Em meio ao agravamento da pandemia, com a falta de oxigênio em Manaus, e às vésperas da campanha de vacinação contra a Covid-19, o Brasil perdeu uma das suas parcas estrelas do combate logístico à crise sanitária.
Trata-se de um avião de transporte Embraer KC-390 Millennium da FAB (Força Aérea Brasileira), um dos quatro em operação no país. É a aeronave com maior capacidade de carga em serviço, podendo levar até 26 toneladas.
O avião chegou na terça (12) a Alexandria, Louisiana (EUA), e ficará até 5 de fevereiro participando de um treinamento militar conjunto com os americanos, chamado Culminating (culminando, em inglês). | Divulgação/FAB.
Trata-se de um avião de transporte Embraer KC-390 Millennium da FAB
(Força Aérea Brasileira), um dos quatro em operação no país. É a aeronave com
maior capacidade de carga em serviço, podendo levar até 26 toneladas.
O avião chegou na terça (12) a Alexandria, Louisiana (EUA), e ficará até
5 de fevereiro participando de um treinamento militar conjunto com os
americanos, chamado Culminating (culminando, em inglês).
O modelo, cuja primeira unidade entrou em serviço em setembro de 2019 e
a mais recente, em dezembro passado, está sendo usado intensamente em missões
de apoio ao longo do ano. Na quarta (13), um deles levou 8 toneladas de
equipamentos justamente para Manaus.
O jornal Folha de S.Paulo questionou na noite de quinta a Força acerca
da decisão de enviar o avião mesmo com a necessidade no Brasil e se havia a
possibilidade de chamá-lo de volta. Ainda não obteve resposta.
Um coronel aviador alega que a retirada de operação de uma aeronave em
nada prejudicará as atividades contra a Covid-19. A Força tem nominalmente 20
modelos antigos Lockheed-Martin C-130 Hércules, que levam até 19 toneladas de
carga, e 11 C-105 Amazonas, que leva 7 toneladas.
Talvez sim, tanto que Hércules estão sendo usados para levar cilindros
de oxigênio para Manaus –só na quinta (14), foram 18 toneladas em dois voos.
Eles têm alcance algo maior do que os KC-390 plenamente carregados, mas o avião
da brasileiro é bem mais rápido (870 km/h ante 600 km/h do modelo americano).
Também na quinta, circulou por meio de um deputado amazonense a informação
de que o Brasil poderia pedir ajuda dos EUA, que enviariam mais oxigênio num
avião de transporte C-5 Galaxy, um velho gigante que leva até 127 toneladas.
O argumento do militar é menos defensável quando se lembra que o governo
federal quer começar a vacinar pessoas pelo Brasil a partir do dia 20, caso a
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprove os dois imunizantes
que analisa no domingo (17).
Para isso, lembra o mesmo coronel, seria ideal ter toda a frota com o
melhor equipamento disponível. Cada avião pode contar, isso sem mencionar a
questão simbólica das prioridades.
A FAB descreveu cada passo da ida do avião aos EUA em seu canal no
YouTube.
A decisão também ocorreu num momento em que já há questionamentos nas
Forças Armadas acerca da presença do general da ativa Eduardo Pazuello à frente
do Ministério da Saúde. Em dezembro, o comandante do Exército, Edson Leal
Pujol, afirmou que não deveria haver militares na política.
O exercício militar em si é de enorme valor operacional para a FAB, e
faz parte de uma aproximação entre Brasil e Estados Unidos iniciada em 2017, no
governo de Michel Temer (MDB). A presença brasileira estava programada desde o
ano passado.
Diversas coisas saíram desse movimento, como a polêmica presença de
oficiais brasileiros no Comando Sul dos EUA.
O Culminating é, como o nome diz, um dos pontos culminantes da
associação. O exercício de ataque aerotransportado começou em janeiro, com a
presença de 203 homens da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército.
Eles estão treinando com alguns dos melhores especialistas na área do
mundo. O KC-390 se integrou ao grupo agora para seu primeiro exercício militar
conjunto no exterior, não só com a Força Aérea americana, mas também com
canadenses e italianos.
O ponto alto será um treinamento em que o KC-390 voará com 9 gigantes
Boeing C-17 Globemaster e 6 C-130J, a versão mais moderna do Hércules. Numa
noite, o grupo terá de lançar 4.000 paraquedistas em pontos do "território
inimigo" simulado em Louisiana.
Do ponto de vista de emprego, será um marco para o avião, que entrou em
operação pouco antes da pandemia e, nas palavras de um brigadeiro, não parou de
cruzar os céus nem um minuto. Até aqui, ao menos.
Isso não significa uso exclusivo. O KC-390 seguiu com sua campanha de
testes de certificação final, lançando seus primeiros paraquedistas após ser
incorporado à FAB em 9 de dezembro passado. Mas isso em território brasileiro.
A Embraer começou a desenvolver o cargueiro multimissão a pedido da FAB
em 2008, com investimento de R$ 5 bilhões retornáveis em forma de royalties de
exportação ao longo dos anos.
O Brasil encomendou 28 unidades por R$ 7,2 bilhões, em 2009. Dois outros
países já fizeram pedidos, ambos da Otan (aliança militar ocidental): Portugal
(5) e Hungria (2).
Se a visita aos EUA visa capacitar os operadores e testar o avião em
simulações de combate real, há um componente comercial: ele poderá chamar a
atenção dos americanos, donos do maior mercado aeronáutico militar do mundo e
que têm no horizonte a substituição de seus Hércules.
No mercado internacional, o avião é vendido como C-390, e a versão KC
indica que ele tem capacidade de reabastecimento aéreo (C é o código militar
para transporte e K, de avião-tanque).
FOLHAPRESS
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