Pesquisadores da Universidade Federal do
Amazonas (Ufam), em parceria com profissionais de outras instituições, está
investigando o potencial do mastruz contra a Covid-19. O estudo foi publicado
no fast track da Revista Internacional Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, em
maio.
O artigo apresenta, por meio de uma abordagem computacional,
o potencial de compostos presentes na folha do mastruz como inibidores de
enzimas envolvidas na replicação do vírus SARS-CoV-2, responsável por provocar
a infecção do novo coronavírus. A decisão de investigar o mastruz partiu de
relatos conhecidos de que a planta tem efeitos benéficos contra doenças
respiratórias.
Os pesquisadores explicaram que os flavonóides presentes no
mastruz, apresentaram boa capacidade de enzimas inibidoras do covid-19.
“O mastruz (Dysphania ambrosioides, syn. Chenopodium
ambrosioides) tem origem na América Latina e está presente no Brasil e em
várias partes do mundo. Esta planta é relatada por muitos povos no tratamento
de doenças respiratórias e a ela são atribuídas propriedades expectorante,
cicatrizante, anti-inflamatória e antiviral, entre outras. A motivação do
início das pesquisas do mastruz foram, portanto, as propriedades a ela
atribuídas, hipoteticamente úteis para o combate a covid-19”, contam os
pesquisadores.
A abordagem, usada pelo estudo, é teórica (in silico) e
simula processos naturais em um ambiente virtual. No caso específico, a
abordagem utilizada (ancoragem molecular) permitiu simular as interações de
substâncias conhecidas (ligantes) com enzimas específicas do coronavírus.
O resultado sugere as substâncias rutina e nicotiflorina,
dois dos principais flavonóides do mastruz, como possíveis alternativas no
combate ao vírus da Covid-19. O estudo aponta a rutina como uma possível
alternativa à heparina de baixo peso molecular (HBPM), devido aos seus efeitos
anticoagulantes e anti-inflamatórios e sua proteção potencial contra lesões
agudas do pulmão (LAP).
“O estudo computacional é um primeiro passo e tem, por
natureza, diversas limitações. Somente estudos mais aprofundados, in vitro, in
vivo e clínicos, poderão nos conduzir a um porto seguro sobre o uso da planta e
dos seus flavonóides ou outras substâncias que sejam detectadas, como
medicamento – há um caminho longo até lá. Obviamente, são necessárias mais
pesquisas para atestar os resultados relatados no paper. No entanto, nos parece
evidente, a necessidade de investigar o potencial de D. ambrosioides como
fitomedicamento para uso contra Covid-19”, explicaram.
Os pesquisadores esclareceram também que não há comprovação
de que a planta seja um remédio para prevenção ou tratamento o vírus.
“Não podemos indicar o uso da planta como remédio caseiro.
As pessoas têm tomado o chá, tendo ou não a Covid-19, como algumas têm
relatado, inclusive porque a planta tem sido utilizada para diversos fins em
todo o mundo. É evidente que mesmo um chá utilizado por pessoas em diversos
países, como é o caso, pode ser prejudicial se for utilizado de forma errada e
abusiva. É importante pontuar que havendo a Covid-19, o uso da planta não
dispensa os cuidados médicos, pois não existe, até onde temos conhecimento,
estudos conclusivos que garantam que esta planta é remédio contra essa
pandemia”, elucidaram.
Porém, fica claro, na própria pesquisa, que esse estudo não
é conclusivo e precisa ser confirmado ou desmentido por estudos mais
aprofundados. Os próximos passos são os estudos in vitro, in vivo e clínicos.
Há uma parceria entre a Ufam e a Universidade de São Paulo (USP) para seguir
com ensaios de células infectadas com o Coronavírus.
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