As vacinas são essenciais e eficientes no tratamento e prevenção de diversas doenças. O uso delas se tornou uma estratégia na busca de tratamento para doenças autoimunes e alguns tipos de câncer. Já em relação a doenças neurodegenerativas, os estudos para o desenvolvimento de vacinas teve impulso há seis anos.
Após algumas falhas, cientistas voltam a desenvolver vacinas que buscam ajudar pessoas acometidas pelo Alzheimer.
Pesquisa de vacinas contra Alzheimer apresentam resultados promissores. | Reprodução
De
2017 para cá, já foram aprovados cinco ensaios clínicos de produtos que,
atualmente, já concluíram a fase 1 (avaliação de segurança) ou fase 2
(avaliação de resposta imune). Após algumas falhas, as pesquisas de vacinas
contra o Alzheimer, por exemplo, voltaram a apresentar resultados promissores.
Atualmente, já existe oito projetos que estão em fase de teste em humanos.
Ao
invés de vírus ou bactérias, no Alzheimer, esses agentes são proteínas
envolvidas nas reações bioquímicas ligadas à doença que mata neurônios e afeta
a memórias. Em relação aos efeitos das vacinas, elas agem usando antígenos, que
são pedaços de moléculas selecionados para ensinar o sistema imune a atacar
agentes patogênicos.
Placas indesejadas
Durante
os estudos, três das vacinas que já estão em teste foram projetadas para atacar
a beta-amiloide, que trata-se de uma molécula que se acumula em forma de placas
entre os neurônios, que é apontada como uma das causas da doença. Outros dois
produtos também atacam uma outra proteína, chamada de tau, ela se acumula
dentro dos neurônios e, recentemente, despontou como alvo preferencial contra a
doença.
Em
caso sintomáticos do Alzheimer, as moléculas também são alvo de medicamentos
para tratar esses casos. Nesta outra frente de estudos, as drogas mais bem
sucedidas até agora são os anticorpos monoclonais, elementos do sistema imune
feitos sob medida para atacar os agentes patogênicos. O que diferencia os
anticorpos para as vacinas, é que estas treinam o sistema imune para produzir
as próprias defesas, em vez de injetá-las já prontas.
Os
imunizantes contra a chamada beta-amiloide que mais galgaram estágios até este
momento são as da empresa espanhola Araclon e a da americana Vaxxinity. As duas
empresas concluíram os testes de fase 2, mostrando que os anticorpos dos
voluntários que participaram dos testes são capazes de atacar a proteína alvo.
Com
a fase 2 encerrada, as vacinas líderes contra a tau são a Axon e a suíça AC
Immune. Agora chegou a hora das empresas trabalharem para mobilizar recursos
para iniciarem a fase 3 que é a de teste da eficácia do produto, o que exige
bastante investimento.
O
pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, o ofarmacólogo
Gustavo Alves dos Santos, está acompanha o cenário de pesquisa no setor.
"Existe
muito dinheiro para pesquisa com Alzheimer hoje nos Estados Unidos e na
Europa", relata o cientista em entrevista ao Jornal O GLOBO. "A gente
está vendo um cenário de 'corrida do ouro' para a descoberta da cura do
Alzheimer, e as vacinas fazem parte desse cenário", completa.
Sobre
as vacinas que estão entrando em fase 3, a possibilidade é que algumas delas
divulguem resultados em cinco anos.
Imunomodulação
Outras
três vacinas que já estão em teste clínico para o Alzheimer, tentam controlar
processos inflamatórios implicados na doença por “imunomodulação”, ativando
mecanismos mais gerais do organismo. Uma delas é BCG, para tuberculose, que já
mostrou efeitos moduladores contra outras doenças. No entanto, atacam moléculas
específicas.
O
motivo da volta das pesquisas para desenvolver vacinas à linha de tratamentos
experimentais contra o Alzheimer, retornou porque as drogas disponíveis hoje
têm alguma eficácia em desacelerar a doença, mas por outro lado, não conseguem
parar por completo, muito menos reverter o avanço da doença.
Em
2002, o campo já passou por um trauma, quando uma vacina da empresa Elan
Pharmaceuticals teve o teste interrompido depois de causar inflamações
cerebrais.
Apesar
do Brasil ter poucos cientistas trabalhando na área, o país tem uma
representante que é Silvana Giuliatti, professora da FMRP. Ela começou a
investigar a estrutura de moléculas-alvo para os imunizantes. A pesquisa é toda
feita com simulação computacional.
“Queremos
usar diferentes métodos da bioinformática aplicados a diferentes grupos de
moléculas para avaliar quais os melhores possíveis candidatos na construção de
um imunizante”, descreveu Giuliatti, em projeto submetido à Fapesp. “A
compreensão sobre esses determinantes é muito importante para auxiliar em
mecanismos que proporcionem a melhor resposta imunogênica”.
De
acordo com Alves dos Santos, a biologia básica do Alzheimer ainda é um
quebra-cabeças com peças faltantes, mas ainda há espaço para que novas
abordagens entrem no campo de pesquisa e estudos.
Com
informações do Jornal O Globo
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