Mais de 200 jornalistas do Brasil e do exterior se credenciaram para acompanhar o evento na USP. Organizações estudantis, entidades de classe e movimentos sociais realizaram marchas até o local. Universidades em todos os 26 estados brasileiros também promoveram atos.
Atos pelo Brasil marcam leitura da carta em defesa da democracia e das eleições. Documento foi elaborado pela Fiesp. (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e conta com o apoio de diversas entidades. Assista a manifestação ao vivo.
Carta mobilizou diferentes setores da sociedade em defesa do Estado de Direito. | Reprodução |
Durante a leitura da primeira carta, estavam sentados em uma mesma
fileira do salão nobre o ex-presidente da Fiesp Horácio Lafer Piva e dirigentes
de centrais sindicais, como a UGT (União Geral dos Trabalhadores), além de
religiosos franciscanos e representantes de religiões de matriz africana.
Os principais apelos das entidades são por: respeito à soberania do
voto, obediência à Constituição, apreço ao Judiciário e preservação da
estabilidade democrática e do Estado de Direito. O material também reforça a
confiança na integridade do sistema eleitoral e na busca pacífica por
desenvolvimento.
Apelidado de "carta dos empresários", o
manifesto "Em Defesa da Democracia e da Justiça" conseguiu unir
parceiros improváveis, como a Fiesp, centrais sindicais (como CUT, Força
Sindical e UGT), a Febraban, a Academia Brasileira de Ciências e a UNE (União
Nacional dos Estudantes).
O manifesto em favor da democracia assinado por
entidades como a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a
Febraban (Federação Brasileira de Bancos) foi lido na manhã desta quinta-feira
(11) na Faculdade de Direito da USP em ato contra o discurso golpista do
presidente Jair Bolsonaro (PL).
A faculdade do largo de São Francisco, na região
central de São Paulo, também capitaneou uma carta em defesa das instituições e
do sistema eleitoral, articulada por acadêmicos e intelectuais e já assinada
virtualmente por mais de 927 mil pessoas. A leitura desse documento ocorreu na
sequência.
A leitura do texto, diante de mais de 800 pessoas no salão nobre da
faculdade de direito e com transmissão ao vivo pela TV e pela internet, foi
intercalada por aplausos. A união de forças de diferentes segmentos políticos e
ideológicos em torno da questão democrática foi exaltada nas falas.
Escolhido para ler ao microfone o manifesto
"Em Defesa da Democracia e da Justiça", o ex-ministro da Justiça José
Carlos Dias, presidente da Comissão Arns, disse antes da leitura que, com a
mobilização, "capital e trabalho se unem em defesa da democracia".
À leitura da carta, diante do público de pé no salão lotado, seguiu-se
uma longa salva de palmas. Gritos de "viva a democracia" foram
ouvidos. Parte dos espectadores gravou o momento histórico com o celular.
O evento desta quinta, que reúne organizadores e
convidados no prédio da faculdade, junta duas iniciativas da sociedade civil em
resposta à escalada autoritária de Bolsonaro, com questionamentos infundados
sobre as urnas eletrônicas e ameaças de desrespeito ao resultado da eleição de
outubro.
O reitor da USP (Universidade de São Paulo), Carlos Gilberto Carlotti Junior, no primeiro discurso do dia, defendeu eleições livres e disse que a universidade é oposto do autoritarismo. Disse ainda que a sociedade deveria estar pensando no futuro, mas se vê obrigada hoje a impedir retrocessos.
Manifesto é reação às intimidações de Bolsonaro
O texto, divulgado em 5 de agosto, foi subscrito por
mais de cem entidades de diferentes setores. A iniciativa é uma reação às
intimidações de Bolsonaro sobre o sistema eleitoral e as instituições, que se
intensificaram desde o 7 de Setembro de 2021 e devem se repetir na mesma data
neste ano.
O presidente convoca apoiadores para irem às ruas
em sua defesa – travestida como manifestação por liberdade e transparência na
apuração eleitoral – no próximo dia 7, data que marcará o Bicentenário da
Independência. A retórica agressiva e as menções às Forças Armadas fizeram
acender o alerta.
A tensão se ampliou com a reunião com embaixadores convocada por
Bolsonaro no dia 18 de julho, no Palácio da Alvorada, em que ele repetiu
mentiras sobre as urnas eletrônicas, atacou instituições e disseminou teorias
da conspiração diante de representantes da comunidade internacional.
A mobilização foi a mais emblemática de setores do
PIB contra os arroubos antidemocráticos do mandatário, que se intensificaram ao
longo do mandato, iniciado em 2019. Apesar das adesões de peso, segmentos
econômicos alinhados ao bolsonarismo evitaram endossar as manifestações.
