No início da pandemia do novo coronavírus os idosos acima de 60 anos eram o grupo mais vulnerável à doença. Hoje, um ano depois do início da pandemia, o cenário é completamente diferente, agora é a vez dos mais jovens serem os mais vulneráveis à doença. O motivo está na evolução do vírus, que está mais agressivo e transmissível do que antes.
Especialistas detalham como a falta de combate real à proliferação da covid-19 pelo país fez com que a doença ganhasse força.
A doença ganhou força não apenas em seu formato inicial, mas principalmente, devido a nova cepa originária do Amazonas. | Divulgação/iStock.
Especialistas ouvidos pelo UOL detalharam como a
falta de combate real à proliferação da covid-19 pelo país fez com que a doença
ganhasse força. Não apenas em seu formato inicial, mas principalmente, devido a
nova cepa originária do Amazonas.
Na última quinta-feira (4), o Brasil registrou a
morte de 1.786 pessoas pela pandemia em apenas 24 horas e teve um novo recorde
na média de mortes. É o terceiro somente na última semana. Nos estados, seis
somaram mais de cem mortes em um único dia:
SP (367)
MG (227)
RJ (186)
RS (179)
PR (112)
BA (112).
Ao todo, são 259.402 vítimas da covid-19 no Brasil,
além da contaminação de 10,7 milhões de pessoas.
Rodrigo Molina, médico consultor da Sociedade
Brasileira de Infectologia (SBI), explica que as variantes tornam o vírus mais
potente. Dessa forma, afetam também populações antes consideradas protegidas de
contaminação ou da mortalidade, caso infectadas, como jovens entre 18 e 50 anos
sem comorbidades.
"Os mais jovens estão circulando mais,
quebrando as quarentenas e todas as medidas de segurança que orientamos. Com a
cepa evoluída, uma pessoa transmite para muito mais gente. Por isso jovens são
a população mais exposta agora", analisa.
Ainda não há estudos suficientes para apontar maior
mortalidade causada pela cepa brasileira, como explica Sérgio Cimerman. Médico
do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e diretor científico da SBI, ele
alerta como a maior transmissão impacta o sistema de saúde.
"Observamos que o tempo de internação na UTI
(Unidade de Tratamento Intensivo) está mais estendido. Claro, as UTIs são
diferentes no sistema público e privado, mas há um aumento de quatro a cinco
dias na necessidade [de tratamento intensivo] do que no passado",
explicou.
Cimerman reconhece a internação de jovens em
estados de saúde mais graves do que acontecia na primeira onda da pandemia.
Porém, ainda faltam explicações do porquê isso está acontecendo.
"Há diferença de um ano para cá, mas ainda não
sabemos o que é. [A cepa] É mais transmissível, então está pegando todo mundo.
Não se tem uma explicação específica para a maior gravidade [nos casos]",
diz.
Além do tempo, a cepa alterou como os doentes mais
graves são tratados. Mudou o foco de respiradores para cilindros de oxigênio,
alteração justificada pela idade dos infectados.
"Os pacientes mais jovens ainda têm uma
reserva funcional, não evoluem para insuficiência respiratória que precisa de
ventilação mecânica, mas têm alta demanda por oxigênio. É um tratamento sem o
aparelho respirador, mas que precisa de oxigênio", afirma Molina.
Os dois colapsos no sistema de saúde do estado
transformaram o novo coronavírus em uma doença mais forte. Com tamanha
resistência, o vírus ganhou potência na transmissão. Estudiosos da proliferação
da covid-19 detalham que é preciso aumentar os cuidado na proteção, para além
do tratamento diferente com os novos doentes graves.
Vitor Mori, engenheiro biomédico e integrante do
Observatório Covid-19 Brasil, diz que o Brasil adotou um sistema pouco
eficiente para evitar a proliferação, como por exemplo, quando colocamos as
máscaras de pano como prioridade para o coronavírus em março de 2020.
"No inicio da pandemia havia escassez e as
máscaras de pano foram um importante plano B. Mas, em paralelo, deveria ter
sido investido no aumento da produção e da distribuição de PFF2 (máscara
profissional) para toda a população", justifica.
A PFF2, máscara usada em reformas, evita que
partículas entrem ou saiam da parede protetora do item, como detalha Mori. Se
era o modelo ideal para a primeira leva do vírus, é ainda mais quando há um
vírus mais potente.
"Tratamos essa pandemia como uma pandemia de
Influenza (vírus de gripes, como H1N1) e não nos atentamos às diferenças, como
o superespalhamento compatível com o de outras doenças que se transmitem pelo
ar."
Com informações UOL
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