A identificação dos diferentes casos de autismo em níveis segue uma classificação oficial estabelecida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), que ainda em 2013 previu pela primeira vez uma categoria específica, o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Classificação define que há três níveis do Transtorno do Espectro Autista, de acordo com o comportamento e desenvolvimento de cada um, mas diversos fatores devem ser analisados para iniciar tratamentos.
Crianças autistas podem ter nível com déficits diferentes, defende especialista | Divulgação
Dentro dessa categoria, o
documento que orienta a prática dos diagnósticos indica a classificação oficial
que define a existência de três níveis de autismo. Para além do diagnóstico
precoce do TEA, a identificação dos seus diferentes níveis é fundamental para
que se possa estabelecer o melhor acompanhamento para cada pessoa autista.
O professor titular do Núcleo de
Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará (UFPA),
Romariz da Silva Barros, explica que além de indicar a existência dos
diferentes níveis do autismo, o documento especifica os critérios para indicar
os casos pertencentes a cada um. O que fará a diferença na hora de se
identificar o nível de suporte que cada indivíduo pode demandar e que
profissionais deverão atuar para garantir esse suporte. “A depender do nível de
autismo, a pessoa pode demandar um nível de acompanhamento diferente. São três
níveis, de acordo com o Manual Estatístico de Diagnóstico, e eles são definidos
pela quantidade de suporte que a pessoa precisa para exercer suas atividades
funcionais na vida”, considera. “Então, o nível 1 precisa de pouco suporte, o
nível 2 precisa de uma quantidade média de suporte e o nível 3 precisa de muito
suporte”.
Quando considera o suporte que
cada pessoa vai precisar, o professor se refere à necessidade de acompanhamento
de outra pessoa que possa ajudar a pessoa autista na sua rotina diária. “Vamos
falar do nível 3, uma pessoa que precisa de ajuda para desenvolver suas
atividades de vida diária como se alimentar, sua vestimenta, sua higiene
pessoal, sua locomoção entre diferentes pontos do seu bairro, uma pessoa que
não teria autonomia de se locomover sozinha, uma pessoa que dificilmente
atravessaria a rua sozinha ou manteria a sua integridade frente a outros riscos
de pequenos acidentes. Essa pessoa requererá o suporte de uma outra pessoa
constantemente, ela tem pouquíssima autonomia, inclusive na comunicação, pode
até não ter desenvolvido a fala. Então, essa pessoa está no nível 3 de suporte,
ela requer bastante suporte e isso vai requerer um nível de intervenções mais
intensivo e mais multiprofissional do que outros casos”.
Por outro lado, Romariz pontua
que nos casos leves, a necessidade de acompanhamento é menos intensa. “Nos
casos leves, a criança acompanha os colegas na escola, se comunica, tem
dificuldade de sustentar interações, de sustentar amizades, de entender o que
os outros estão dizendo quando eles são irônicos ou quando eles usam figuras de
linguagem, pode ter alguma necessidade de suporte na escola, mas não é
substancial. Então, esse caso mais leve é um outro panorama, o acompanhamento é
menos intenso, é menor”.
Considerando essa realidade, a
composição da equipe multidisciplinar que irá acompanhar cada caso dependerá,
ainda, de outros fatores, como os déficits que cada pessoa apresenta. “Por
exemplo, se há muito déficit na fala, claramente você vai precisar de um
fonoaudiólogo, de psicólogos; se há déficit motores envolvidos, você vai ter um
fisioterapeuta também envolvido; se há baixíssima autonomia nas atividades de
vida diária, você vai precisar de um terapeuta ocupacional envolvido e assim
por diante. Então, de fato, o que define quais profissionais prioritariamente
devem compor esse atendimento multiprofissional são os déficits que são
efetivamente apresentados por cada caso, não por cada nível porque as crianças
de um mesmo nível tem déficits diferentes”, esclarece Romariz Barros.
“Temos que lembrar que o nome do
transtorno é Transtorno do Espectro Autista porque há uma variedade de perfis e
o que o manual faz é tentar estabelecer três perfis, mas cada caso é um caso.
Eu diria que não há três perfis, há milhares de perfis que a gente tenta achar
a semelhança entre esses milhares de casos, tentando definir que sejam três
perfis, mas essa definição é quase arbitrária porque os casos se distribuem
muito mais variadamente ao longo de uma avaliação”.
CONTATO
Outro aspecto importante a ser
considerado, segundo o professor, é que dificilmente será possível identificar
o nível de autismo da criança ou do adulto no primeiro contato. Ainda que o
diagnóstico precoce seja, sim, fundamental, a identificação do nível de suporte
que cada pessoa precisa deve ser estabelecida à medida em que o acompanhamento
se estabelece.
“O diagnóstico precoce no autismo
é fundamental. A resposta de cada caso à intervenção que é feita é melhor
quanto mais cedo essa intervenção começa. As crianças que, porventura, têm a
chance de começar uma intervenção ainda muito novas atingem níveis muito mais
elevados de desenvolvimento”, aponta. “Mas sobre o nível, só se pode perceber
bem qual o nível do diagnóstico entre esses três níveis do autismo com o tempo
porque, inicialmente, quando se vê a criança ou o adulto pela primeira, pela
segunda, pela terceira vez ainda não é impossível distinguir bem qual o nível
de suporte até que você inicie uma intervenção e acompanhe esse caso”.
O especialista aponta que, em
alguns casos, essa identificação inicial do nível apresentado por cada
indivíduo pode sofrer alterações à medida em que a pessoa vai respondendo às
interações com a equipe multidisciplinar. “Quando se inicia uma intervenção,
pode ser que você vá percebendo que o que lhe parecia, talvez, um nível 3 a
criança está avançando tão bem que ela se enquadra melhor, depois de algum
tempo, no nível 2. Ou o que poderia parecer um nível 2, com pouco tempo de
intervenção a criança desenvolveu muita autonomia, comportamento verbal e ela
está mais com o perfil de nível 1. Portanto, a fotografia do caso pode enganar,
mas o movimento, o desenvolvimento da criança ao longo de um tempo pode indicar
melhor em que nível ela está e a criança avançando, aumentando a sua autonomia,
reduzindo a necessidade de suporte, tem alterações no nível de comprometimento
e, portanto, o diagnóstico acompanha”.
DIAGNÓSTICO
IDADE
- Ainda que o diagnóstico precoce
no autismo seja fundamental, o professor titular do Núcleo de Teoria e Pesquisa
do Comportamento da UFPA, Romariz Barros, destaca que nunca é tarde para
iniciar o acompanhamento. Em qualquer idade que se tenha o diagnóstico de
Transtorno do Espectro Autista (TEA), deve-se começar a intervenção, mas o
professor reforça que os casos que começam esse acompanhamento mais cedo têm um
prognóstico melhor.
Autor:(Cintia Magno/Diário do
Pará)
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