A vacinação de crianças contra a Covid-19 no Brasil começou nesta sexta-feira (14) com a imunização do menino indígena de 8 anos, Davi Xavante, que mora no estado de São Paulo. A vacinação não será obrigatória, mas os pais que se recusarem a imunizar seus filhos podem ser multados ou até perder a guarda.
Confira algumas dúvidas e respostas sobre a imunização liberada para a faixa etária entre 5 a 11 anos, como a necessidade da aplicação, o tipo de vacina aplicada e sobre se há algum efeito colateral no público infantil.
A eficácia da vacina da Pfizer em crianças é de mais de 90% | REPRODUÇÃO |
Desde a autorização para aplicar a vacina da Pfizer na faixa etária de 5 a 11 anos, muitas dúvidas surgiram na população. A reportagem compilou as principais dúvidas com as suas respectivas respostas desse novo ciclo de proteção contra a Covid-19.
O que fazer quando os
sintomas aparecerem:
l O critério principal segue sendo avaliar o
estado geral da criança: se está comendo, brincando, sorrindo quando não
apresenta febre. Nestes casos, os pais podem seguir tratando em casa os
sintomas , sempre observando a evolução da doença na criança.
Nessa faixa etária, os quadros gripais devem
ser de leves a moderados. No entanto, eles costumam melhorar com 3 a 5 dias de
acompanhamento. Dificilmente alguma criança fará um caso mais grave. Crianças
de menos de um ano merecemobservação mais atenta.
Quais são os primeiros
sintomas:
l Para qualquer pessoa - criança ou adulto -
com quadro febril, gripal (coriza, tosse, espirros, nariz entupido, incluindo
dor de garganta e cefaleia), ou gastrointestinal (vômitos, diarreia) é preciso
se isolar em casa e fazer um teste para saber se é Covid-19. Pode ser exame do
tipo PCR ou de antígeno, já no segundo ou terceiro dia de sintomas. Se um
adulto sintomático testar positivo e houver crianças com sintomas em casa, elas
podem ser consideradas positivas por suposição. Nesse caso, a família toda deve
se manter em isolamento.
Como tratar em casa:
l O tratamento deve ser feito com muito soro
nasal em spray, lavagem nasal com soro morno se a secreção ficar mais espessa
ou o nariz estiver entupido. Deve-se oferecer frutas. A criança deve comer o
que conseguir. Evitar biscoitos e outros ultraprocessados. É importante
oferecer água com frequência. Hidratação é muito importante, e a criança não
costuma pedir. Uma colher de chá de mel três vezes por dia para os maiores de
um ano e meio ajuda a acalmar a tosse. Tratar febre só acima de 38,5°C. Usem
paracetamol (0,8 gotas por kg) ou dipirona (0,6 a 0,8 gotas por kg). Banho
morno ajuda a abaixar a febre e sesentir melhor. Nunca gelado.
Quando é o momento de ir
para o hospital:
l Se a febre persistir até o quarto ou quinto
dia de sintomas e o estado geral for ruim, se houver piora progressiva ou
alterações respiratórias (criança ofegante, com a respiração encurtada sem ter
feito nenhum esforço físico), ou qualquer sinal mais alarmante, a criança deve
ser examinada por um médico. É o momento de entrar em contato com o pediatra do
seu filho ou levá-lo a uma emergência.
O que fazer se os
pequenos se contaminarem com a covid?
Com a vacinação infantil dando os primeiros
passos no Brasil, pais e responsáveis de crianças de 5 a 11 anos estão cheios
de dúvidas sobre como lidar com a infecção por coronavírus. Como protegê-los?
Há sintomas específicos entre eles? Qual o tratamento a ser seguido? Daniel
Becker, pediatra, sanitarista e membro do Comitê de Enfrentamento à Covid da
Prefeitura do Rio, decidiu escrever uma carta aberta aos pais e responsáveis de
seus pequenos pacientes que inundavam seus contatos com dúvidas acerca do atual
cenário de saúde no país. Em sua mensagem, o médico tenta acalmar pais e
responsáveis, passando orientações práticas e reforçando seu apoio à vacinação
infantil contra a Covid-19 .
