Atual assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Max Guilherme Machado de Moura confirmou em depoimento à Polícia Federal ter emitido seu certificado de vacinação mesmo não tendo se imunizado contra a Covid.
Max Guilherme, da equipe do ex-presidente, não explicou motivo de obter documento sabendo que não tomou imunizante.
Max foi um
dos presos em 3 de maio na operação Venire pela suspeita de participar do
esquema de fraudes em inserções de dados falsos no sistema de vacinação do
Ministério da Saúde.
Bolsonaro
--que foi alvo de busca--, Max e outros detidos são investigados. Fazem parte
da lista de detidos Mauro Cid e Luis Marcos dos Reis, ex-ajudantes de ordens de
Bolsonaro; Sergio Cordeiro, segurança de Bolsonaro; Ailton Moraes Barros,
candidato a deputado estadual no Rio de Janeiro pelo PL em 2022; e João Carlos
de Sousa Brecha, secretário da Prefeitura de Duque de Caxias (RJ).
Max foi
ouvido no mesmo dia da prisão e decidiu falar à PF sem a presença de um
advogado. Logo no início do depoimento, ele disse que "não se vacinou
contra a Covid, e nem conhece o Centro Municipal de Saúde de Duque de
Caxias".
Embora não
tenha se vacinado, dados do Ministério da Saúde em posse da PF mostram duas
vacinas supostamente tomadas por ele em Duque de Caxias nos mesmos dias que
Bolsonaro: a primeira em 13 de agosto e a segunda em 14 de outubro de 2022.
Questionado
se sabia dos registros de vacina em seu nome no sistema, Max disse à PF que
"ouviu dizer que havia no ConecteSUS diversos dados sobre saúde, como
licenças e afastamento, o que o teria motivado a entrar no aplicativo para
verificar o que constava em seu nome, quando encontrou os registros de
vacinação".
Nesse
momento, ele afirmou ter impresso pela primeira vez o certificado.
Confrontado
pelos investigadores sobre o motivo de ter imprimido o documento no dia 26 de
dezembro de 2022, preferiu não responder.
O assessor de
Bolsonaro, quando questionado se a finalidade da impressão era utilizar o
certificado em viagem para os Estados Unidos no dia seguinte --para burlar as
regras sanitárias--, disse não ter sido cobrada a apresentação do documento na
chegada ao país.
Segundo ele,
o porte do documento era para evitar "pontuais problemas e questionamentos
futuros, visto que não teria se vacinado e aquele registro não corresponder à
realidade".
A PF também o
questionou sobre uma segunda emissão do certificado, em 29 de janeiro de 2023.
Nesse caso, Max optou pelo silêncio e não respondeu.
A postura de
não responder também se repetiu quando ele foi questionado sobre uma nova
impressão do certificado em 8 de março. Max viajou no dia 13 daquele mês para
Orlando, na Flórida, e retornou ao Brasil no dia 30.
Embora não
tenha respondido, ele informou que sempre realizou testes de Covid antes das
viagens e negou que as inserções tenham sido realizadas para que Bolsonaro e seus
assessores pudessem burlar as regras sanitárias nos EUA e no Brasil.
"As
diversas emissões de certificados de vacinação contra a Covid-19 demonstram que
Max Moura tem plena ciência das inserções fraudulentas dos dados de vacinação
realizadas pelo Secretário Municipal de Governo do município de Duque de Caxias
(RJ), João Brecha, no sistema", afirmou a PF no pedido de prisão do
assessor de Bolsonaro.
Segundo a PF,
a única diferença entre a suposta fraude na inserção de dados de vacinação de
Max e de Bolsonaro é que as informações do assessor não foram posteriormente
excluídas.
"Da
mesma forma que os fatos investigados relacionados a Jair Bolsonaro e sua filha
Laura, os elementos informativos colhidos demonstraram coerência lógica e
temporal desde a inserção dos dados falsos no sistema SI-PNI até a geração dos
certificados de vacinação contra a Covid-19", disse a PF sobre Max.
Questionado
sobre sua relação com Bolsonaro, Max afirmou que era pessoa de confiança do
ex-presidente e que tinha acesso à residência oficial durante seu governo.
De acordo com
o relatado, Max comparecia todas as manhãs ao Palácio do Alvorada "para
tomar café com ele e acompanhá-lo até o Palácio do Planalto".
O assessor
também disse que "participava de algumas reuniões, como briefing diários,
mas não de todas, e também de alguns eventos externos com o
ex-presidente".
Para a PF,
Max, Bolsonaro, Mauro Cid e os outros assessores "se associaram para
consecução de um fim comum, qual seja, a prática dos crimes de inserção de
dados falsos de vacinação contra a Covid-19".
"Tais
pessoas puderam emitir os respectivos certificados e utilizá-los para burlarem
as restrições sanitárias vigentes, condutas que têm como consequência a prática
do crime previsto no art. 268 do Código Penal, ao infringirem determinação do
poder público destinada a impedir a propagação de doença contagiosa, no caso, a
pandemia de Covid-19", afirmou a PF.
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