As tradições de Santo Antônio acompanham Sabrina Ferreira (36 anos) desde a infância. Nas procissões anuais, realizadas no mês de junho; nas simpatias com chá, feito das lasquinhas do pau da bandeira; no “milagre de encontrar pequenas e grandes coisas”. No próximo mês, Sabrina retorna à tradicional festa de Barbalha com um achado que ela afirma ser benção de Santo Antônio: um grande amor. Ela é uma das 15 noivas selecionadas para o casamento coletivo da festa do padroeiro do município, que acontecerá no dia 9 de junho.
De vestido branco e acompanhada
de reisados e bandas cabaçais, a noiva será guiada ao altar. Nas mãos, ela
levará o buquê artesanal, que fez durante as oficinas de arranjos florais,
promovida pela Secretaria da Proteção Social (SPS), por meio da Central de
Artesanato do Ceará (CeArt). “Os buquês estão sendo feitos pelas próprias
noivas e acredito que vão muito cheios. Cheios de sentimentos, de expectativas,
de energias positivas. E o legal disso é que, além da sustentabilidade, estamos
aprendendo a trabalhar com a palha da bananeira e do milho. Aprendemos desde o
início, a extrair a folha; e as flores são lindas, tanto para produzir para
venda, quanto para dar de presente”, pondera.
Parceria da CeArt e da Escola
de Saberes de Barbalha, as oficinas estão acontecendo aos sábados, envolvendo
49 mulheres. Entre elas estão as noivas dessa edição do casamento, bem como
suas mães, irmãs, avós e parentes, que vêm aprendendo a técnica de flores
vegetais com a fibra da bananeira e a palha do milho, tradicional da região
caririense.
Lucas Costa, gerente do
programa de desenvolvimento do artesanato (CeArt) no Cariri, explica que a
ideia é dar significado ao artesanato local, além de gerar renda para a família
que está se formando com o casamento. “Ao escolhermos repassar essa técnica
visamos a abundância da matéria no local. Assim, traríamos sustentabilidade
para o processo garantindo a continuidade da cadeia produtiva”, frisa.
Ele acrescenta que todas as
mulheres passarão por teste de habilidade para se tornarem artesãs e que, no
dia do casamento, haverá a cerimônia de entrega das carteirinhas. “Ao
habilitarmos elas como artesãs de carteirinha, essas noivas poderão se
beneficiar de todos os serviços da CeArt. Participar de feiras, acessar a casa
do artesão, se credenciarem e se tornarem fornecedoras do legítimo artesanato
cearense para a CeArt”, completa.
A Festa do Pau da Bandeira de
Santo Antônio é realizada anualmente na cidade de Barbalha, na região do Cariri
cearense, reunindo milhares de pessoas para os festejos do padroeiro no mês de
junho. As comemorações iniciam na sexta, 31 de maio, e seguirão até 13 de
junho. Além dos buquês, as flores produzidas nas oficinas farão parte da
decoração da festividade, ornamentando o andor de Santo Antônio e enfeitando a
igreja e os bolos de cada noiva.
Sabrina ressalta a felicidade
de ver seu trabalho fazendo parte da cerimônia. Ela subirá ao altar com seu
companheiro de vida, Jackson, a quem conhece desde os 5 anos de idade. Devoto
de Santo Antônio, ela acredita que a conquista do casamento coletivo foi obra
do futuro marido, que rezava ao santo pelo momento.
“Vai ser um dos grandes dias da
minha vida. Como mulher, esse casamento de Santo Antônio vai muito além do
momento sagrado em si. Ele está despertando em mim outra visão, do que eu
posso, até onde eu posso ir como pessoa, como ser humano, porque é um casamento
coletivo”, reflete. “E a introdução do artesanato foi algo que eu achei muito
bacana, pela questão do empoderamento financeiro para as mulheres. Muitas das
noivas não trabalham, então é até uma opção de renda”, completa.
É o caso de Dona Jucy, que atualmente
trabalha como doméstica, mas já visualiza projetos com a tipologia artesanal.
“Eu quero dar continuidade, sempre estar criando coisas novas. Foi uma coisa
muito boa que o projeto trouxe para a gente, para fazermos nosso buquê, ficar
com uma arte de lembrança e aprender uma nova profissão”, ressalta. “Estar
fazendo meu próprio buquê representa tudo. Todo o meu sonho, que está sendo
realizado, sendo construído. E estar mostrando o nosso trabalho é gratificante
demais”, completa.
Ela firmará matrimônio com
Elionilson, com quem vive há 7 anos. A história de amor começou nas redes
sociais, 15 dias depois de uma Festa do padroeiro. “Pedi a Santo Antônio que me
desse um marido bom, um marido que pudesse realizar meu sonho”, lembra. O
primeiro encontro foi na frente da igreja matriz de Aurora, município do noivo.
“A gente sempre teve vontade de casar, mas nunca tivemos condições de pagar um
casamento, porque o valor é absurdo, mas no primeiro ano que a gente se
inscreveu, já fomos abençoados”, celebra.
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