O crescimento da economia brasileira neste ano deve ficar abaixo da alta de 2,9% acumulada em 2022 pelo PIB (Produto Interno Bruto), dizem analistas. Por ora, projeções sinalizam um avanço próximo de 1% em 2023.
Atividade acumulou alta de 2,9% em 2022, conforme IBGE.
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). | Reprodução/ Internet
As estimativas mais pessimistas estão associadas
principalmente aos impactos defasados dos juros altos, que encarecem o crédito
para famílias e empresas. O impacto da política monetária mais restritiva ficou
mais evidente a partir da reta final do ano passado, já que o PIB encolheu 0,2%
no quarto trimestre.
Foi o primeiro recuo após cinco trimestres no azul,
segundo os dados divulgados nesta quinta-feira (2) pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística).
Conforme analistas, o fim do estímulo da reabertura
econômica após as restrições da pandemia, a desaceleração global e o
endividamento das famílias completam a lista de fatores que tendem a frear o
PIB em 2023, o primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"O resultado de 2022 foi muito bom, com
crescimento forte, mas que não deve se repetir em 2023. Nenhum fundamento
mostra que isso vá acontecer ao longo deste ano", diz a economista Juliana
Trece, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio
Vargas).
"O ano de 2023 deve ser bem mais desafiador.
Os juros estão em níveis elevados, o endividamento das famílias bateu
recorde", acrescenta.
No ano passado, o PIB foi impulsionado pelo setor
de serviços e pelo consumo das famílias. Esse movimento veio após a derrubada
de restrições da pandemia.
As medidas adotadas pelo governo Jair Bolsonaro
(PL) devido às eleições, como ampliação do Auxílio Brasil e cortes de impostos,
também provocaram reflexos momentâneos, dizem economistas.
"O último trimestre do ano foi de encolhimento
do PIB. Isso mostra que os elementos que fizeram a economia crescer em 2022 não
vão repercutir em 2023", avalia a economista Juliana Inhasz, professora do
Insper.
"Apesar da alta dos juros, algumas políticas
conseguiram estimular a economia, mas não são suficientes para a volta de uma
trajetória de crescimento. Não dá para continuar crescendo dessa forma com a
população endividada do jeito que está hoje", acrescenta.
Em relatório, a consultoria MB Associados também
chama atenção para o recuo do PIB no quarto trimestre de 2022. Segundo a
análise, o resultado indica perda de fôlego da economia.
"As razões são relativamente conhecidas: taxa
de juros elevada, cenário internacional de alta de juros e desaceleração de
crescimento, commodities em baixa, especialmente petróleo e mineração, e fim
dos efeitos fiscais da tentativa de reeleição do ex-presidente Bolsonaro",
afirma a MB.
A consultoria prevê expansão "pequena" de
1% para o PIB deste ano. "Certamente o efeito marcante de impacto na
economia este ano continuará sendo a taxa de juros", diz.
Enquanto o setor de serviços tende a perder fôlego,
a agropecuária deve ter destaque positivo em 2023, de acordo com economistas. A
projeção está associada à estimativa de safra recorde neste ano, após quebra em
2022.
"Embora não tenha um peso tão alto na
economia, a expectativa é que a agropecuária tenha um resultado forte. Produtos
importantes como a soja têm perspectiva de crescimento neste ano", aponta
a economista Juliana Trece, do FGV Ibre.
O C6 Bank também prevê alta de 1% para o PIB de
2023. Segundo Claudia Moreno, economista do banco, esse desempenho "pode
ser um pouco melhor" com o impulso da safra de grãos e dos benefícios
sociais que devem ser pagos pelo governo Lula.
Na mediana, analistas do mercado financeiro esperam
alta de 0,84% para o PIB neste ano, conforme a edição mais recente do boletim
Focus, divulgada pelo BC (Banco Central) na segunda-feira (27).
Em fevereiro, a decisão do BC de manter a taxa
básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano motivou uma ofensiva de Lula contra o
presidente da instituição, Roberto Campos Neto. O petista chegou a dizer que o
patamar da Selic é uma "vergonha".
Para a Firjan (Federação das Indústrias do Estado
do Rio de Janeiro), a perda de fôlego do PIB ao longo de 2022 "corrobora
os desafios aguardados para este ano".
"Embora tenha ocorrido uma ligeira melhora no
cenário internacional por causa da reabertura da China e da adaptação, melhor do que a
esperada, à crise energética da Europa as condições financeiras
apertadas, aqui e no exterior, mantêm a perspectiva de baixo crescimento",
diz a entidade.
LEONARDO
VIECELI - EDUARDO CUCOLO/ FOLHAPRESS
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