Em discurso na noite de sexta-feira (5), em um evento do PT, Lula
criticou a ação da imprensa na cobertura da Operação Lava Jato e desafiou a
emissora líder em audiência: “Tudo o que eu desejo na vida é disputar as
eleições (de 2018) contra o candidato da Rede Globo de Televisão”, disse o
ex-presidente. “Não foram poucos os almoços e conversas que tive com a família
Marinho (dona da Globo). Eles nunca nos respeitaram. Quero que eles tenham um
candidato que tenha um ‘plim plim’ no peito, para nós dizermos com todas as
letras: ‘vamos regulamentar a comunicação neste país’. Não é possível que
existam nove famílias que sejam donas de todos os maiores meios de comunicação
da nação”, protestou Lula. Menos de 24 horas depois, o ‘Jornal Nacional’ de
sábado repercutiu as críticas de Lula à Lava Jato, mas não abordou a citação da
emissora no discurso. Na mesma noite, o ‘Jornal das Dez’, da GloboNews, usou o
texto do ‘JN’ para expor reações negativas de autoridades às declarações do
líder petista, que ameaçou “mandar prender” quem hoje o acusa, caso volte ao
Palácio do Planalto. Desde o surgimento de seu nome nas investigações da Lava
Jato, Lula nunca tinha atacado a Globo tão duramente. Durante seus oito anos na
Presidência, manteve uma relação cordial com a emissora. Aparentemente,
superara o polêmico episódio do debate com Collor na eleição de 1989. Na
ocasião, matérias veiculadas nos telejornais do canal privilegiaram o então
‘caçador de marajás’, como se ele tivesse vencido o embate contra o petista.
Boni, então vice-presidente de Operações da Globo, confirmou em entrevistas
concedidas nos últimos anos que Roberto Marinho, dono das Organizações Globo,
ordenou a reedição do material do debate para beneficiar Collor. Em 7 de agosto
de 2003, Lula voou de Brasília ao Rio, acompanhado de cinco ministros, para
participar do velório do poderoso proprietário da Globo. “Eu tive dois grandes
momentos (com Roberto Marinho). Um em Paris, quando discutimos as eleições de
89, e outro, na sede de ‘O Globo’, quando discutimos a participação dele no
impeachment do Collor. Os dois momentos foram importantes. Conhecendo melhor as
pessoas é que a gente pode analisar o que leva essas pessoas a tomarem grandes
decisões. Por isso acho que o Brasil perde hoje um grande homem. A gente não
mede as pessoas por divergência política. A gente mede pela importância que as
pessoas tiveram naquilo que se propuseram a fazer. E o doutor Roberto Marinho
foi, inegavelmente, um dos maior es homens de comunicação da história deste
País”, declarou Lula, em matéria exibida no ‘Jornal Nacional’ daquele dia. A
nova postura de Lula parece ter encerrado definitivamente a fase ‘paz e amor’
com o canal mais influente da televisão brasileira. O ex-presidente coloca a
emissora como seu maior rival em 2018, caso consiga emplacar sua candidatura a
um terceiro mandato. O jornalismo da Globo, por sua vez, será cada vez mais
monitorado por partidos, eleitores de Lula e a própria imprensa. Sua
imparcialidade e credibilidade estarão mais em jogo do que nunca. Com função
essencial na Operação Lava Jato, os meios de comunicação – especialmente o
telejornalismo – terão também papel decisivo na já acirrada disputa
presidencial do ano que vem.
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