Na
contramão do que dizem especialistas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido)
afirmou neste domingo (12) que o novo coronavírus parece estar indo embora do
país. "Parece que está começando a ir embora essa questão do vírus, mas
está chegando e batendo forte a questão do desemprego", afirmou o presidente
em uma videoconferência com líderes religiosas em comemoração à Páscoa.
Valter Campanato/Agência Brasil |
Em uma fala de dez minutos, o presidente repetiu
o que vem fazendo desde o chegada do vírus no país: equiparar a pandemia com o
desemprego. Apesar da afirmação de Bolsonaro, de que haveria um arrefecimento
da crise de saúde, o Brasil registrou 99 mortes de sábado (11) para domingo,
totalizando 1.223 óbitos pelo novo coronavírus, segundo dados do Ministério da
Saúde.
Há pelo menos 22.169 casos confirmados da nova
doença no Brasil. Autoridades têm chamado atenção para a possibilidade de
subnotificação devido à falta de testes no país. A pasta prevê um pico da
Covid-19 entre fim de abril e início de maio para estados com índices de
contaminação mais avançados. Já para o país, de forma geral, esse ápice é
esperado para junho.
A declaração de Bolsonaro também contraria um
artigo científico escrito por pesquisadores brasileiros e por integrantes do
Ministério da Saúde. O texto, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical, menciona um pico do novo coronavírus entre abril e maio e
que a crise deve se estender ao menos até meados de setembro.
Os autores afirmam que o outono está chegando e
que nessa estação e no inverno aumenta a incidência de doenças respiratórias.
São eles pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, da
Fundação Oswaldo Cruz, Universidade do Estado do Amazonas, Fundação de Medicina
Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado e profissionais do Ministério da Saúde.
Na transmissão ao vivo deste domingo, Bolsonaro
disse que vem repetindo há 40 dias que o Brasil tem dois problemas a serem
enfrentados: o vírus e o desemprego. A OMS (Organização Mundial da Saúde)
decretou há pouco mais de um mês, em 11 de março, que trata-se de uma pandemia.
O Brasil registrou seu primeiro caso em 26 de
fevereiro e a primeira morte em 17 de março. Há infecções confirmadas em todas
as unidades da federação. No caso do Amazonas, autoridades afirmam que o estado
já atingiu a capacidade de atendimento da população.
O presidente vem agindo na contramão do que
dizem autoridades sanitárias, o próprio Ministério da Saúde e lideranças
mundiais. Ele tem saído do Palácio da Alvorada, visitado locais públicos,
cumprimentado apoiadores e promovido aglomerações, o que gerou uma série de
críticas.
Bolsonaro defende que sejam isolados apenas
aqueles que integram os grupos de risco, como idosos, diabéticos ou
hipertensos. A recomendação da OMS e do ministério, contudo, é de que haja um
distanciamento social amplo para evitar o colapso do sistema público de saúde.
A live presidencial deste domingo contou com a
participação de líderes religiosos alinhados ao governo, como o pastor Silas
Malafaia e o deputado Marco Feliciano. A mediação da videoconferência ficou a
cargo de Iris Abravanel, esposa do empresário e apresentador Silvio Santos, do
SBT.
FOLHAPRESS
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