Um grupo de 16 congressistas americanos assinou uma carta ao presidente Joe Biden nesta quinta-feira (4) solicitando a retirada de sigilo de 13 documentos confidenciais dos EUA sobre a ditadura militar brasileira.
A seleção foi feita por organizações brasileiras envolvidas em uma campanha desde o ano passado para que Washington libere os documentos.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden | Ricardo Stuckert/PR
Os arquivos datam de 30 de
março, véspera do golpe, a 9 de abril de 1964, mostra o pedido ao qual a Folha
teve acesso antecipado. A seleção foi feita por organizações brasileiras
envolvidas em uma campanha desde o ano passado para que Washington libere os documentos.
A carta, enviada também ao
secretário de Estado, Antony Blinken, usa duas efemérides para reforçar seu
pedido: os 60 anos do golpe, completos no último domingo, e os 200 anos de
relações diplomáticas entre Brasil e EUA, celebrados no próximo mês.
"A queda da democracia
brasileira e a subsequente ditadura foram marcadas por atrocidades e pelo abuso
sistemático dos direitos humanos. A transparência sobre o papel dos EUA no
golpe e na ditadura é uma parte fundamental do processo de verdade e reconciliação
para este período sombrio", diz à Folha a deputada Nydia Velázquez, que
capitaneou a iniciativa em conjunto com a colega Susan Wild.
Todos os signatários da carta
enviada nesta quinta são do Partido Democrata. Estão na lista Alexandria
Ocasio-Cortez, um dos nomes de maior projeção da esquerda dos EUA, Rashida
Tlaib, a única palestino-americana do Congresso, e Jim McGovern, co-presidente
da Comissão de Direitos Humanos que recentemente barrou uma audiência sobre
Brasil com a presença de bolsonaristas.
Completam a lista os deputados
Jamaal Bowman, Cori Bush, Greg Casar, Joaquin Castro, Chuy García, Raúl
Grijalva, Hank Johnson, Barbara Lee, Janice Schakowsky, Juan Vargas e Jamie
Raskin.
Na carta, os congressistas
apontam que, no aniversário de 50 anos do golpe no Chile, em agosto do ano
passado, os EUA retiraram o sigilo de documentos relacionados ao início da
ditadura de Augusto Pinochet.
"Acreditamos que um
esforço comparável relacionado ao Brasil é tão oportuno quanto necessário. A
desclassificação de documentos relacionados ao período da ditadura brasileira
não só enriquecerá o conhecimento histórico, mas também fortalecerá o
compromisso dos EUA com os valores democráticos e os direitos humanos",
escrevem.
Em julho de 2023, um grupo
formado por 14 organizações brasileiras e 2 americanas enviou um pedido
semelhante a Biden, sem sucesso. Entre as entidades estão Artigo 19, Comissão
Arns, Instituto Vladimir Herzog e Washington Brazil Office (WBO).
Velázquez promoveu, em parceria
com o WBO, uma audiência virtual no Congresso americano sobre a
desclassificação dos documentos em dezembro passado.
Procurado pela Folha na época,
o Departamento de Estado afirmou que a desclassificação de documentos é um
processo complexo e que envolve diversas agências, "durante o qual nós
devemos considerar muitos fatores relacionados a segurança nacional, proteção
de fontes e métodos, e outros riscos e benefícios de divulgar informações
específicas".
A participação dos EUA já foi
documentada por historiadores. O embaixador dos EUA no Brasil em 1964, Lincoln
Gordon, propôs o envio de uma força naval para a costa brasileira para ajudar
as tropas que derrubariam João Goulart (1961-1964), na Operação Brother Sam. A
ação foi aprovada pelo governo Lyndon Johnson, mas Goulart caiu antes que os
navios chegassem.
Também está registrado o
conhecimento dos EUA das violações de direitos pelo regime. Arquivos da
embaixada americana de 1975-1976 publicadas pelo WikiLeaks apontaram que a Casa
Branca sabia das violações de direitos humanos, mas minimizavam como exceções
para justificar a continuidade do apoio e de treinamento militar das forças
brasileiras. Os Estados Unidos também deram apoio à Operação Condor, que criou
uma rede para operações coordenadas de repressão nas ditaduras do Cone Sul.
VEJA OS DOCUMENTOS LISTADOS NA
CARTA PARA QUE O SIGILO SEJA RETIRADO:
São Paulo 212 Withdrawal -
Março 30, 1964, "From São Paulo"
Rio 2114 withdrawal - Março 30,
1964, "National Security Info"
Rio 2121 withdrawal - Março 31,
64, "National Security Info"
Brasília 131 Withdrawal - Abril
1, 64, "National Security Info"
Rio 2143 withdrawal - Abril 1,
64, "National Security Info"
Rio 2128 withdrawal - Abril 3,
64, "National Security Info
Systematic review withdrawal
card no. POL35-6 - Abril 4, 1964, "National Security Info"
Golpe Withdrawal - Abril 4, 64,
"National Security Info"
Systematic review withdrawal
card no. POL35-5 - Abril 6, 64, "National Security Info"
Systematic review withdrawal
card no. POL35-4 - Abril 8, 64, "National Security Info"
Systematic review withdrawal
card no. POL35-4 - Abril 8, 64, "National Security Info"
Systematic review withdrawal
card no. POL35-3 - Abril 8, 64, "National Security Info"
Rio 2223 withdrawal notice -
Abril 9, 1964, From Rio
Autor:FERNANDA
PERRIN-FOLHAPRESS
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