O Brasil só conseguiu vacinar até agora um terço das pessoas que integram grupos classificados como prioritários para a vacinação contra a Covid-19 e que já foram chamados para tomar a primeira dose, segundo um estudo feito por pesquisadores com base em dados do Ministério da Saúde.
Segundo os pesquisadores, é necessário vacinar 70% de toda a população para se ter mais segurança. No entanto, somente 30%, apenas dos grupos prioritários, foram vacinados até o momento...
Ligados à Rede de Pesquisa Solidária, os
especialistas calculam que 32% dos integrantes desses segmentos da população já
receberam a primeira aplicação, e somente 10% a segunda, considerados os
registros compilados pelo ministério nos primeiros 49 dias da vacinação, até o
último dia 6.
Os dados mostram que apenas 56% dos profissionais
de saúde, 54% das pessoas com mais de 80 anos de idade e 55% dos indígenas
conseguiram receber a primeira dose até agora, embora todos nesses grupos
tenham lugar garantido na frente da fila desde o começo da vacinação, em
janeiro.
Em segmentos que foram classificados como
prioritários desde o início, mas só recentemente foram chamados para tomar a
vacina, a cobertura ainda é reduzida. Somente 12% dos brasileiros entre 75 e 79
anos e 3% dos que têm entre 70 e 74 anos receberam a primeira aplicação até o
início deste mês.
"Falta vacina, mas falta também
organização", diz o professor Guilherme Loureiro Werneck, da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). "Temos dificuldades para alcançar até mesmo grupos que são
relativamente pequenos numericamente".
O estudo considerou 9 grupos que já foram chamados
para a vacinação, de um total de 29 inicialmente classificados como
prioritários pelas autoridades. Novos segmentos foram incluídos na lista desde
o início do ano, aumentando de 49 milhões para 77 milhões o número de pessoas
com preferência, pouco mais de um terço da população do país.
Os grupos que já podem tomar a vacina, que reúnem
cerca de 22 milhões de pessoas, são considerados mais vulneráveis ao
coronavírus por causa da idade e de outros fatores, ou por estarem muito
expostos a riscos, como médicos e enfermeiros que trabalham no enfrentamento da
pandemia.
Parte do problema é a inconsistência dos critérios
para estabelecer prioridades, dizem os pesquisadores. Embora todos os
profissionais da saúde possam entrar na fila, a insuficiência de vacinas tem
levado prefeituras e governos estaduais a vacinar primeiro os mais velhos ou
que estão na linha de frente.
O levantamento também aponta grande desigualdade
regional nos resultados alcançados até aqui. Quase dois terços das pessoas com
mais de 80 anos de idade já receberam a primeira dose no Norte e no
Centro-Oeste. No Nordeste e no Sul, a cobertura ainda é inferior à metade do
grupo populacional.
Até a primeira semana de março, o Ministério da
Saúde distribuiu 18 milhões de doses de dois imunizantes, desenvolvidos pela
AstraZeneca e pela Sinovac, que começaram a ser produzidos pela Fundação
Oswaldo Cruz e pelo Instituto Butantan no Brasil, com matéria-prima importada
da China, respectivamente.
O Ministério da Saúde já anunciou outros 183
milhões de doses para os próximos meses, incluindo as que serão fabricadas
pelos dois institutos públicos e as que poderão ser importadas de outros
laboratórios, alguns ainda em negociação com o governo. As previsões têm sido
revistas com frequência.
Nos cálculos dos pesquisadores, isso seria mais do
que suficiente para aplicar duas doses nos 77 milhões de pessoas dos grupos
considerados mais vulneráveis, mas não para atingir o grau de cobertura que
seria necessário para proteger o conjunto da população em idade adulta contra a
Covid.
Considerando a eficácia das vacinas que já foram
aprovadas para distribuição no país, os especialistas calculam que seria
necessário vacinar 70% da população para alcançar esse nível de segurança, o
que exigiria cerca de 320 milhões de doses, ou seja, muito mais do que o
governo prevê conseguir.
"Teremos mais vacinas nos próximos meses, mas
não conseguiremos alcançar a cobertura necessária com rapidez se continuarmos
fazendo as coisas sem coordenação", afirma Werneck, que trabalhou no
levantamento com Ligia Bahia, da UFRJ, e Mário Scheffer, da Universidade de São
Paulo (USP).
FOLHAPRESS
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