O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes suspendeu o sigilo do vídeo que mostra uma reunião em que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) convoca seus ministros a fazerem "alguma coisa" antes das eleições presidenciais de 2022 para impedir a vitória de Lula.
No encontro em julho de 2022, ex-presidente diz que o Brasil viraria um caos caso o PT assumisse o poder.
Alexandre de Moraes suspendeu o sigilo do vídeo que mostra uma reunião em que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) convoca seus ministros. | Foto: reprodução
"Diante de inúmeras
publicações jornalísticas com a divulgação parcial e editada de trechos da
reunião ocorrida em 5 de julho de 2022 entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e
seus ministros, que faz parte das investigações sobre a tentativa de golpe de
Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (PET 12.100), o
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tornou pública
a íntegra do vídeo", afirma a corte, em comunicado.
No encontro, Bolsonaro diz que
o Brasil viraria um caos caso o PT assumisse o poder, ataca ministros STF e
insinua que as eleições brasileiras seriam fraudadas.
"Os caras estão preparando
tudo, pô, pro Lula ganhar no primeiro turno. Na fraude", diz o então
presidente.
"Não adianta eu ter 80%
dos votos. Eles vão ganhar as eleições", seguiu.
O vídeo foi apreendido pela PF
no computador do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Trechos da reunião foram
obtidos e publicados em primeira mão pela colunista Bela Megale, do jornal O
Globo, na madrugada desta sexta (9).
Foram divulgados também, nesta
manhã, pelo repórter Túlio Amâncio, da Band Brasília.
A Polícia Federal afirma que o
encontro, que reuniu a alta cúpula do governo, teve como finalidade cobrar dos
presentes conduta ativa na promoção ilegal de desinformação e ataques à Justiça
Eleitoral.
"Essa narrativa serviu,
como um dos elementos essenciais, para manter mobilizadas as manifestações em
frente às instalações militares, após a derrota eleitoral e, com isso, dar uma
falsa percepção de apoio popular, pressionando integrantes das Forças Armadas a
aderirem ao golpe de Estado em andamento", segue a PF.
Veja, abaixo, seis trechos da
reunião:
No primeiro, Bolsonaro diz que
o país vai virar uma guerrilha se Lula vencer: "Nós sabemos que se a
gente, se a gente reagir depois das eleições vai ter um caos no Brasil, vai
virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém duvida que a
esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos
votos. Eles vão ganhar as eleições."
No segundo, ele ataca os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE): "Os caras estão preparando tudo, pô, pro Lula ganhar no primeiro turno. Na fraude. Vou mostrar como e por que. Alguém acredita aqui em Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes? Se acreditar, levanta o braço. Acredita que eles são pessoas isentas? Que estão preocupados em fazer justiça, seguir a Constituição? De tudo o que vocês estão vendo?", diz. Em seguida, emenda: "Eu vou explicar a cagada. Cagada do bem, deixar bem claro. Como é que eu ganho uma eleição, um fodido como eu? Deputado do baixo clero, escrotizado dentro da Câmara, sacaneado, gozado, uma porra de um deputado."
No terceiro, ele afirma que ele
e os ministros terão que "fazer alguma coisa antes" das
eleições:"Todos aqui têm uma inteligência bem acima da média. Todos aqui,
como todo povo ali fora, têm algo a perder. Nós não podemos, pessoal, deixar
chegar as eleições e acontecer o que está pintando, está pintando. Eu parei de
falar em voto imp... em eleições há umas três semanas. Vocês estão vendo agora
que... Eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa
antes."
No quarto, ele afirma que é
impossível atestar a lisura das eleições:
"Acho que não tem bobo aqui. Pô, mais claro do que tá aí? Mais claro? Impossível. Eu acredito que essa proposta de cada um da Comissão de Transparência Eleitoral tem que... quem responde pela CGU vai, quem responde pelas Forças Armadas aqui... é botar algo escrito, tá? Pedir à OAB. Vai dar... a OAB vai dar credibilidade pra gente, tá? Polícia Federal... dizer... que até o presen... uma nova conjunta com vocês, com vocês todos... topam? Que até o presente momento, dadas as condições de... de... se definir a lisura das eleições são simplesmente impossíveis de ser atingidas.
No quinto, ele afirma que
"para nós foi excelente" o TSE convocar as Forças Armadas para
fiscalizar a transparência das eleições:
"O TSE cometeu um erro
quando convidou as Forças Armadas a participar da Comissão de Transparência
Eleitoral. Cometeram um erro. Eles erraram. Para nós foi excelente. Eles se
esqueceram que eu sou o chefe supremo das Forças Armadas."
No sexto, ele volta a dizer que
é preciso reagir, porque os caras "não estão de brincadeira".
"Vocês sabem o que está
acontecendo. Achando que esses caras estão de brincadeira? Ah, vamos lá, não
estão de brincadeira! O que está em jogo é o bem maior que nós temos enquanto
estamos aqui na terra, hein? A porra da liberdade! Mais claro impossível. Nós
vamos ter que reagir!"
Na mesma reunião, Bolsonaro segue fazendo ataques aos ministros do TSE Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
E insinua que os magistrados
poderiam até estar recebendo dinheiro para atuar.
"Pessoal, perder uma
eleição não tem problema nenhum. Nós não podemos é perder a democracia numa
eleição fraudada! Olha o Fachin. Os caras não têm limite. Eu não vou falar que
o Fachin tá levando 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Ou que o
Barroso tá levando 30 milhões de dólares. Não vou falar isso aí. Que o
Alexandre de Moraes tá levando 50 milhões de dólares. Não vou falar isso aí.
Não vou levar pra esse lado. Não tenho prova, pô! Mas algo esquisito está
acontecendo", diz Bolsonaro.
Os ministros do governo não respondem.
Os vídeos da reunião são
considerados cruciais pela PF, que aponta uma "dinâmica" golpista na
alta cúpula do governo.
Na decisão em que autorizou as
operações de busca e apreensão e as prisões contra aliados de Bolsonaro, o
ministro Alexandre de Moraes afirma que a reunião comandada pelo ex-presidente
"nitidamente revela o arranjo de dinâmica golpista no âmbito da alta
cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram
parte".
Além de Bolsonaro, também o general Braga Netto, então ministro da Casa Civil, o general Augusto Heleno, que então comandava o Gabinete de Segurança Institucional, e o então ministro da Justiça, Anderson Torres, fazem falas que colocam em dúvida a lisura do processo eleitoral brasileiro.
Autor:MÔNICA BERGAMO-FOLHAPRESS
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