Para a cabeleireira Gisele Oliveira, a ficha da morte da amiga, Lindaci Batista Viegas de Carvalho, ainda não caiu. Linda, como era conhecida, morreu após comer chocolate envenenado, no dia 20 deste mês, no Rio de Janeiro. Uma semana depois, a cabeleireira relembra passo a passo do ocorrido.
Um das amigas da vítima avisou que o presente, sem identificação de remetente nem destinário, poderia representar um risco.
O doce foi enviado por um anônimo | Divulgação/Arquivo Pessoal
Linda
recebeu, no dia do seu aniversário, o doce junto com um buquê de flores. O
presente, porém, não tinha remetente. Receosa, a cuidadora de idosos seguiu
para o salão de beleza que frequentava, na Vila Isabel, zona norte do Rio.
Quando a amiga chegou, Gisele desconfiou do chocolate.
"A ficha
ainda não caiu. Foi tudo muito rápido, uma coisa tão atípica, que só se vê na
televisão", contou Gisele à Folha. "Era um chocolate caseiro feio,
parecia velho. Como a gente não sabia quem tinha mandado, perguntei se era
macumba ou se tinha veneno."
Linda tinha
contado para amigas que vinha recebendo ameaças de uma mulher, que depois foi
identificada como Susane Martins da Silva. Ela foi presa na quarta-feira (24)
sob suspeita de ter envenenado o chocolate. A reportagem tentou contato com a
defesa, mas não teve resposta. No dia da prisão, a advogada Taiza Matos disse
que só se manifestaria após ter acesso aos documentos da investigação.
Gisele conta
que colocou o chocolate na geladeira, enquanto Linda ligava para as pessoas
para saber quem tinha enviado o presente. Quem também acompanhava a situação
era a manicure Telma Oliveira, amiga das duas.
"Linda
sentiu o tempo todo que não era para comer. A gente falou que era para jogar
fora, que não tinha etiqueta nenhuma dizendo de onde era floricultura, não
tinha nome no presente. Era estranho, falamos para jogar fora", disse
Telma.
Linda só
consumiu o chocolate após seu ex-marido dizer, brincando, que ele que tinha
dado o chocolate. Segundo as amigas, a cuidadora se sentiu aliviada e
distribuiu o doce entre elas. Além de Telma e Gisele, uma terceira cabeleira
também comeu um pedaço.
Telma conta
que assim que colocou o chocolate na boca sentiu um gosto estranho e cuspiu.
"Conforme
o chocolate foi derretendo, eu fui sentindo umas bolinhas e um gosto ruim.
Nisso eu cuspi e limpei a minha boca com o avental. Depois eu bebi um copo
d'água e comecei a sentir algo estranho. Pensei, 'será coisa da minha cabeça?'.
Respirei fundo e aquela sensação foi passando".
Um pedaço do
doce foi levado para perícia, e o resultado deve ficar pronto em 30 dias. Um
laudo preliminar, no entanto, indicou a presença de chumbinho, vendido
ilegalmente para matar ratos.
Como os
pedaços que as três amigas de Linda comeram eram pequenos, elas não tiveram
reação ao veneno –diferentemente da vítima, que comeu grande parte da barra de
chocolate.
Linda se
sentiu mal enquanto caminhava para voltar para casa. Ela caiu no chão da rua e
chegou a ser socorrida por policiais militares que estavam perto. Os agentes a
levaram até o Hospital Federal do Andaraí, mas ela já chegou morta à unidade de
saúde.
Tanto Telma
quanto Gisele contam que Linda comentava que vinha recebendo ameaças de Susane.
A manicure lembra que no mesmo dia em que a amiga morreu, elas conversaram
sobre isso. Naquela tarde, Telma chegou a procurar o perfil de Susane numa rede
social, mas não conseguiu encontrar.
A amiga diz
que Linda e Susane tinham se relacionado com o mesmo homem em momentos
diferentes. A cuidadora de idosos tinha reatado o namoro recentemente com ele,
o que gerou ciúmes em Susane. Segundo as investigações da Polícia Civil, esse
foi o estopim para que a suspeita do assassinato ameaçasse a vítima.
A Polícia
Civil chegou até Susane após o motoboy que fez a entrega dos doces procurar a
corporação e denunciá-la. A mulher foi presa temporariamente por 30 dias e
aguarda a audiência de custódia. Linda foi enterrada, na segunda (22), no
cemitério do Catumbi, zona norte da cidade.
"Estou
sonhando com ela todos os dias", conta Gisele. "Ela ia pelo menos
três vezes por semana no salão, às vezes ia até duas vezes ao dia. Era uma
pessoa linda, como o próprio nome. Ela me mandava mensagem todos os dias. Essa
história é macabra", disse.
Autor:Camila Zarur/FOLHAPRESS
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