Segundo o manifesto, a estabilidade democrática no
país, o respeito ao Estado de Direito e o desenvolvimento são condições
indispensáveis para que o Brasil supere seus principais desafios. "Esse é
o sentido maior do Sete de Setembro neste ano", diz um trecho.
O documento fala ainda em respeito aos Poderes,
defesa da alternância de poder e reafirma o "compromisso inarredável com a
soberania do povo brasileiro expressa pelo voto e exercida em conformidade com
a Constituição". Não há menção direta a Bolsonaro.
O presidente, no entanto, passou a dizer que a intenção dos movimentos é
atingi-lo e a chamar os textos de "cartinhas". Afirmou que o
documento endossado pela Fiesp era "claramente" contra ele e
questionou se em três anos e meio de seu mandato houve algum ato contrário à
democracia.
Nos últimos dias, Bolsonaro argumentou que nunca
proferiu palavras ou tomou atitudes "tentando ferir a nossa
Constituição" e buscou relacionar as iniciativas como apoio ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que concorre à Presidência e
lidera as pesquisas de intenção de voto.
Embora parte dos signatários das cartas declare
abertamente voto em Lula, o discurso dos organizadores é o de que os documentos
são suprapartidários. Na redação dos manifestos, foram tomadas precauções para
limitar o conteúdo à questão democrática e evitar viés eleitoral pró-Lula ou
anti-Bolsonaro.
A coalizão em torno do Estado democrático de Direito, do respeito ao
sistema eleitoral e da aceitação do resultado que sair das urnas eletrônicas
evidenciou o isolamento de Bolsonaro às vésperas do pleito e o repúdio de
amplos setores da elite econômica, cultural e social às ameaças de ruptura.
Segundo a mais recente pesquisa Datafolha, de
julho, o petista tem 47% das intenções de voto, enquanto o rival registra 29%.
Leia, a seguir, a
íntegra da carta assinada pelas entidades:
"Em Defesa da Democracia e da Justiça"No ano do bicentenário
da Independência, reiteramos nosso compromisso inarredável com a soberania do
povo brasileiro expressa pelo voto e exercida em conformidade com a
Constituição.Quando do transcurso do centenário, os modernistas lançaram, com a
Semana de 22, um movimento cultural que, apontando caminhos para uma arte com
características brasileiras, ajudou a moldar uma identidade genuinamente
nacional.Hoje, mais uma vez, somos instigados a identificar caminhos que
consolidem nossa jornada em direção à vontade de nossa gente, que é a
independência suprema que uma nação pode alcançar. A estabilidade democrática,
o respeito ao Estado de Direito e o desenvolvimento são condições
indispensáveis para o Brasil superar os seus principais desafios. Esse é o
sentido maior do Sete de Setembro neste ano.Nossa democracia tem dado provas
seguidas de robustez. Em menos de quatro décadas, enfrentou crises profundas,
tanto econômicas, com períodos de recessão e hiperinflação, quanto políticas,
superando essas mazelas pela força de nossas instituições.Elas foram sólidas o
suficiente para garantir a execução de governos de diferentes espectros
políticos. Sem se abalarem com as litanias dos que ultrapassam os limites
razoáveis das críticas construtivas, são as nossas instituições que continuam
garantindo o avanço civilizatório da sociedade brasileira.É importante que os
Poderes da República -Executivo, Legislativo e Judiciário- promovam, de forma
independente e harmônica, as mudanças essenciais para o desenvolvimento do
Brasil.As entidades da sociedade civil e os cidadãos que subscrevem este ato
destacam o papel do Judiciário brasileiro, em especial do Supremo Tribunal
Federal, guardião último da Constituição, e do Tribunal Superior Eleitoral, que
tem conduzido com plena segurança, eficiência e integridade nossas eleições
respeitadas internacionalmente, e a todos os magistrados, reconhecendo o seu
inestimável papel, ao longo de nossa história, como poder pacificador de
desacordos e instância de proteção dos direitos fundamentais.A todos que
exercem a nobre função jurisdicional no país, prestamos nossas homenagens neste
momento em que o destino nos cobra equilíbrio, tolerância, civilidade e visão
de futuro.Queremos um país próspero, justo e solidário, guiado pelos princípios
republicanos expressos na Constituição, à qual todos nos curvarmos, confiantes
na vontade superior da democracia. Ela se fortalece com união, reformando o que
exige reparos, não destruindo; somando as esperanças por um Brasil altivo e
pacífico, não subtraindo-as com slogans e divisionismos que ameaçam a paz e o
desenvolvimento almejados.Todos os que subscrevem este ato reiteram seu
compromisso inabalável com as instituições e as regras basilares do Estado
Democrático de Direito, constitutivas da própria soberania do povo brasileiro
que, na data simbólica da fundação dos cursos jurídicos no Brasil, estamos a
celebrar.Brasil, 11 de agosto de 2022"
Ao vivo: leitura das cartas pró-democracia na USP.
FOLHAPRESS
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