Tomar um pouco de água durante o banho de chuva é um hábito comum na infância e pode parecer inofensivo. Mas apesar de parecer limpa, a água das chuvas pode ser bastante poluída.
É possível reutilizar a água
das chuvas em algumas situações. Para fazer o reuso em casa de forma segura, é
necessário fazer o tratamento corretamente.
O Diário do Nordeste tirou as
principais dúvidas sobre o processo com Michael Barbosa Viana*, professor do
Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e
Ronaldo Ferreira**, professor do Departamento de Química Analítica e
Físico-Química da mesma universidade.
É SEGURO TOMAR ÁGUA DE CHUVA?
A água da chuva não é potável e
pode conter impurezas. Dessa forma, ao bebê-la, a pessoa assume o risco de
contrair doenças, como as gastro-intestinais.
"Quando a água precipita,
ela leva consigo as fuligens, partículas que estão na atmosfera, que podem
causar algum dano ao organismo", explica Michael.
Outro fator fundamental que
interfere da qualidade da água é a estrutura onde ela é captada. Se a água cai
sob um telhado e é coletada por calhas, por exemplo, o líquido irá conter as
impurezas presentes nessas superfícies.
Entre os elementos de telhados
que podem contaminar a água, estão urina de animais - como ratos, pássaros e
gatos - bactérias e fungos. Dessa forma, os especialistas não orientam o
consumo da água da chuva.
Tomar água da chuva de forma
direta é muito arriscado. O mais recomendável é utilizar para usos que oferecem
menos riscos, que teriam uma dose infectiva menor, como, por exemplo, para
tomar banho, para cozinhar
MICHAEL BARBOSA VIANA
Doutor em Engenharia Civil pela
UFC
De acordo com Ronaldo Ferreira,
na água da chuva é possível encontrar substâncias como gases (amônia) e ácidos
(sulfúrico e nítrico), além de bactérias, vírus e material particulado de
sólidos ou líquidos. O docente ainda ressalta que a qualidade da água difere
nas áreas rurais e urbanas, já que os grandes centros possuem maior
concentração de poluentes.
O engenheiro Michael Barbosa
Viana cita que, ao tomar banho de chuva, o indivíduo pode contrair doenças de
pele, como dermatite. Durante o banho, inclusive, pode ocorrer a ingestão da
água por engano, aumentando os riscos. Ronaldo Ferreira dialoga explicando que
a ingestão pode fazer com o que o indivíduo contraia doenças como cólera e
disenteria, patologias intestinais causadas por bactérias, que podem provocar
diarreia, febre e vômito.
As chances de contaminação são
ainda maiores nos primeiros minutos de chuva ou em chuvas que ocorrem após
longos períodos de seca. Isso ocorre porque os telhados e calhas acumulam
sujeira com o tempo, concentrando ainda mais componentes nocivos.
BENEFÍCIOS DO REAPROVEITAMENTO
DA ÁGUA DA CHUVA
Um dos principais benefícios do
reaproveitamento da água da chuva é a redução do consumo de água encanada. Com
isso, consumidores residenciais, comércios e indústrias podem economizar nas
contas.
Além disso, o maior
aproveitamento da água da chuva em uma cidade ou estado pode diminuir o consumo
dos rios e açudes, utilizados para o abastecimento público.
Para reaproveitar a água que
cai nas chuvas, é necessário ter um sistema de coleta, com calhas e tubulações,
que direcionam a água da superfície (telhado) para o reservatório principal.
É comum que se reutilize a água
que cai do céu para lavar carros, pisos e paredes. A redução do consumo da água
encanada, nesses casos, pode ser significativa.
COMO TRATAR ÁGUA DA CHUVA?
O tratamento da água de chuva
varia conforme as suas características, aponta Michael. "Vamos colocar
como hipótese que as principais impurezas da água da chuva sejam partículas
sólidas (fuligens e impurezas do telhado), é necessário fazer a
filtração", explicou o especialista.
O próprio reservatório pode
servir para uma filtragem inicial, já que, devido à gravidade, as partículas
maiores vão para o fundo do depósito. Posteriormente, é necessário filtrar o
líquido de forma mais específica.
Os filtros podem ser instalados
na própria tubulação, para que a água caia no reservatório já livre das
partículas sólidas.
Alguns objetos domésticos podem
ser utilizados para realizar a filtragem da água, conforme explica o Manual
para Captação Emergencial e Uso Doméstico de Água de Chuva, desenvolvido pelo
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Entre eles, estão: telas de nylon,
como as utilizadas em coadores de café, e meias de seda.
O uso de tecidos de algodão no
processo é desaconselhado, já que eles retêm sujeira nas fibras, onde fungos e
bactérias podem se desenvolver.
Após a filtragem, a água deve
ser direcionado a um reservatório limpo para ser clorada. O cloro pode ser
utilizado em grãos, pastilhas ou líquido.
A dosagem do cloro deve ser de
0,5 mg de cloro para cada litro de água. O tempo de aplicação deve ser de, no
mínimo, 30 minutos.
COMO ARMAZENAR ÁGUA DA CHUVA
Para armazenar água da chuva, o
recomendado no manual do IPT é considerar o espaço disponível na residência e
quanto a família poderá gastar com o armazenamento. Assim, é possível decidir
qual o recipiente apropriado.
Entre as opções, o professor
Ronaldo Ferreira cita as cisternas e minicisternas. “O sistema de armazenamento
[minicisterna] pode ser feito com uso de tambores limpos, que devem ser
mantidos ao abrigo da luz para impedir o crescimento de micro-organismos, como
algas e bactérias”, explica, ressaltando que os tambores deverão ter torneiras,
facilitando o esvaziamento e a limpeza dos recipientes.
CUIDADOS PARA ARMAZENAR ÁGUA DA
CHUVA
O manual do IPT faz ainda
alguns alertas quanto aos cuidados na hora de armazenar água da chuva:
• O reservatório deve ser mantido longe do alcance de crianças,
evitando que elas possam virá-lo sobre si ou se afogar.
• É importante apoiar, totalmente, a base do recipiente em uma
superfície plana e nivelada, para que ele não possa cair ou romper.
• O reservatório deverá ser mantido longe da luz e do calor,
impedindo o desenvolvimento de algas.
• O local onde o recipiente for colocado deve ser capaz de
aguentar seu peso, principalmente se for em telhados ou lajes.
• O reservatório tem que permanecer bem tampado.
*Michael Barbosa Viana é doutor
em Engenharia Civil (Saneamento Ambiental) pelo Departamento de Engenharia
Hidráulica e Ambiental (DEHA) da Universidade Federal do Ceará (UFC), professor
do Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR) e docente Permanente do Programa de
Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais/UFC
**Ronaldo Ferreira é graduado
em Química Industrial pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e doutor em
Química Analítica pela Universidade de São Paulo (USP). Atua como professor na
UFC, tendo experiência no Desenvolvimento de Métodos Cromatográficos (análise
de resíduos de agrotóxicos em água e alimentos), em Química Ambiental (análise
de traços), em Adsorção (remoção de poluentes de efluentes aquosos utilizando
adsorventes naturais); e em Processos Oxidativos Avançados (tratamento de água
e efluentes).
DN
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