Existem cartas mais raras do que outras no álbum da Copa do Mundo? Uma banca de jornal pode receber mais ou menos figurinhas de um determinado jogador? Vou precisar de R$ 9 mil para completar o álbum?
A figurinha é realmente rara? Isso é um processo legal? Ela está custando mesmo R$ 9 mil? Saiba as verdades e mentiras sobre a figurinha que virou o assunto do momento.
![]() |
Reprodução. |
A cada nova edição, a coleção que reúne os atletas
dos países classificados para a maior competição de seleções do mundo tem suas
lendas antigas renovadas e novas teorias surgem entre os aficionados.
Talvez a maior curiosidade diga respeito à raridade
de determinadas figurinhas, geralmente dos jogadores mais famosos, como Neymar,
Messi e Cristiano Ronaldo. De acordo com a Editora Panini, essa impressão não
passa de um mito. A dificuldade para encontrar certos itens, diz a empresa, é
uma questão de probabilidades.
"Não tem como ter figurinhas raras no sentido de a gente produzir
menos uma figurinha do que outra. Isso não é possível devido ao nosso processo
de produção", diz Carolina Motta, gerente de marketing da Panini Brasil,
em entrevista à Folha na fábrica da empresa, no Centro Empresarial de Tamboré,
em Barueri.
A reportagem acompanhou parte do processo no local,
em que a editora já recebe as figurinhas impressas e realiza o processo de
separação, embalagem e distribuição para o Brasil e 15 países da América Latina.
A confecção das embalagens teve início no dia 27 de
junho. Segundo a empresa, 9 milhões de pacotes são produzidos por dia, de
segunda a sexta. Até o momento, já foram feitos cerca de 400 milhões, com ao
menos cinco figurinhas em cada um –a editora não divulga quantos são
comercializados dentro do Brasil. Aqui, eles custam R$ 4. O álbum impresso em
papel-cartão custa R$ 12.
Na linha de produção, uma máquina é responsável por separar as
figurinhas de forma aleatória. "Então, se uma pessoa quer tirar o Neymar,
ele é um em 650 figurinhas. Então, [a dificuldade de encontrá-lo] é devido à
proporção", acrescenta Carolina.
Segundo ela, se a editora optasse por criar cartas
mais raras, portanto com uma menor oferta no mercado, teria de passar por um
processo junto ao Ministério da Economia, via Secretaria de Avaliação,
Planejamento, Energia e Loteria, por envolver a sorte como um componente da
coleção.
Especialistas em direito do consumidor explicam,
ainda, que há uma regulamentação no país para exigir a produção de figurinhas
de forma que todos os consumidores possam completar seus álbuns.
"A Lei nº 9.340/1996 estabelece que a quantidade
de figurinhas deverá corresponder ao número de álbuns distribuídos e que todas
as figurinhas devem ser distribuídas em cada cidade ou região", diz a
advogada Lais Oliveira, com atuação em direito do consumidor.
Para o álbum da Copa do Mundo do Qatar, no entanto, a Panini encontrou
uma forma de criar figurinhas que, de fato, são raras, mas elas não se
enquadram nessa legislação. Ao todo, são 80 cromos extras, sendo 20 jogadores
representados e cada um com quatro versões: a comum, a bronze, a prata e a ouro,
que indicam a raridade de cada figurinha.
Essas figurinhas são extras, não há espaço para
colá-las no álbum. Por isso, ninguém precisa delas para completar a colagem. E
são extras também no pacotinho. Chegam como a sexta do pacote, que geralmente
contém cinco.
A Panini trata essas cartas como itens de
colecionador, condição que, segundo a empresa e especialistas em direito do
consumidor ouvidos pela reportagem, permite a comercialização sem necessidade
de fazer um registro no Ministério da Economia.
"A disponibilização de figurinhas como item de colecionador não
necessariamente ofende a legislação vigente se há clara e expressa informação
de suas características e de que se trata de item adicional ao álbum de
figurinhas", afirma Lucas Simão, sócio especialista em direito do
consumidor da Pinheiro Neto Advogados.
A inclusão dessas figurinhas, porém, criou uma
corrida pelos pacotes e inflacionou o preço de figurinhas de alguns atletas. Na
internet, é possível encontrar pessoas pedindo R$ 9 mil pela versão dourada de
Neymar, uma das mais cobiçadas.
Galeria Veja a produção das figurinhas do álbum da
Copa do Mundo de 2022 Fábrica da Panini, em Barueri, separa, embala e distribui
as figurinhas da coleção
https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1742277305218802-veja-a-producao-das-figurinhas-do-album-da-copa-do-mundo-de-2022
* A Panini afirma que "não comercializa figurinhas extras individualmente
e as vendas paralelas não são de responsabilidade da marca".
Rodolfo de Macedo, 28, coleciona figurinhas desde a Copa de 2002.
"Agora já sou penta no álbum, igual ao Brasil", brinca. O interesse
foi incentivado por seu pai. Agora, fazer a coleção virou uma paixão pela qual
se dispõe a gastar até R$ 200 por mês até completar o álbum.
O redator publicitário conta que já tirou a versão
bronze de Son Heung-Min, jogador do Tottenham que defende a Coreia do Sul.
"Estou guardando como uma relíquia, dentro de um protetor. Eu não penso em
vendê-la por enquanto, mas, tirando uma do Neymar, é muito provável que [venda]
sim", afirma.
Na internet, entre as várias teorias sobre as
figurinhas raras, circulam vídeos em que pessoas aparecem pesando os pacotinhos
como forma de encontrar aqueles que possuem as figurinhas extras. Segundo os
relatos, os pacotes normais pesam 4g. Quando tem figurinha especial, o peso
seria de 5g.
Carolina Motta se diverte com a criatividade das teorias criadas pelos
colecionadores. "Se você tem uma figurinha a mais, ela vai pesar a mais no
pacote. Mas as pessoas que filmaram compraram e pesaram em casa", diz, ao
lembrar que os comerciantes não permitirão que os pacotes sejam pesados antes
de serem vendidos.
"Tem gente que pergunta se é preciso ir a
bancas de jornais diferentes para completar o álbum e não tem como saber disso
porque nós não temos esse controle", acrescenta Carolina.
Ela também brinca com outras
lendas que já chegaram à editora. "A gente já recebeu questionamento se
havia um holograma nas figurinhas e, no caso de alguém encontrar, a Panini
pagaria R$ 1 milhão. É mentira."
Luciano Trindade/Folhapress
0 Comentários