Um levantamento nacional da Fundação do Câncer divulgado nesta quinta-feira (16) mostra que o tabagismo é responsável por cerca de 85% dos óbitos por câncer de pulmão entre homens e aproximadamente 80% das mortes pelo problema em mulheres.
Maior parte dos brasileiros com câncer de pulmão são diagnosticados na fase mais avançada da doença.
A pesquisa revela que 63,1% dos homens e 63,9% das mulheres com o diagnóstico são atendidos já no estágio IV | Foto - Ilustração/Shutterstock
De acordo com o relatório
"Câncer de Pulmão no Brasil: por dentro dos números", publicado pela
entidade, fumar é o principal fator de risco para essa neoplasia. O boletim
indica que a maior parte dos pacientes com câncer de pulmão é fumante ou
ex-fumante, o que representa 86% dos casos masculinos e 72% dos femininos.
Outro ponto destacado pelo
estudo é que a maioria dos brasileiros com câncer de pulmão começa o tratamento
já no estágio mais avançado da doença. A pesquisa revela que 63,1% dos homens e
63,9% das mulheres com o diagnóstico são atendidos já no estágio IV.
Alfredo Scaff, epidemiologista
e consultor médico da Fundação do Câncer, diz que o diagnóstico precoce dessa
neoplasia é um desafio para todos os sistemas de saúde do país, inclusive os da
área privada, como os de planos de saúde.
Isso porque, além dos sintomas
mais brandos no começo da doença, a sintomática inicial, como dores no peito,
tosse e expectoração com sangue (hemoptise), são comuns a outras doenças, como
tuberculose.
Algumas propostas, como o
rastreamento populacional com tomografias de populações mais expostas (grupos
de fumantes ou de ex-fumantes "pesados") poderiam ajudar a
diagnosticar o problema mais cedo, mas teriam um custo alto com benefícios que
não alcançariam todos os casos. "No Brasil e no mundo inteiro o que nós
temos que fazer é melhorar a capacidade de resposta do nosso sistema",
afirma Scaff.
A prevenção ao tabagismo e a
diminuição do tempo entre diagnóstico e tratamento, portanto, são apontados
pela Fundação como etapas fundamentais para melhorar o cenário.
"A prevenção primária
desempenha um papel crucial na redução da incidência de câncer de pulmão e,
consequentemente, da sua mortalidade. Isso inclui um conjunto de ações de
educação, legislativas, regulatórias e econômicas voltadas para a redução da
iniciação ao fumo e/ou estímulo à cessação", aponta o boletim.
O SUS (Sistema Único de Saúde),
nesse contexto, é uma ferramenta importante e deve ser usada para facilitar o
acesso da população e a investigação dos grupos de risco. "O médico que
encontrar aquele paciente de 50 anos de idade, fumante pesado, que está com
tosse crônica com certeza vai pedir uma tomografia para esse paciente, vai
examinar melhor", avalia o consultor.
relatório constatou que, em
média, dentre os pacientes que chegaram à unidade de saúde sem diagnóstico no
Brasil, mais de 75% conseguiram realizar o tratamento em até 60 dias. Entre os
já diagnosticados, porém, cerca de 50% receberam tratamento após 60 dias, sendo
as regiões Sudeste e Centro-Oeste as com maiores tempos até o tratamento.
O médico Paulo Sérgio Perelson,
oncologista do Hospital Badim (RJ), diz que o tratamento minimiza as chances da
doença se disseminar pelo corpo, tornando o tempo um fator diferencial para a
sobrevida do paciente. A idade em que se para de fumar também impacta o
paciente.
"O ex-fumante sempre vai
ter um risco de morte maior do que um não fumante", diz Perelson. O
oncologista aponta, porém, que estudos já comprovaram que quanto mais cedo a
pessoa para de fumar, mais chances ela tem de reduzir os riscos de mortalidade,
que, em contrapartida, aumentam progressivamente a partir dos 35 anos de idade.
No Brasil, a incidência e a
mortalidade associadas à neoplasia pulmonar ainda são consideradas altas. A
estimativa do Inca (Instituto Nacional de Câncer) é de que, apenas em 2024,
surjam mais de 32 mil casos novos de câncer de pulmão no país, sendo 18 mil
entre homens e 14 mil entre mulheres. Em 2022, 29 mil mortes foram provocadas
pela doença.
Para o levantamento da Fundação
do Câncer foram analisados dados de morbidade de 45.811 pacientes, sendo 25.568
homens e 20.243 mulheres, todos catalogados no Integrador de Registros
Hospitalares de Câncer (IRHC) no período de 2016 a 2020.
Foram avaliados pacientes com
"tumores malignos primários da traqueia, brônquios e pulmões",
incluindo-se variáveis como faixa etária (até 39 anos, 40 a 59 anos, acima de
60 anos), cor da pele e escolaridade.
Considerou-se ainda tempo entre
o diagnóstico e o tratamento (até 30 dias, 31 a 60 dias e acima de 60 dias),
estadiamento clínico (estágio da doença) e tabagismo.
Os pesquisadores também
compararam a mortalidade proporcional por câncer de pulmão a outras causas e a
Covid, no espaço de 2013 a 2022, para evitar a constatação de uma falsa redução
nas mortes por câncer de pulmão.
O fator mais impactante, depois
do tabagismo, porém, é do da escolaridade e, no Brasil como um todo, a doença
reportada pelos registros hospitalares mostra que os pacientes costumam possuir
baixa escolaridade (77% e 74,6% de homens e mulheres diagnosticados,
respectivamente).
O levantamento evidencia ainda
que existe uma diferença acentuada de incidência entre as regiões mais
desenvolvidas do país, sendo a Sudeste a de maiores números absolutos de casos
(14 mil novos em 2024) e a Sul, segunda em valores totais (8.000 casos), a com
maior risco populacional para o desenvolvimento do câncer de pulmão e a com os
mais altos índices de morte pela doença.
Entre o público jovem que pode
reativar o ciclo, o principal perigo são os cigarros eletrônicos (também
chamado de e-cigarettes, dispositivos eletrônicos de fumar ou vapes), que
ganharam popularidade nos últimos anos. Esses produtos, além da nicotina,
substância altamente viciante e prejudicial à saúde pulmonar, contém também
líquidos vaporizados com substâncias tóxicas e cancerígenas, como formaldeído e
acroleina, capazes de danificar os pulmões.
Autor:DANIELLE CASTRO/
FOLHAPRESS
0 Comentários