Após a operação da Polícia Federal que apura possíveis fraudes no sistema ConecteSUS, que emite certificados e cartões de vacinação contra a Covid-19, seis pessoas, algumas delas ligadas diretamente ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foram detidas e o próprio político e sua esposa foram alvos de mandados de busca e apreensão.
Ministro do STF ordenou a busca e apreensão de armas, munições, computadores, passaporte, tablets, celulares e outros dispositivos eletrônicos dos envolvidos na operação da PF.
Alexandre de Moraes determinou novas buscas e apreensões contra alvos da operação da PF | Antônio Cruz/Agência Brasil
Nesta tarde, o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou novas buscas e
apreensões contra os mesmos alvos da operação da PF realizada mais cedo.
Conforme a determinação, o ex-mandatário
deverá ter as armas e o passaporte apreendido. “Busca e apreensão de armas,
munições, computadores, passaporte, tablets, celulares e outros dispositivos
eletrônicos, bem como de quaisquer outros materiais relacionados aos fatos aqui
descritos”, diz um trecho do despacho de Moraes.
BOLSONARO TINHA "PLENA CIÊNCIA"
Em representação encaminhada ao ministro
do STF Alexandre de Moraes, a Polícia Federal aponta Mauro Cid, o ex-ajudante
de ordens de Jair Bolsonaro (PL), como principal articulador de um esquema de
fraude em cartões de vacinação da Covid-19.
Segundo a PF, Bolsonaro tinha ciência da
inserção fraudulenta dos dados no sistema do Ministério da Saúde.
"Jair Bolsonaro, Mauro Cid e,
possivelmente, Marcelo Câmara tinham plena ciência da inserção fraudulenta dos
dados de vacinação, se quedando inertes em relação a tais fatos até o presente
momento", diz a PF.
A polícia cita como indícios do
conhecimento de Bolsonaro o fato do certificado de vacinação do ex-presidente
ter sido emitido nos dias 22 e 27 de dezembro do Palácio do Planalto.
"Tais condutas, contextualizadas com
os elementos informativos apresentados, indicam que as inserções falsas podem
ter sido realizadas com o objetivo de gerar vantagem indevida para o
ex-presidente da República, Jair Bolsonaro relacionada a fatos e situações que
necessitem de comprovante de vacinação contra a Covid-19", diz a PF.
Bolsonaro foi alvo nesta quarta de busca
e apreensão da PF e intimado para depor, mas já avisou que não pretende
comparecer. Ele vai reunir advogados e assessores para discutir os próximos
passos de sua defesa.
A Procuradoria-geral da República foi
contra as buscas solicitadas pela PF. Segundo a PGR, Mauro Cid "teria
arquitetado e capitaneado toda a ação criminosa" à revelia do
ex-presidente.
"Não há lastro indiciário mínimo
para sustentar o envolvimento do ex-Presidente da República Jair Bolsonaro com
os atos executórios de inserção de dados falsos referentes à vacinação nos
sistemas do Ministério da Saúde e com o possível uso de documentos
ideologicamente falsos", diz manifestação assinada pela Lindôra Araújo.
O ministro Alexandre de Moraes discorda
da PGR sobre a tese de que Cid atuou sozinho, mas concedeu a busca somente
contra Bolsonaro, e não contra Michelle, também investigada no caso.
"Não há qualquer indicação nos autos
que conceda credibilidade à versão de que o ajudante de ordens do ex-presidente
da República Jair Bolsonaro pudesse ter comandado relevante operação criminosa,
destinada diretamente ao então mandatário e sua filha L. F. B., sem, no mínimo,
conhecimento e aquiescência daquele, circunstância que somente poderá ser
apurada mediante a realização da medida de busca e apreensão requerida pela
autoridade policial", afirmou Moraes.
A operação chegou perto do núcleo duro do
ex-presidente, com a prisão de três de seus principais auxiliares, o tenente-coronel
Mauro Cid, Max Guilherme e Sérgio Cordeiro.
Tanto Max quanto Cordeiro são 2 dos 8
cargos ocupantes de assessor a que Bolsonaro tem direito como ex-presidente da
República. Este último foi, inclusive, quem cedeu a casa para o ex-mandatário
realizar lives durante a campanha eleitoral, quando foi proibido de fazê-las no
Palácio da Alvorada.
Eles também acompanharam Bolsonaro na sua
temporada nos Estados Unidos, após perder a eleição. Max ainda esteve ao lado
do ex-presidente em suas primeiras viagens pelo Brasil e nos passeios que tem
dado por Brasília, como ao colégio militar.
As medidas são no âmbito de uma
investigação, diz a PF, sobre uma suposta "associação criminosa
constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação
contra a Covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS do Ministério da Saúde."
"A apuração indica que o objetivo do
grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas
ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação
contra a Covid-19", afirma a PF.
De acordo com a Polícia Federal, os alvos
da investigação teriam realizado as inserções falsas entre novembro de 2021 e
dezembro de 2022 para que os beneficiários pudessem emitir certificado de
vacinação para viajar aos Estados Unidos.
Segundo a reportagem apurou, há suspeita
de que os registros de vacinação de Bolsonaro, Cid e da filha mais nova do
ex-presidente, Laura, foram forjados.
A PF diz ainda que as diligências são
cumpridas dentro do inquérito das milícias digitais, que tramita no Supremo
Tribunal Federal e tem como relator o ministro Alexandre de Moraes.
Autor:DOL, com informações da Folhapress/Fábio Serapião
0 Comentários