No início de cada ano, as esperanças do homem do campo se renovam com a expectativa da chegada do inverno. Após cinco anos seguidos de seca, o maior desejo dos agricultores cearenses é enxergar o verde no lugar do cinza dos galhos e plantações secas da Caatinga. Para 2017, a expectativa é de boas chuvas. Os agricultores no campo estão animados e, em algumas regiões, já começam a preparar a terra e plantar.
Neste município distante cerca de 220 km de Fortaleza, para quem vive do que planta, a chegada da chuva gera uma ansiedade ainda maior. A região é uma das que mais sofreram durante os anos de seca e boa parte dos agricultores perdeu o que investiu. O agricultor familiar Raimundo Lima do Nascimento, 65, compõe a lista de quem viveu este drama. "Plantei milho, feijão, jerimum e não deu nada", contou. "O pouco do dinheirinho que eu tinha, investi comprando semente, mas não deu certo". Nascimento disse esperar a volta das chuvas. "Eu tenho família pra dar de comer".
As perdas só não foram maiores porque Raimundo Lima teve dívidas perdoadas pelo governo e se beneficiou do Garantia Safra. Outra iniciativa que lhe ajudou foi o programa Hora de Plantar, que distribui sementes para os agricultores cadastrados. Ele se inscreveu no ano passado e espera receber logo as sementes. "Este ano eu vou tentar de novo. Tenho fé que Deus vai abençoar e a gente vai ter um inverno bom para tirar uma safra de feijão".
Aliado ao homem do campo, o programa Hora de Plantar vai atender, na edição deste ano, cerca de 150 mil famílias. Os números são do governo do Estado do Ceará. O lançamento da edição deste ano do programa aconteceu no fim de 2016, na cidade de Crato, mas a distribuição das sementes ainda não começou na maioria dos municípios. Das 184 cidades, não participam do programa somente Fortaleza e Eusébio, que não têm zona rural.
A ação contempla investimento do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop), no valor total de R$ 17,2 milhões. Em 2017, o Hora de Plantar vai distribuir 3.217 toneladas de sementes de milho híbrido, milho variedade, sorgo forrageiro, feijão e mamona, além de mais de sete milhões de mudas de cajueiro anão precoce, essências florestais, nativas e exóticas, além de palma forrageira, para aqueles que solicitaram.
De acordo com a coordenadora de Desenvolvimento da Agricultura Familiar da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), Neiara Laje, as sementes já estão nos depósitos regionais e escritórios da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematerce), no Interior. "Na região do Cariri e em Tianguá e Ubajara, a distribuição já começou para os agricultores".
Neiara Laje observou que, neste ano, houve mudança a partir de recadastramento dos agricultores, com aumento na demanda em relação aos anos anteriores. "As primeiras chuvas começaram e os produtores rurais querem aproveitar, plantar logo". Na região de Iguatu, a partir da próxima semana, as sementes serão distribuídas para as unidades da Ematerce e também serão entregues aos agricultores.
A distribuição de sementes e mudas é realizada pela SDA e Ematerce, objetivando o aumento de renda e garantia de segurança alimentar de milhares de cearenses. As sementes são disponibilizadas para os produtores nos escritórios ou postos avançados da Ematerce.
As mudas são entregues diretamente nas comunidades rurais dos municípios. Somada às chuvas da pré-estação, que causaram um volume bem acima da média se comparado ao mesmo período de anos anteriores; e também com o prognóstico da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), que prevê 40% de chances de chuvas dentro da média para o inverno de 2017, a esperança dos agricultores se fortalece ainda mais.
Quintal
Alguns produtores já passam a driblar a seca com o cultivo de pequenas plantações e hortas no quintal de casa. Do plantio, tiram o alimento para a família e ainda geram uma pequena renda com a venda das verduras e legumes. Outros, recorrem ao cultivo da palma forrageira para alimentar o gado. O Hora de Plantar prevê a distribuição de sete milhões de raquetes de palma este ano. Mais de dois milhões e meio já foram entregues.
Na zona rural de Jaguaretama, já no limite com Banabuiú, o agricultor Antônio Erenildo Sampaio mantém uma horta em casa. Ele realizou um pequeno investimento e hoje é autor de uma proeza na região. "Até eu fico um "pouco impressionado com esse campo verde", diz. "Foi fruto de muito trabalho e das bênçãos de Deus e se Ele quiser vai ter chuva para gente conseguir uma boa safra".
Sem êxito
Vários agricultores da região em que Antonio Erenildo mora também tentaram plantar, mas não obtiveram êxito. A falta d'água na região é o principal empecilho. Com as válvulas de liberação da água do Açude Arrojado Lisboa fechadas, o rio que passa pela região secou, e muitos vivem até hoje uma situação delicada e difícil. "A gente espera que as coisas melhorem. A gente planta é para viver e espera que neste ano as chuvas sejam boas".
HONÓRIO BARBOSA
COLABORADOR
Fonte: Diário do Nordeste
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