Em seu
primeiro discurso como candidato, Jair Bolsonaro (PSL) criticou os partidos do
centrão, a quem chamou de “escória”, e fez acenos a minorias.
Vestindo
um figurino mais palatável, o ex-capitão do Exército, que já defendeu o
fechamento do Congresso e o estupro de uma parlamentar, afirmou ainda que é o
“patinho feio” destas eleições, mas que será “bonito” em breve.
Ungido
como postulante do Partido Social Liberal em convenção realizada no início da
tarde de ontem, no Rio de Janeiro, Bolsonaro, 63 anos, falou por quase uma
hora.
Em sua
manifestação, a primeira depois de oficializado como candidato, o líder das
pesquisas de intenção de voto nos cenários sem Lula agradeceu ao pré-candidato
tucano Geraldo Alckmin por ter “juntado ao seu lado a nata do que há de pior no
Brasil”.
O
parlamentar carioca referia-se ao centrão, bloco formado por DEM, PP, PR, PRB e
SD. Indeciso entre Alckmin e o nome do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) até a
quinta da semana passada, o grupo, capitaneado por Valdemar Costa Neto,
condenado no mensalão, fechou apoio ao ex-governador de São Paulo. O anúncio
oficial deverá ser feito na próxima quinta-feira, 26.
Ainda sem
alianças firmadas e sob risco de isolamento, Bolsonaro, cujo tempo de exposição
na propaganda eleitoral gratuita é de 7 segundos, manteve conversas com o PR de
Costa Neto até a véspera da decisão do blocão de se coligar ao PSDB.
Entre os
presentes à convenção do parlamentar nesse domingo, havia dois integrantes do
centrão: o senador e cantor evangélico Magno Malta (PR-ES), que recusou o posto
de vice na chapa do militar; e o deputado federal Onyx Lorenzoni (RS), do DEM.
Ao lado da
professora universitária Janaína Paschoal, cotada para vice e de quem ouviu
conselho para que ampliasse diálogo com grupos de pensamento divergente – a
critica produziria o primeiro ruído entre Janaína e defensores do militar –,
Bolsonaro também ensaiou moderação. Durante o discurso, o candidato acenou para
gays, negros e mulheres e disse que pretende unir o Brasil de norte a sul.
“Todos nós
viemos do ventre de uma mulher. Sequer teríamos nascido se não fosse o amor
delas”, disse Bolsonaro antes de prometer atenção especial às mães solteiras
num eventual governo.
Mas logo
se mostrou ligado ao conservadorismo que o levou ao topo das sondagens
eleitorais ao afirmar que “o que realiza uma mulher é um filho”.
Sobre a
acusação frequente de que não estaria preparado para governo, o candidato
respondeu: “Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos”.
Em
seguida, brincou: “Me coloque numa sala com Dilma e Lula e aplique a prova do
Enem. Se eu não tirar uma nota maior que os dois juntos, não estou preparado”.
Embora
tenha se esforçado por amenizar o tom de sua fala, o núcleo central da retórica
de Bolsonaro permanece o mesmo: fortalecimento dos militares, que, segundo ele,
terão presença garantida no seu governo ocupando ministérios; defesa dos
valores ligados à família; rejeição ao comunismo; e apelo à ética religiosa.
Pré-candidato
do PSL ao Governo do Ceará, o advogado e professor Helio Góis negou que
Bolsonaro esteja sozinho. “De forma alguma (o candidato) está isolado. O
problema é que são poucos os partidos formados por pessoas de bem. Queremos
candidatos que sejam ficha-limpa”, disse.
O POVO -
HENRIQUE ARAÚJO
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