Um
grupo de pesquisadores do Brasil, Reino Unido e Itália, coordenado por um
professor brasileiro, desenvolveu um composto com ação potente e seletiva
contra o câncer de ovário. O estudo realizado com o novo composto à base de
paládio – metal raro de alto valor comercial – demonstrou sua eficácia contra
células de tumor de ovário sem afetar o tecido saudável.
Além disso, testes em células tumorais indicaram que o composto age
contra tumores resistentes ao tratamento mais utilizado atualmente no combate
ao câncer de ovário, que é feito com um fármaco chamado cisplatina.
O trabalho foi conduzido durante a pesquisa de doutorado da professora
Carolina Gonçalves Oliveira, atualmente no Instituto de Química da Universidade
Federal de Uberlândia (UFU), que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp).
A cisplatina é um quimioterápico eficiente para tumores no ovário, mas o
tratamento pode causar efeitos colaterais severos aos pacientes, afetando rins,
sistema nervoso e audição.
Segundo o pesquisador do Instituto de Química de São Carlos da
Universidade de São Paulo (IQSC-USP) Victor Marcelo Deflon, que coordenou o
estudo, isso acontece porque a molécula não é muito seletiva, ou seja, afeta
também células saudáveis.“[O novo composto] tem alta seletividade para células
de câncer, isso traz uma expectativa de menos efeitos colaterais.
E ele é ativo em células de câncer resistentes à cisplatina, isso é
ótimo porque é uma alternativa para tratar câncer nesses casos que são
resistentes à cisplatina”, disse Deflon. “Algumas células de câncer aprendem a
se defender da cisplatina, então ficam resistentes”, complementou.
Os pesquisadores identificaram o mecanismo de ação do novo composto e
concluíram que há diferenças em relação à cisplatina. “O fato de ele [novo
composto]atuar em células resistentes à cisplatina mostra que o mecanismo de
ação dele é diferente, então a gente foi estudar qual era o mecanismo e acabou
encontrando que o potencial alvo dele é uma enzima, não o DNA”, disse.
Testes clínicosO composto à base de paládio teve ação na topoisomerase,
uma enzima presente em tumores e que participa do processo de replicação do
DNA, sendo um alvo potencial para quimioterápicos. “Essa enzima tem altas
concentrações em células de câncer porque são células que se reproduzem muito
rápido e ela está relacionada com metabolismo celular para replicação das
células”, disse.
Já a cisplatina age diretamente no DNA, causando mudanças estruturais
nele, impedindo a célula tumoral de copiá-lo. Deflon explicou que são alvos
diferentes, mas tanto a cisplatina como o composto de paládio inibem o processo
de divisão celular do tumor.
A partir dessa descoberta, os pesquisadores devem buscar o
desenvolvimento de versões ainda mais eficientes do composto para obter uma
molécula que possa ser testada em animais com boas chances de sucesso.
Depois de testes bem-sucedidos em animais, a molécula pode ser levada
para testes clínicos.“É uma tentativa de desenvolver um fármaco que tenha menos
efeitos colaterais que a cisplatina e, nesse caso, ele é mais seletivo tanto
para célula que é sensível à cisplatina quanto para célula que é resistente à
substância”, acrescentou.
Fonte Agência Brasil
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