O pediatra destaca que dificilmente uma
criança vai ter um quadro grave ao se infectar pela doença. No entanto, a
necessidade de internação pode acontecer e, por isso, os pais e responsáveis
devem ficar atentos ao estado de saúde da criança. Dados contabilizados pelos
Cartórios de Registro Civil brasileiros mostram que, entre março de 2020 e
janeiro deste ano, foram notificados 324 óbitos na faixa de 5 a 11 anos
causados pela Covid-19. Dentre as mortes, 65 ocorreram em pequenos de apenas 5
anos de idade.
P Quais vacinas já foram
aprovadas para crianças no Brasil?
Atualmente, a única vacina que pode ser
aplicada em crianças de 5 a 11 anos no país é a da Pfizer. A autorização
concedida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ocorreu em 16
de dezembro de 2021.
Outras farmacêuticas também buscam
autorização para utilizar seus produtos nos pequenos. Um exemplo é a Coronavac,
que será testada no Espírito Santo a partir dessa sexta (14) em pessoas de 3 a
17 anos de idade. No total, serão 1.280 participantes.
P A vacina usada para
crianças é a mesma administrada em adultos?
R A vacina para os pequenos tem algumas
diferenças. O primeiro ponto é a dosagem: para os maiores de 12 anos, a dose é
de 0,3 ml, enquanto para os menores a dosagem é de 0,2 ml. O tempo de
armazenamento também muda. Enquanto para os mais velhos o imunizante pode ficar
na geladeira entre 2ºC a 8ºC durante apenas um mês, para os pequenos são
permitidas até dez semanas. Além disso, o frasco da vacina das crianças
comporta dez doses, mais do que a versão para maiores de 12 anos, que comporta
seis doses.
P Quais os riscos da
vacinação dos menores?
R Ainda não há
indicativos de efeitos colaterais sérios da vacinação dos menores.
Jamal Suleiman, infectologista do Hospital
Emílio Ribas, afirma que o imunizante para essa faixa etária é seguro e
necessário. “É uma vacina extremamente segura, com ocorrência de eventos
adversos de somente 0,05% [em crianças a partir de cinco anos]”, diz. Dados do
CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em tradução do inglês) também
indicaram que efeitos colaterais graves são raríssimos nesta faixa etária. Em
um estudo, a agência avaliou relatórios recebidos de médicos e do público,
assim como respostas a pesquisas com pais ou responsáveis por aproximadamente
43 mil crianças entre 5 e 11 anos.
A maioria das crianças relata somente dor no
local da injeção, cansaço, dor de cabeça ou febre. Relatos de miocardite, uma
inflamação do músculo cardíaco, foram registrados somente em 11 vacinados.
Desses, sete crianças haviam se recuperado e quatro estavam se recuperando no
momento do relatório, afirmou o CDC.
P Por que é importante
vacinar as crianças?
R Ao contrário dos
efeitos colaterais que são ínfimos, os benefícios de vacinar as crianças é bem
maior, como a diminuição de casos graves e mortalidade dos pequenos.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
publicou na quinta passada (6) uma nota em que informava que pesquisas feitas
até o momento apontam a eficácia e a segurança da vacina aplicada na população
pediátrica. A entidade indicou, ainda, como os imunizantes são essenciais para
evitar formas graves da Covid-19.
“A vacina previne a morte, a dor, sofrimento,
emergências e internação em todas as faixas etárias. Negar este benefício às
crianças sem evidências científicas sólidas, bem como desestimular a adesão dos
pais e dos responsáveis à imunização dos seus filhos, é um ato lamentável e
irresponsável, que, infelizmente, pode custar vidas”, disse.
