Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), da Universidade Regional do Cariri (URCA) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) publicaram na última sexta-feira (26) um artigo inédito sobre um evento de mortalidade em massa de larvas de um inseto aquático, encontrado na unidade geológica Formação Crato, na região da Chapada do Araripe, no Cariri cearense.
A pesquisa apresenta a
primeira análise tafonômica de uma mortalidade em massa de insetos da Formação
Crato, ou seja, conta a história dos eventos que ocorreram antes da
fossilização dos organismos neste sítio paleontológico. Esse trabalho só pôde
ser realizado graças à primeira escavação paleontológica controlada da Formação
Crato, que foi realizada pela equipe do Laboratório de Paleontologia da URCA.
“Esse trabalho foi
exaustivo e levou mais de um ano para analisar camada por camada, algo que foi
realizado pela primeira vez nesse importante depósito fossilífero e contou com
o esforço e dedicação de uma grande equipe de professores e estudantes”, afirma
o professor da URCA, Álamo Saraiva.
Segundo a pesquisadora
Arianny Storari, da Ufes, o achado provém de uma camada de calcário laminado,
localmente conhecido como pedra cariri. As larvas de insetos encontradas
pertencem ao grupo Ephemeroptera, conhecidos popularmente como efêmeras. “Essa
localidade é muito rica em fósseis e, portanto, pequenos acúmulos de mais de
três insetos próximos na mesma camada de rochas são comuns nesta unidade, mas
acumulações de 40 insetos, como as apresentadas nesse estudo inédito, são muito
raras no registro fóssil”.
O que
é a Formação Crato
Entre 113 e 125 milhões
de anos atrás, durante o Cretáceo Inferior, a África e América do Sul ainda
estavam unidas, formando um único continente conhecido como Gondwana. Mas os
blocos de terra já começavam a se separar, formando um oceano estreito e raso.
À beira deste oceano, havia um ambiente composto por lagoas com vida animal e
vegetal diversificada. Este ambiente se preservou como uma unidade fossilífera
que conhecemos hoje como Formação Crato, localizada na região da Chapada do
Araripe, no sul do estado do Ceará.
Descoberta
Os autores notaram que
na camada de mortalidade em massa desses insetos, as larvas e os peixes eram
menores do que o normal. Isso os levou a hipotetizar que eles poderiam estar
vivendo em uma coluna de água rasa, porque indivíduos mais jovens poderiam
suportar níveis de água mais baixos devido ao seu tamanho pequeno. “Com base
nos padrões anatômicos e de preservação das larvas das efêmeras da família
Hexagenitidae e dos peixes do gênero Dastilbe, foi possível compreender mais
ainda o ambiente pretérito da Formação Crato”, afirma a paleontóloga Taissa
Rodrigues, da Ufes.
Importância
Segundo Saraiva, “a
partir da pesquisa sobre eventos ambientais passados e como eles afetaram a
fauna daquela época, os pesquisadores podem interpretar tendências recentes e
até futuras”.
E esta descoberta conta
mais uma parte da história do que era o Ceará em um tempo muito distante.
Segundo a professora da UFPE Flaviana Lima, que também participou da escavação
que culminou neste achado, “como os fósseis de efêmeras de Hexagenitidae e os peixes
Dastilbe representam uma fauna que viveu no paleolago da Formação Crato, os
dados deles podem ser usados para entender melhor o contexto paleoambiental
desta unidade”.
“Assim como nos dias de
hoje os insetos aquáticos são ótimos bioindicadores de qualidade de água, eles
também conseguem nos ajudar a entender o ambiente pretérito, já que são
sensíveis às variações do meio onde vivem”, complementa Storari.
Assinam o artigo Arianny
P. Storari, Taissa Rodrigues, Renan A. M. Bantim, Flaviana J. Lima e Antônio Á.
F. Saraiva.
Por :
Redação CN7
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