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Dona Zefinha Tesouro Vivos da Cultura Nordestina

Dona Zefinha diz que a mãe, dona Helena, a ensinou e aprendera, por sua vez, com dona Nanu, que vivia em Santana do Cariri. Curioso que a tradição não se tenha desenvolvido na cidade dos fósseis e dona Zefinha talvez seja hoje a única herdeira do ofício.

Os pares de bilros dançam nas mãos de dona Zefinha. Ela jura que se acostumou com o barulho e é capaz de não ouvi-lo, tão concentrada está na tarefa. Se ela se distrair um pouco, pode errar, e, se isso acontecer, a alternativa é desmanchar, como uma Penélope da Odisséia de Homero, para refazer o trabalho.

Se ela se acostumou com o matraquear dos bilros, quem a visita não pode dizer o mesmo. Não se sabe se o mais importante é o domínio que ela tem da almofada de chita, recheada de palha de arroz, ou se o jogo de suas mãos.

O papelão impressiona pelo pinicado que vai servir de guia para a renda/rede. É como se fosse um programa antigo de computador, com os furos que deverão ser obedecidos para que a rede comece a ganhar forma. Os punhos, as mamucabas, o corpo da rede, tudo é feito numa peça única. As varandas são aplicadas depois. Dona Zefinha preferiria fossem de macramê, com a trama na parede, como teia de aranha, mas tem de fazê-las de crochê para ganhar tempo.

A rede não tem emendas, apesar de ser bem mais larga que a almofada. A peça que está sendo feita é enrolada, vai ganhando um complemento e o resultado surpreende pelo inusitado desse capricho artesanal. Dona Zefinha não pode se dar o luxo de ter dessas redes para pronta-entrega. Geralmente aceita encomendas. São poucos os que sabem desse tesouro do qual a habilidade cearense é capaz. Menos ainda têm dinheiro para adquirir uma dessas redes.

Dona Zefinha passa a arte para as seis filhas e essas transmitem a herança para alguns dos 22 netos dela. A permanência da rede de renda está assegurada, para tranqüilidade dos apocalípticos.


Gilmar de CarvalhoColaborador

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