O primeiro trimestre de 2021 se encerrou com 43 pessoas mortas durante intervenções policiais no Estado do Ceará. Comparado a igual período de 2020, o número é 72% maior. Por trás de cada caso de quem morreu 'pelas mãos da Polícia' há histórias que envolvem desde pessoas suspeitas até mesmo aquelas que as famílias alegam terem sido alvos de erros dos agentes da Segurança Pública.
Até então, janeiro deste ano foi mês com mais casos: 20. Em fevereiro
foram contabilizados 12 ocorrências deste tipo, e em março caiu para 11,
conforme estatísticas consolidadas pela Secretaria da Segurança Pública e
Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE). No primeiro trimestre do ano passado foram
25 registros de mortes por intervenção policial.
A SSPDS enviou nota à reportagem informando tratar todas as mortes
decorrentes de intervenção policial com seriedade e transparência:
"As ocorrências são apuradas com instauração de inquérito policial pela Polícia Civil e submetidas à apreciação do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE). O Estado possui também a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD), uma secretaria autônoma e isenta, com a função de investigar e garantir o devido processo legal e proporcionar a segurança jurídica na avaliação da conduta e correição preventiva de servidores".
Agente vítima
E quando morre um policial? Em determinadas ações, quem fica na condição
de vítima é o próprio agente, como no assalto na Rua Senador Pompeu, Centro de
Fortaleza. No último dia 3 de fevereiro, câmeras de vigilância flagraram ação
covarde de dois assaltantes contra um PM.
O cabo Carlos Eduardo Pinheiro Gurgel tentou reagir a um assalto e foi
alvejado. O militar chegou a ser socorrido ao Instituto Doutor José Frota
(IJF), mas não resistiu aos ferimentos. Nas horas seguintes ao crime, quatro
suspeitos foram presos.
O sociólogo Luiz Fábio Paiva destaca que o policial que é colocado em
confronto armado constantemente também é a vítima: "Se algo acontece
errado com as operações, ele é responsável, nunca é o comando. Ele se torna um
alvo. A gente começa uma situação que se vão criando circuitos de vingança".
De acordo com o estudioso do LEV, parte dos agentes, principalmente do
policiamento ostensivo, acredita poder controlar essa situação, mas não.
"A gente vê muito isso na situação de assalto. A pessoa que está
executando a ação e vê que é um policial, ela opta por atirar em função dessa
identificação. É preciso repensar nesse sistema para pensar também no bem-estar
do policial. Ele que sofre violência e vive hoje em uma situação de saúde
mental extremamente precária", pontuou o especialista.
Fonte: Diário do Nordeste
0 Comentários