Se a alta na popularidade assegurou a entrada de Jair Bolsonaro (sem partido) como um jogador importante nas eleições de 2020, o fim da trégua do presidente, ao atacar a imprensa no domingo passado, expõe a velha retórica beligerante com a qual o chefe do Executivo se notabilizou.
Bolsonaro voltou a adotar tom mais beligerante contra a imprensa e adversários (Foto: Marcos Correia.
Antes de
ameaçar de agressão um jornalista do "O Globo" ao ser questionado
sobre repasses de Fabrício Queiroz à primeira-dama Michelle Bolsonaro, o
presidente havia se mantido em silêncio por mais de um mês.
O armistício
tinha razão, aponta cientista político Emanuel Freitas. "Bolsonaro deu
trégua quando houve a prisão do Queiroz. Junto a isso, o medo de qualquer
possibilidade de delação produziu esse recuo e silenciamento, também porque
havia a preocupação com a popularidade", avalia.
Para o
pesquisador da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a declaração ofensiva com
a qual reagiu à pergunta do jornalista expõe um Bolsonaro conhecido de todos
que agora se vê mais à vontade para retomar as investidas a fim de mobilizar
sua base.
"Com
alta por causa do auxílio", continua Freitas, "o presidente se sentiu
mais livre para voltar a ser o Bolsonaro que a gente conhece. A pergunta (sobre
os cheques na conta de Michelle) gira em torno daquilo que é a sua maior
preocupação, o caso Queiroz".
Acompanhando
agenda presidencial há dois dias, jornalista quis saber como Bolsonaro
explicava a origem de R$ 89 mil que haviam saído de contas ligadas a Queiroz e
entrado na da primeira-dama. Primeiro, o presidente desconversou, mencionando
suposto esquema de propina à família Marinho delatado pelo doleiro Dario
Messer. Depois, disse ao profissional: "Vontade de encher tua boca de
porrada".
Ontem pela
manhã, o presidente voltou à carga nas redes sociais. No Twitter, escreveu:
"Há pelo menos 10 anos o sistema Globo me persegue e nada conseguiram
provar contra mim. Agora aguardo explicações da família Marinho sobre a delação
do 'doleiro dos doleiros'".
A mensagem
foi replicada pelos aliados do presidente nas redes. O grupo também chegou a
compartilhar áudio forjado e atribuído ao jornalista que havia interpelado
Bolsonaro no domingo no qual ele supostamente provocava o presidente - a
gravação é falsa.
Ainda de
acordo com Freitas, essa retomada de antiga estratégia de mobilização social do
presidente, mediante fake news, se explica por algumas variáveis, entre elas
uma comodidade em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao deputado
Rodrigo Maia (DEM-RJ).
"Aquele
momento da prisão do Queiroz coincidiu com um conjunto de ações do Supremo de
cerco ao Bolsonaro e inclusive uma postura mais combativa do Maia, que não se
vê mais agora", explica o cientista político.
Sem essa
pressão, diz, o chefe do Executivo "se sentiu mais livre e protegido,
somando-se também a aproximação com o centrão, para, com a popularidade em alta
produzida pela trégua", retomar o figurino de animador da claque.
Sobre a
possibilidade de que essa postura dificulte a vida de aliados nas eleições
deste ano, Freitas projeta que, "em linhas gerais, não há problema para a
base porque o Bolsonaro se constituiu a partir desses enfrentamentos". Em
seguida, cita o pré-candidato à Prefeitura Capitão Wagner (Pros), que tem
recebido apoio de representantes do bolsonarismo em Fortaleza.
"O caso
do Capitão Wagner é particular", avalia, "não sei se esse ataque
respinga nele. Pode haver mobilizações por parte dos adversários, mas não sei
se isso traz prejuízos para ele (na campanha)".
Com
informações portal O Povo Online
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