Desde que foi eleito pelos cardeais há dez anos, Francisco tem tentado tornar a doutrina católica mais acolhedora para pessoas que se sentem excluídas, como membros da comunidade LGBTQIA+, mas sem mudar nenhuma parte do ensinamento da igreja sobre questões morais.
Vaticano emite novo documento sobre respeito à dignidade humana, reafirmando oposição a mudanças de sexo, teoria de gênero e ao que chama de práticas controversas a exemplo da "barriga de aluguel".
O Vaticano emitiu nesta segunda-feira (8) um novo texto dedicado ao respeito pela "dignidade humana" | ( Divulgação/Vatican Media)
O Vaticano emitiu nesta
segunda-feira (8) um novo texto dedicado ao respeito pela "dignidade
humana". Aprovado pelo papa Francisco, o documento reafirmou sua oposição
a mudanças de sexo, à teoria de gênero e à prática da barriga de aluguel, bem
como ao aborto e a eutanásia. Por outro lado lado, disse que as pessoas LGBTQIA+
devem ser respeitadas.
Denominado de "Dignitas
infinita" (dignidade infinita, em português), o trabalho publicado pelo
Gabinete Doutrinário do Vaticano (DDF) tem quase 20 páginas e pode ser lido
como uma forma de apaziguar as divisões dentro da Igreja, quatro meses após a
polêmica em torno da instauração de bênçãos para casais homoafetivos,
especialmente entre os mais conservadores.
Pela primeira vez de forma tão
específica, o Vaticano denuncia veementemente a "teoria de gênero",
que Francisco chama de "colonização ideológica muito perigosa".
"Qualquer intervenção de mudança de sexo geralmente corre o risco de
ameaçar a dignidade única que uma pessoa recebe no momento da concepção",
afirma o documento.
O documento reconheceu que
algumas pessoas podem ser submetidas a cirurgia para resolver "anomalias
genitais", mas sublinhou que "tal procedimento médico não
constituiria uma mudança de sexo no sentido pretendido".
Segundo a publicação, a
gestação por barriga de aluguel entra "em total contradição com a
dignidade fundamental de cada ser humano" e "a aceitação do aborto na
mentalidade, nos costumes e na própria lei" reflete "uma crise de
moralidade muito perigosa".
A declaração afirma que a
parentalidade substituta viola a dignidade tanto da mãe substituta como da
criança. Em janeiro, o papa chamou a prática de "desprezível" e pediu
uma proibição global.
O papa Francisco aprovou-o
depois de solicitar que o documento também mencionasse "a pobreza, a
situação dos migrantes, a violência contra as mulheres, o tráfico de seres
humanos, a guerra e outros temas", disse o chefe do DDF, o cardeal Victor
Manuel Fernandez, em comunicado.
Ao mesmo tempo, a Igreja
recorda que as pessoas LGBTQIA+ devem ser respeitadas. O documento ainda
denuncia que em alguns lugares, "muitas são presas, torturadas e até
privadas do bem da vida apenas por sua orientação sexual".
Também mencionou o abuso sexual
como uma ameaça à dignidade humana —chamando-o de "generalizado na
sociedade", incluindo dentro da Igreja Católica— bem como a violência
contra as mulheres, o cyberbullying e outras formas de abuso online.
Em janeiro, o papa Francisco
defendeu a bênção a casais do mesmo sexo, medida que ele mesmo aprovou e que
vem sendo contestada por setores conservadores. O pontífice disse que a decisão
em parte foi mal compreendida.
Desde a declaração, divulgada
em 18 de dezembro, o Vaticano tem se esforçado para enfatizar que as bênçãos
não representam "endosso" ou "absolvição" de atos
homossexuais —que a igreja considera pecados—e que não devem ser vistas como
algo equivalente ao sacramento do matrimônio para casais heterossexuais.
Líderes da igreja na África emitiram
uma carta dizendo que a decisão havia causado "inquietação na mente de
muitos" e que não poderia ser aplicada devido ao contexto cultural na
região.
Além dos bispos africanos,
religiosos nos Estados Unidos manifestaram forte oposição à decisão da igreja,
chegando a chamar Francisco de "servo de Satanás". Na França,
sacerdotes disseram a padres que eles poderiam abençoar indivíduos gays, mas
não casais. A igreja ensina que o sexo gay é "pecaminoso e
desordenado".
Autor:Mayra Monteiro com
informações de Folhapress
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