Proteção: Tendências Recentes no Vigitel”, em 2020, quando parte da população do país passou mais tempo dentro de casa, o sedentarismo ganhou força, assim como também o aumento do consumo excessivo de bebidas alcoólicas, desencadeando o surgimento de doenças crônicas como, por exemplo, a obesidade.
Além disso, o sedentarismo e também a ingestão
descontrolada de bebidas alcoólicas, podem ser fatores de risco para o
surgimento de problemas relacionados ao sistema cardiovascular, alertou o
médico cardiologista Alex Albuquerque. “O sedentarismo, por exemplo, dificulta
o tratamento de uma hipertensão arterial, favorecendo sua instalação que também
é outro fator de risco para doenças cardíacas”, disse.
O médico destacou ainda que o mau hábito pode levar
as pessoas a adquirirem outras doenças do coração como a aterosclerótica
coronariana que pode causar o infarto agudo do miocárdio e as ditas anginas
estáveis e instáveis. “O sedentarismo leva ainda aos quadros de obesidade que
também é reconhecidamente um fator de risco para eventos cardíacos”, diz.
Com relação ao consumo desregrado de bebidas
alcoólicas, o cardiologista lembra que os efeitos são específicos no sistema
cardiovascular. “O álcool no aparelho digestivo, em geral, como no fígado, é
muito lesivo, sendo um dos maiores responsáveis pelas doenças hepáticas. Já no
coração o excesso da substância provoca um efeito tóxico, proporcionando
arritmias e o comprometimento dos músculos cardíacos”, pontuou.
A pesquisa identificou que, em 2020, a obesidade
passou a atingir 21,5% dos adultos nas capitais do Brasil, com maior
prevalência nos Estados das regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Entre as cidades
com maior número de pacientes estão Manaus (24,9%), Cuiabá (24,0%) e Rio de
Janeiro (23,8%).
A médica endocrinologista, Lilian Silva, explica
que a obesidade é uma doença crônica e progressiva, relacionada principalmente
a uma alimentação com excesso de calorias, do próprio sedentarismo e também por
questões genéticas. “O quadro de obesidade tem sido progressivo ao longo dos
anos, não somente nesse período de pandemia, mas existe uma incidência
crescente da doença no Brasil e no mundo, por conta das mudanças do hábito
alimentar da população”, afirma.
A especialista lembra que o isolamento social
afetou diretamente a rotina das pessoas e seus hábitos alimentares. “Mesmo
aquelas que faziam atividades físicas pararam porque tiveram que se isolar. Sem
espaço adequado ou materiais ficou bem difícil. Na questão da alimentação,
temos a relação com o estresse psicológico da Covid-19. As pessoas ficaram mais
ansiosas e com medo, algo que acaba refletindo também na alimentação”,
PREVENÇÃO
Para prevenir o surgimento de novos casos de
obesidade e ajudar a diminuir os efeitos do vírus em um possível contágio, a
endocrinologista conta que é preciso adotar hábitos nutricionais mais
saudáveis. “Para melhorar o sistema imunológico é preciso se alimentar bem.
Então, deve-se evitar os industrializados e ingerir alimentos mais naturais
como as verduras, frutas e legumes. Coisas que você prepare em casa são sempre
preferíveis”, diz a médica.
Lilian
ressalta que a obesidade é uma doença que precisa ser tratada com muito
respeito e dignidade. “Existe muito preconceito contra o paciente obeso e
também contra o próprio tratamento. Muitas vezes, a obesidade é vista como uma
falta de compromisso consigo mesmo, e não é isso. Ninguém está ou escolhe ficar
obeso porque quer”, esclareceu a endócrino lembrando ainda que, muitas vezes, o
tratamento precisará da ajuda de outros profissionais como nutricionistas,
educadores físicos e psicólogos para acompanhar casos mais complexos.
Wesley Costa/ Diário do Pará
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