O número de cidades do interior
cearense em regime de lockdown, por causa da pandemia do novo coronavírus, foi
ampliado de dois para sete. O anúncio foi feito pelo governador Camilo Santana
na noite de sábado passado e as medidas entraram em vigor nesta segunda-feira
(29). O motivo é o crescimento dos casos de Covid-19, do número de óbitos e da
taxa de ocupação de leitos de UTI.
Além de Sobral, na região Norte,
e Juazeiro do Norte, no Sul do Ceará, que já estavam com medidas rígidas de
isolamento social há 14 e 7 dias, respectivamente, agora, Iguatu, no
Centro-Sul, Tianguá, na Serra da Ibiapaba, e Crato, Barbalha e Brejo Santo, no
Cariri cearense passam a vivenciar regime de lockdown.
O governador Camilo Santana
também sugeriu que as medidas rígidas sejam implantadas por prefeitos das
cidades do entorno onde passam a vigorar o lockdown.
Por decisão do prefeito de
Iguatu, Ednaldo Lavor, o município havia entrado em sistema de lockdown na
última quinta (25). O decreto municipal se estende até a próxima quarta, 1º de
julho. "Os casos vêm aumentando a cada dia e a ocupação dos leitos de UTI
em torno de 90% nos trouxe preocupação", justificou o gestor. "A
decisão do governador do Estado mostra que estávamos no caminho certo".
O acesso à cidade de Iguatu nas
rodovias CE 282, CE 375 e CE 060 será bloqueado a partir desta segunda (29) por
agentes do Demutran e do Detran, enviados pelo governo do Estado. O bloqueio de
rodovias estaduais e municipais e instalação de barreiras sanitárias serão
intensificados nos sete municípios que estão sob regime de isolamento social
rígido a partir de hoje.
O governador pediu mais rigor na
fiscalização para evitar abertura de estabelecimentos não autorizados e
aglomerações de pessoas em agências bancárias, casas lotéricas e supermercados.
Camilo Santana anunciou o envio de mais respiradores para os hospitais do
Interior e ampliação de número de leitos de UTI para a próxima semana. O
secretário de Saúde de Iguatu, Georgy Xavier, destacou a importância de ampliar
a fiscalização, lembrando que só o decreto por si só não faz com que a
população obedeça às medidas restritivas. "O grupo de risco precisa ser
preservado", afirmou.
Tarde
O médico infectologista e
professor da Universidade Federal do Ceará, Ivo Castelo Branco, avalia que as
medidas restritivas chegam tardiamente. "Desde o início que alertávamos
para a tendência de crescimento dos casos no interior", pontuou.
"Acho que agora é tarde".
Ivo estima que se multiplique
por cinco o número de pessoas oficialmente confirmadas para se ter uma ideia do
contágio na população. "Os testes rápidos são falhos e são poucos
aplicados. O que devemos fazer são: lavar mais as mãos com água, sabão ou
álcool 70%, usar máscara e manter o isolamento social. Basta isso",
informou.
O presidente da Associação dos
Municípios do Ceará (Aprece), Nilson Diniz, mostrou preocupação com o quadro
crescente no interior cearense dos casos de Covid-19 e de óbitos pela doença.
"A estrutura de saúde é precária, no interior, o sistema voltou a colapsar
na região Centro-Sul e está no limite no Cariri", explicitou o presidente.
Nilson também lamentou o
comportamento da população e em particular dos jovens. "Os jovens, não
estão nem aí para a doença. Saem às ruas sem máscaras, ficam conversando nas calçadas",
disse. "Infelizmente, a tendência é de continuarmos com taxas crescentes
de casos. Já esperávamos (o aumento), mas não houve medidas mais duras
antecipadamente", completou.
O pesquisador e médico
sanitarista da Fiocruz, Odorico Monteiro, foi outro especialista a frisar a
necessidade de adesão dos moradores. "Os números revelam um certo
descontrole, um aumento considerável e se a população não contribuir com as
medidas preventivas ainda vamos assistir por mais tempo essa onda crescente de casos
e óbitos por Covid-19, se espalhando por outras cidades".
Em Iguatu, neste mês de junho,
houve um aumento de 187 para 790 casos, ou seja, 422,45%. Em relação ao número
de mortes pela doença o crescimento foi de 15 para 28, isto é, 186,66%.
Honório Barbosa/Diário do
Nordeste (Colaboração Wandemberg Belém)
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