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PT vira à esquerda, Lula acena à direita: o que está por trás dessa aparente contradição

Partido retoma discurso de defesa do socialismo anterior à chegada à Presidência. Lula tenta reeditar aliança com setores mais conservadores da sociedade que o levou ao poder em 2002.
Enquanto o PT dá uma guinada à esquerda e retoma a defesa do socialismo que marcava seu discurso de antes de chegar à Presidência, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ensaia caminhar no sentido oposto para reeditar na campanha de 2018 a estratégia vitoriosa da eleição de 2002 – marcada pelo lema “Lulinha, paz e amor” e pela aliança com setores mais conservadores da sociedade. Mas a aparente contradição faz parte da estratégia eleitoral: agregar o maior número possível de apoios em torno de Lula. Não importa a linha ideológica.
Na caravana pelo Nordeste, encerrada no início de setembro e que reeditou as viagens que o ex-presidente fez pelo país antes da campanha de 2002, Lula agiu na linha “paz e amor”, buscando fortalecer os laços emocionais com seu eleitorado. E dois movimentos recentes do ex-presidente indicam que ele tenta reconstruir pontes com segmentos mais à direita da sociedade, sobretudo com o empresariado e líderes de partidos da base do presidente Michel Temer (PMDB).
Lula se reaproximou do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Vem “seduzindo” o ex-senador e ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). E está sondando, para compor sua chapa em 2018, o empresário Josué Gomes da Silva (PMDB-MG), que é filho do ex-vice-presidente José Alencar, com quem Lula fez dobradinha eleitoral em 2002 e 2006.
Amigo do setor produtivo
Na campanha de 2002, Lula se afastou da imagem de radical de esquerda para vencer a eleição – depois de ter perdido as disputas pelo Planalto de 1989, 1994 e 1998. Lançou a Carta aos Brasileiros para se comprometer com a manutenção da estabilidade econômica conquistada nos anos Fernando Henrique Cardoso na Presidência. Moderou o discurso. Deixou de lado a “raiva” contra os empresários. E escolheu a dedo um deles para ser seu vice: José Alencar, dono da Coteminas – indústria do ramo têxtil. Foi uma demonstração de que Lula não seria hostil ao setor produtivo. Deu certo e ele se elegeu.

As conversas para que o filho de Alencar seja o vice de Lula têm o mesmo objetivo que em 2002. No PT, a avaliação é de que Josué pode ajudar o ex-presidente a reconquistar a confiança dos empresários. Como é improvável que o PMDB se coligue oficialmente com o PT no ano que vem, a articulação é para que Josué se filie ao PR – partido que atualmente apoia o governo Temer, mas que admite se aliar ao PT em 2018. Em 2002, o PR se chamava PL e era o partido no qual José Alencar estava filiado.
Dissidência do PMDB
Na primeira eleição de Lula, o petista também costurou apoios de peemedebistas mesmo não tendo o PMDB em sua chapa – o partido esteve coligado com o PSDB do adversário José Serra. Na época, o então senador peemedebista José Sarney apoiou Lula.
Agora, o ex-presidente volta a estreitar relações com caciques do PMDB insatisfeitos com os rumos do partido. Um deles é Renan Calheiros. O senador alagoano e seu filho, o governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), foram recepcionar Lula na chegada do petista ao estado durante a caravana pelo Nordeste. Renan trocou afagos com Lula. O senador disse que o petista fez um “governo do povo para o povo, diferentemente deste governo de agora”.
O ex-presidente retribuiu elogiando Renan. E, em entrevista a uma rádio de Pernambuco, defendeu o senador das acusações que pesam contra o alagoano na Lava Jato: “Sou da opinião de que todo mundo é inocente até que se prove o contrário”. Sarney também foi alvo dos elogios de Lula na entrevista. “Sou grato a Sarney. É importante que se diga. Sou grato a Sarney como presidente do Senado”, disse o petista.
A reaproximação de Lula com Renan e Sarney também pode ser entendida como uma tentativa de fragmentar o partido de Temer – que, dentre as muitas divisões internas, tem o chamado PMDB do Senado e o da Câmara. Temer sempre comandou os deputados peemedebistas. Sarney e Renan são líderes dos senadores do partido.
Análise: o que está por trás dos movimentos de Lula?
O cientista político Mário Sérgio Lepre, professor da PUCPR, avalia que neste momento a estratégia de Lula é tentar agregar ao máximo o número de aliados. Segundo Lepre, o ex-presidente sabe que a campanha eleitoral do ano que vem não será fácil pare ele, pois Lula é popular mas também tem alta rejeição. Por isso ele precisa ter um amplo leque de apoios, mesmo que não sejam do campo da esquerda. O cientista político afirma que Lula é muito mais um populista do que um esquerdista.
Lepre diz ainda que a guinada à esquerda do discurso do PT, por sua vez, pode ser parte da estratégia eleitoral do partido. Nesse caso, para tentar agregar a esquerda em torno de Lula. Mas, para o professor da PUCPR, a defesa do socialismo pode ser arriscada. “Não sei até que ponto ficar defendendo o Maduro, por exemplo, não é um tiro no pé do PT.”

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