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Variante do Amazonas causa 90% dos casos de Covid no país.

É difícil acompanhar tantas informações sobre o novo coronavírus. Novas variantes, formas de contagio e evolução do vírus, passaram a ser um dos assuntos mais vistos ao longo deste mais de um ano e meio. A verdade é que o Brasil se tornou epicentro da pandemia.

Uma das únicas soluções para conter o surgimento de novas variantes é a adoção de medidas de distanciamento social efetivas ou pela vacinação.

Manaus viveu uma das situações mais complicadas com o novo coronavírus. Na imagem, o paciente grave é atendido no chão em pronto-socorro 28 de Agosto | Divulgação

Podemos atribuir parte da culpa ao surgimento das novas variantes. Uma das mais faladas é a P.1, descoberta no Amazonas, em janeiro, que teve relação direta com a alta incidência da doença no estado.

Ela se alastrou pelo Brasil e hoje responde por nove em cada 10 casos de covid-19. Porém, existem mais variantes espalhadas pelo país. Pelo menos 50 linhagens do novo coronavírus circulam entre nós, algumas que são, na verdade, variantes (ou seja, têm mudanças mais consolidadas que uma linhagem e com "assinatura" genética).

Somente no estado do Rio de Janeiro já foram identificadas 43 linhagens diferentes, de acordo com os dados da Rede Genômica Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Sendo o maior número para um estado. Em São Paulo foram 37.

Com todas essas mutações, o coronavírus foi mudando de cara no Brasil ao longo dos meses, e hoje seja dominado pela variante P.1 em um percentual inédito.

MUDANÇAS DE PERFIL

De acordo com a Fiocruz, ainda em março de 2020, quando a pandemia era iniciada no Brasil, a maioria das infecções ocorria pela linhagem B.1.1.28, com 171 (ou 31%) das amostras analisadas. Um mês depois, ela perdeu o topo para a B.1.1.33 — linhagem que teria uma pequena evolução em relação à rival.

Até setembro do ano passado, elas duas foram se revezando na liderança e dividindo o protagonismo.

Na ocasião surgiu a P.2, descoberta originariamente no Rio de Janeiro, ainda em agosto. Desde então, ela foi se espalhando, em dezembro, tomou a ponta como a variante que mais infectava no país: 41% do total de amostras naquele mês.

Em seguida, chegou a variante P.1, que acumula um poder de infecção duas vezes maior e potencial de escape imunológico. Em menos de três meses, ela tomou a dianteira, passando a liderar desde fevereiro.

Em abril, 91% das amostras sequenciadas eram da P.1, que conferem a ela um domínio inédito de uma variante.

"A P.1 tem mutações importantes que permitem que ela tenha melhor ligação ao receptor humano e maior resistência à neutralização pelos anticorpos prévios. Outras mutações ao longo do genoma podem ser também importantes, como a deleção na NSP6 [proteína que tem papel na multiplicação do vírus dentro das células]. Também é importante lembrar a maior carga viral observada nos pacientes, que foi até 10 vezes maior", afirma o virologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia e pesquisador responsável pela descoberta da P.1, Felipe Naveca.

"Fora isso, temos que pensar que a P.1 emergiu em um período de férias, o que pode ter facilitado sua disseminação pelo país, promovendo múltiplas entradas em vários estados, em especial pontos de ligação, como Rio e São Paulo", completa.

Variantes recém-descobertas

As mutações, que são alterações genéticas na estrutura do vírus, são capazes de ocorrer e conferir alguma vantagem adaptativa, como melhor transmissibilidade ou capacidade de furar imunidade adquirida. Quando essas mudanças oferecem maior possibilidade de reprodução, acabam se consolidando em substituição às outras cepas. Foi o que ocorreu com a P.2 e, depois, com a P.1.

Segundo Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale (RS), para que uma nova variante se consolide, alguns critérios têm de ser observados.

"Primeiro, tem de haver uma clara distinção das linhagens e variantes existentes nas chamadas análises filogenéticas — que são as 'árvores' que montamos para avaliar o parentesco de genomas. Essa variante deve se comportar como um 'galho' novo e separado", explica.

Vale ressaltar ainda, que a evolução do vírus pode ocorrer em decorrência também de fatores geográfico, que é a presença de forma consistente em uma determinada região no início da descoberta.

"É preciso haver evidências da circulação em uma determinada região, com um número considerável de casos. E, para linhagens, falamos de mutações características, que podem servir como uma 'assinatura', um conjunto de características únicas dessa nova variante", explica.

Nesse contexto, é bom alertar para a descoberta, nos últimos dias, da variante P.4 — que circula no interior de São Paulo — e com o diagnóstico da cepa indiana no Maranhão e em São Paulo.

“A P.4 seguramente está se transmitindo já de forma sustentada, mas não sabemos se vai se consolidar. Já a variante Indiana, por enquanto, só temos casos importados, ela não circula", Fernando Spilki, virologista e professor da Universidade Feevale.

Evolução de mutações preocupa

As variantes existentes no Brasil seguem em franco processo de evolução com suas mutações. As duas cepas nacionais P.1 e P.2, explica Spilki, já apresentam mutações que podem resultar em mais problemas.

"A P.1, por exemplo, deu origem a P.1-like. Os ramos dessas duas variantes que estão surgindo também são tema de investigação hoje. Há outras variantes possíveis em estudo, mas ainda precisamos fechar mais dados. Mas a P.1 e a P.2 já produz suas linhagens", diz.

Uma das únicas soluções para conter o surgimento de novas variantes é a adoção de medidas de distanciamento social efetivas ou pela vacinação — o que, no caso do Brasil, segue a passos lentos.

"Se a imunização fosse aplicada da maneira e da velocidade adequadas, iríamos ter menos riscos [de mutações]. Mas como a gente vacina muito lento, podemos ter problemas", diz.

Segundo Naveca, o cenário atual do Brasil fornece um ambiente ideal para que novas variantes surjam.

“Se não pararmos de dar chance ao vírus de evoluir, podemos pagar um preço ainda mais alto. Ainda não existe nada no sentido de furar imunidade de vacina, mas se dermos chance, isso não pode ser descartado", Felipe Naveca, virologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia.

Com informações do UOL

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