O sítio Barrocas é tipicamente uma vila de pescadores, das
quase 100 famílias que moram por lá, mais de 80 delas trabalham com a pesca,
com a confecção de covos (armadilha para pegar camarão), de redes, consertos
das malhas de ‘nylon’ que facilmente voltam de cada pescaria com alguma avaria,
para isso tem as mãos habilidosas de muitas mulheres e também homens que
consertam o próprio equipamento de trabalho, mas é comum avistar por lá donas
de casas, pescadoras confeccionando ou fazendo algum reparo nas malhas.
Entre essas conhecemos dona Chica, de 70 anos
(Francisca César da Silva) que estava fazendo um reparo na rede de pesca do
filho. De acordo com ela, que nasceu e foi criada na comunidade, muitos
moradores além de aprender a pescar aprendem ainda na infância a fazer esse
tipo de serviço. “Quando meu esposo pescava, ele pagava para consertar,
comprava. Mas depois aprendi a fazer a remendar, a fazer, tem muita gente que
me procura para remendar, só que eu remendo só para o meu menino, que pesca.
Mas, hoje está bem mais fácil, porque a gente compra a linha feita e só
‘entraia’, que é colocar a boia e o chumbo na rede”, explicou dona Chica, sem
perder a concentração no trabalho.
Mais adiante, na casa vizinha Elenilda Felipe Saraiva, 40, estava também
confeccionando uma rede de pesca, colocando chumbo e as boias. “Desde pequena a
gente fazia a fita. Hoje já é comprada feita. Mas, ‘entraiar’, que é fazer o
galão, aprendi mesmo depois de adulta. Para fazer um galão leva cerca de um dia
completo, equipamento com 75 metros”, ressaltou Elenilda que ganha uma renda
que ajuda no sustento da casa. Em média cobra R$ 20,00 por cada fica feita. “Eu
não faço a fita, a pessoa já traz ela pronta eu monto o galão, que é colocar
chumbos e boias. Tem gente que compra de fabrica pronto, mas têm outros que
preferem que a gente mesmo faça manual. Dá trabalho, mas é um dinheiro que
ajuda a gente”, comentou Elenilda que também é pescadora.
Pescadores
Nas margens do açude Orós dois pescadores tinham acabado de vir da lida.
Seu Jodacir Ferreira, 60, e Evanilson Silva, 43, falaram um pouco sobre como é
tirar o sustento da pesca artesanal. “Hoje eu já estou aposentado, mas continuo
tirando da pesca uma ajudar para manter a família. Já vi esse Orós de todo
jeito, cheio demais, seco, muito seco, nesse período que a gente vive aqui.
Agora, está bom demais. Está mais difícil, só o comprador, mas o trabalho está
bom demais, graças a Deus. Do jeito que está, a gente pesca em todo canto. Onde
tiver peixe a gente vai. Com a canoa a motor fica mais fácil a lida na água. A
gente sobrevive daqui. Se pegar a gente tem alguma coisa, se não pegar não tem
nada, só custos. É ruim para quem não tem nenhum ganho. Mas a gente sempre vem
tirando alguma coisa”, pontuou seu Jodacir.
Fala também compartilhada pelo pescador Evanilson Silva, cuja única
renda é da pesca, por isso diariamente está navegando pelas águas do Orós, em
busca do pescado, do camarão. “Aqui é variável. Tem semana que a gente pega
bem, tem outra que é mais fraca. Já teve período da gente tirar mil reais por
semana, teve uma época boa, mas agora está bem mais fraco. Tem o peixe dos
criatórios que atrapalha a gente que pesca artesanal. Eles têm mais comércio
que o nosso, é mais fácil para quem criar, do que quem pesca. É difícil, mas
enquanto a gente puder, vamos lutando. As despesas são altas, com gasolina,
rede que rasga, tem o sal, o puim, gasolina pro barco. Tem tudo isso, que a gente gasta, por
exemplo de tirar R$ 400,00 por semana, a metade vai embora, mas é o nosso
trabalho”, ressaltou Evanilson Silva.
Cadeia produtiva
“Aqui somos 96 famílias, sendo que 85 delas vivem da pesca artesanal.
Vivemos num local abençoado, onde todas as famílias tiram daqui seu alimento,
calçado, vestir, desse trabalho graças ao açude Orós que está mais com 52%. A
gente espera que este ano seja melhor ainda de chuva para aumentar a água no
açude para fomentar ainda mais nossa cadeia produtiva da piscicultura. Tem o
que tece, ‘entraia’, conserta o galão, pesca, caça camarão. Tudo isso aqui
envolvendo o açude Orós, esse gigante tão importante para nossa comunidade”,
destacou o presidente da Associação de Moradores do Sítio Barrocas, Evanilson
Saraiva.
O açude Orós terminou em 2023 com 52,67%. Última vez que o segundo maior
açude do estado atingiu essa marca foi em 18 de julho de 2013, com 52,60%,
conforme dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos – COGERH.
Jornal a Praça
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