Segundo o Instituto Nacional de Câncer, o câncer de boca, também conhecido como câncer de lábio e cavidade oral, é um tumor maligno que afeta lábios, estruturas da boca, como gengivas, bochechas, céu da boca, língua (principalmente as bordas) e a região embaixo da língua.
Mesmo sendo mais comum em homens acima de 40 anos, o câncer de boca também pode dar em crianças e adolescentes.
Edilson Rodrigues/Agência Senado |
Mesmo sendo mais comum em homens acima de 40 anos,
sendo o quarto tumor mais frequente no sexo masculino, crianças e adolescentes
estão expostas essa doença.
Em novembro do ano passado, Kauã Costa da Silva,
16, voltou ao dentista 15 dias após arrancar um dente para retirar os pontos. A
partir daquele momento, ele percebeu que o local começou a inchar e ficar
dolorido.
Nem ele nem os pais ainda sabiam, mas ali começava
um transtorno que alteraria para sempre seu futuro. A extração do dente fez emergir
um tumor desmoide, que, em poucos meses, tomou toda a parte óssea de sua arcada
dentária até chegar à base do crânio. A boa notícia, descoberta depois, é que
era benigno.
O caso de Kauã mostra a importância de se cuidar da saúde bucal de
crianças e adolescentes. Qualquer alteração pode ser sinal de problema maior
que apenas cáries. E os pais precisam ficar atentos.
Segundo Camila de Barros Gallo, professora doutora
da disciplina de Estomatologia Clínica da Fousp (Faculdade de Odontologia da
Universidade de São Paulo), normalmente os casos de tumores em crianças e
adolescentes são benignos, mas mesmo assim precisam ser tratados com urgência.
"Os tumores malignos geralmente acontecem por
acúmulo de erros, o DNA vai acumulando erros, e isso acontece nos idosos. Na
criança não é esperado, a não ser que seja genético", diz.
A professora alerta que a escovação da criança deve ser acompanhada por
um adulto até pelo menos os seis ou sete anos, idade em que ela vai adquirir a
capacidade motora para fazer a higienização sozinha. "Até essa fase, o
adulto vai perceber se houver mudanças de posicionamento dos dentes ou o
aumento de volume na região."
São três os sinais a que os pais precisam ficar
atentos nas bocas dos pequenos. O primeiro é o aparecimento de inchaços no
rosto, como o de Kauã. Depois, o surgimento de feridas nas gengivas que não
cicatrizam em até 15 dias. E, por último, se os dentes começarem a entortar ou
criar espaços que não existiam antes entre eles.
O cirurgião de cabeça e pescoço Marcos Roberto Tavares, que fez todo o
acompanhamento de Kauã no Hospital das Clínicas, diz que o adolescente também
apresentava a dentição torta, além do inchaço, motivos para ligar o alerta
vermelho e procurar ajuda profissional.
Como muitas vezes ocorre em casos de saúde, o
atraso no diagnóstico acaba piorando a situação do paciente. Foi o que
aconteceu com Kauã. Depois da extração do dente e o aumento do inchaço, ele
voltou ao dentista que, mesmo com o raio-X em mãos, disse que era situação
normal.
Apenas depois de receber uma indicação, sua mãe,
Edilaine da Silva Costa, o levou a um dentista especialista em cirurgia
bucomaxilar no Hospital do Mandaqui, na zona norte da capital. De lá, foi
encaminhado para o Hospital Santa Marcelina, na zona leste, onde foi diagnosticado
pela primeira vez o tumor desmoide benigno.
"O hospital disse que não poderia realizar a cirurgia e que o
procedimento seria no Hospital Municipal do Tatuapé, especializado em cirurgia
e traumatologia bucomaxilofacial. O problema é que a operação foi marcada
apenas para o fim deste mês de julho", conta a mãe.
Com o rosto do filho cada vez mais inchado, a mãe
não quis esperar e o levou ao Pronto Socorro do Hospital das Clínicas, onde
começou a fazer o acompanhamento até marcar a cirurgia para o dia 21 de junho,
procedimento que foi adiado para três dias depois por falta de anestesista. O
hospital informou que o profissional precisou ser deslocado para uma operação
de emergência.
Por fim, Kauã foi operado por três equipes
diferentes por cerca de 16 horas. A equipe de cirurgia de cabeça e pescoço
tirou o tumor da mandíbula, a de neurocirurgia tirou da base do crânio e o
grupo de cirurgia plástica fez a reconstrução dos ossos da face.
"Às vezes, o tumor começa na face e vai para o cérebro, na base do
crânio. Então, nós tiramos o tumor de baixo para cima e os neurocirurgiões
tiram de cima para baixo. E depois a plástica faz a reconstrução. Antigamente a
gente não podia fazer esse tipo de cirurgia porque não tinha a reconstrução,
mas hoje em dia a plástica faz. Eles tiram parte de um osso da perna, a fíbula,
e fazem as curvas todas para encaixar na mandíbula. É uma cirurgia
complexa", conta o médico Marcos Roberto Tavares.
Mesmo sem a necessidade de passar por tratamento de
quimioterapia, que só é realizado em tumores malignos, a recuperação de Kauã
deve ser prolongada e vai demandar muitos cuidados. Ele deixou a UTI (Unidade
de Terapia Intensiva) na quinta-feira (7) e está em recuperação no quarto. Por
isso, para não chegar a essa gravidade, o ideal é que o diagnóstico seja feito
o quanto antes.
"O que me deixou mais assustada foi quando
descobri o tumor. Não sabia que podia acontecer isso por causa de um dente.
Fiquei muito frustrada quando me falaram no Santa Marcelina que ele estava com
um tumor na mandíbula, que ia perder a mandíbula e não ia poder mastigar, se
não tivesse como fazer a prótese", diz Edilaine.
"Como demorou muito para fazer a cirurgia, o
tumor chegou até a base do crânio. Ele podia perder a visão e os movimentos do
rosto, não só na mandíbula. Isso me assustou muito."
"Tudo o que for simples,
irrelevante, vai acabar em duas semanas. Se for mais complexo é bom procurar um
profissional, mesmo que seja um tumor benigno", alerta a professora Camila
de Barros Gallo.
Dol e Claudinei Queiroz/Folhapress
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