A publicação da nota ocorreu horas após o
presidente Jair Bolsonaro (PL) atacar a vacinação infantil e pedir que pais não
se deixem levar pelo que chamou de propaganda. O presidente afirmou que
desconhece a morte de crianças por Covid-19, mas dados do Sistema de Vigilância
Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) informam que foram registradas 301 mortes
de crianças entre 5 e 11 anos por Covid-19 no país, de 2020, quando a pandemia
teve início,
até 6 de dezembro de 2021.
P Quais os impactos da
variante ômicron no caso das crianças?
R A ômicron é uma cepa reconhecida por ser
mais transmissível e fez os diagnósticos de Covid explodirem no Brasil nas
últimas semanas.
Nessa situação de disseminação da nova cepa,
a vacinação das crianças é ainda mais necessária, afirma Renato Grinbaum,
membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). “É necessário [a
vacinação] porque as novas variantes estão se disseminando com uma maior
intensidade nas populações não vacinadas, inclusive em crianças”, diz.
Os Estados Unidos, por exemplo, já bateram
recorde de crianças internadas com Covid em meio ao avanço da ômicron. Segundo
informações do jornal Washington Post, 4.000 menores de idade estavam
hospitalizados no último dia 5.
A variante também levou escolas a fechar no
país, fazendo com que crianças retomassem o estudo direto de suas casas. No
Brasil, medidas de suspensão das aulas presenciais ainda não foram tomadas, mas
isso já é discutido entre especialistas.
“Estamos vendo o que essa variante está
causando em todo o mundo e em todos os setores, todos estão tendo que ser mais
cautelosos. Embora a escola tenha se mostrado um ambiente seguro, ela não é uma
ilha”, disse, no começo deste ano, Vitor de Angelo, presidente do Consed
(Conselho Nacional de Secretários de Educação).
O fechamento de escola pelo alastramento da
ômicron pode trazer novamente problemas que já vêm sendo discutidos desde o
início da pandemia, como as desigualdades no acesso à educação.
P Crianças abaixo de
cinco anos já podem ser vacinadas?
R No Brasil, nenhum produto foi aprovado para
pessoas com menos de cinco anos. Segundo a presidente da Pfizer no Brasil,
Marta Díez, a companhia pretende apresentar à Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) o pedido de autorização de uso da vacina em crianças de 6
meses a 5 anos.
“Estamos preparando resultados para crianças
de 6 meses a 5 anos. Esperamos para 2022, mas ainda não sabemos quando”,
afirmou.
Além disso, informações de um documento do
Ministério da Saúde enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal), indicava que a
pasta prevê adquirir doses para crianças de 0 a 4 anos caso a vacina da Pfizer
seja aprovada pela Anvisa.
No entanto, a imunização de crianças com menos
de quatro anos contra a Covid já é realidade em alguns países. Os Emirados
Árabes Unidos aprovaram o uso do imunizante Sinopharm para jovens de 3 a 17
anos. Cuba também já aplica a vacina produzida no próprio país em pessoas que
tenham mais de dois anos.
P Haverá necessidade da
terceira dose da vacina em crianças?
R As informações sobre aplicação de reforço
em crianças ainda são pequenas. Segundo informações da Reuters, o FDA (Agência
de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos) autorizou, em 03 de janeiro deste
ano, uma terceira dose para crianças de 5 a 11 anos que são imunossuprimidas.
A decisão foi tomada para fornecer uma melhor
proteção contra as variantes delta e ômicron, afirmou Peter Marks, diretor do
Centro de Avaliação e Pesquisa Biológica do FDA. Dados já indicam que uma dose
de reforço é importante para uma imunização mais
eficaz contra a ômicron.
No Brasil, está autorizado a dose de reforço
somente para pessoas com mais de 18 anos e que tenham um intervalo mínimo de
quatro meses a partir do esquema vacinal completo. A aplicação em outras faixas
etárias ainda não foi anunciada.
Agência O Globo
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