O terceiro mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva completa 100 dias nesta segunda-feira (10), data que será marcada no governo por balanços e anúncios de novas medidas. Em pouco mais de três meses, o destaque da gestão foi, principalmente, a retomada de programas sociais que fizeram sucesso em gestões passadas do próprio presidente e da ex-presidente Dilma Rousseff, mas que haviam sido abandonados ou tiveram forte redução orçamentária nos últimos anos. Outras promessas e metas de campanha ainda dependem de mais tempo e do Congresso Nacional para deslanchar.
Com aprovação da maioria da população e lutando para diminuir a taxa de juros no Brasil, o presidente chega a 100 dias em seu terceiro mandato.
"Conseguimos
chegar aos 100 dias cumprindo um objetivo que o presidente Lula nos deu, [que
é] devolver ao povo brasileiro programas, ações, direitos que o povo teve, mas
que, em determinado momento, foram retirados. Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família,
Mais Médicos e tantos outros, que são programas que têm uma memória afetiva da
sociedade", afirmou o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da
Presidência da República, Paulo Pimenta, em entrevista à TV Brasil.
O
governo também buscou desfazer ações ou omissões do governo anterior, como o
restabelecimento de restrições sobre aquisição de armas e munições, além do
lançamento de uma campanha nacional de vacinação. Os atos golpistas do dia 8 de
janeiro, evento que entrou negativamente para a história do país como grave
tentativa de ruptura institucional, teve como reação do governo uma intervenção
na segurança pública do Distrito Federal e, posteriormente, o lançamento de
propostas para endurecer a legislação sobre crimes contra o Estado Democrático
de Direito.
No
plano internacional, Lula retomou o diálogo internacional, que havia ficado
estremecido com muitos países, chegando a se reunir presencialmente ou por
contato telefônico com cerca de 30 chefes de Estado e de governo. As primeiras
viagens internacionais, para a Argentina, o Uruguai e os Estados Unidos, foram
os pontos altos dessa guinada. O país também foi reintegrado a blocos de países
como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União
de Nações Sul-americanas (Unasul), além de recuperar posições históricas do
país em organismos internacionais, incluindo a própria Organização das Nações
Unidas (ONU).
Na
economia, a principal medida tomada nesse período foi a apresentação do
arcabouço fiscal, como propostas de novas regras para as contas públicas e
controle da dívida do país, que deverão substituir o chamado teto de gastos. O
texto, no entanto, ainda precisará ser aprovado pelo Congresso Nacional.
O
novo governo também freou a privatização de empresas públicas consideradas estratégicas,
uma das promessas de campanha de Lula. Também foi destaque o fechamento de um
acordo com servidores públicos para reajuste de 9% nos salários.
A
Agência Brasil reuniu, a seguir, as principais medidas de 100 dias do governo,
abrangendo programas sociais, economia, segurança pública, relações
internacionais, meio ambiente, direitos humanos, saúde e educação, entre
outras.
Programas sociais
A
área social foi, de fato, o principal foco nas ações de retomada empreendidas
por Lula nesta primeira fase. Alguns desses programas, como o Bolsa Família no
valor de R$ 600 mais o adicional de R$ 150 por criança de até 6 anos de idade,
já está completamente em vigor desde o início de março. Outros programas, como
Mais Médicos, relançado oficialmente há menos de um mês, ainda dependem de
contratações para que os atendimentos cheguem efetivamente na ponta.
"Naturalmente,
existe uma ansiedade, por parte da sociedade, que, muitas vezes, não é o ritmo
que as pessoas gostariam que acontecesse. O programa Mais médicos, por exemplo,
tem que ter um edital, são 15 mil vagas", exemplificou Paulo Pimenta.
Também
é o caso do programa Minha Casa Minha Vida, que vai dar o tom da política
habitacional do governo, que tem a meta de contratar 2 milhões de casas até o
fim do mandato.
Outro
ponto de destaque nesta retomada é o relançamento do Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA). O novo formato, recriado a partir de medida provisória, irá
focar em ampliar a produção proveniente de povos indígenas, quilombolas,
assentados da reforma agrária, negros e mulheres. O PAA foi considerado,
durante governos petistas anteriores, um dos principais programas de combate à
miséria e um dos responsáveis por ter tirado o país do Mapa da Fome da ONU.
Outra
ação lembrada nesses primeiros meses é a reativação do Conselho Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que havia sido desativado no início
da gestão anterior, em 2019. O colegiado é um órgão de assessoramento da
Presidência da República e um espaço institucional para a participação e o
controle social na formulação, no monitoramento e na avaliação de políticas
públicas de segurança alimentar e nutricional e combate à fome.
Populações tradicionais
Uma
das primeiras crises do governo Lula foi justamente a situação vivida pelo povo
Yanomami, em Roraima, em consequência da presença do garimpo ilegal na região,
com graves impactos sociais e na saúde. O governo precisou agir rápido em
diferentes áreas para estancar o problema.
Em
100 dias de governo, Lula também retomou a política de reconhecimento e
titulação de territórios tradicionais quilombolas. O governo também revisou
regras que restringiam a autodeclaração dessas comunidades como remanescentes
de africanos escravizados no país. Há ainda uma expectativa pelo anúncio de
demarcação de novas terras indígenas, o que deve ocorrer nas próximas semanas.
Saúde
Na
saúde, o relançamento do Mais Médicos buscou reafirmar uma marca conhecida de
governos petistas. No entanto, os efeitos diretos e indiretos da pandemia de
covid-19 fizeram o Ministério da Saúde lançar uma nova campanha nacional de
vacinação para reduzir os baixos índices de cobertura, bem como um plano para
reduzir a fila de espera por cirurgias, exames e consultas no âmbito do Sistema
Nacional de Saúde (SUS).
Ao
fazer um balanço dos 100 dias da posse de Lula, e no contexto da gestão da
ministra Nísia Trindade Lima, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva
(Abrasco) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS) veem avanços e acertos nos
primeiros passos.
Uma
medida transversal, que poderá ter impacto geral na saúde em longo prazo, é a
edição de decretos que mudam o marco legal do saneamento básico. Entre as
mudanças está o fim do limite de 25% para a realização de Parcerias
Público-Privadas (PPP) pelos estados. Com isso, as empresas estatais poderão
manter e ampliar novos contratos, além de estimular a participação da
iniciativa privada. A ideia é suprir uma cobertura de saneamento que soma mais
de 100 milhões de habitantes no país.
O
governo também restaurou a política de desenvolvimento industrial da saúde, com
a expectativa de produzir 70% dos insumos do Sistema Único de Saúde no país.
Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a ação recupera
as políticas públicas para a reindustrialização nacional, a redução da dependência
produtiva e tecnológica do mercado externo, para o financiamento da ciência,
tecnologia e inovação e para o acesso universal ao SUS.
Meio ambiente
Na
área ambiental, a retomada do Fundo Amazônia, que estava paralisado desde o
governo anterior, se destaca entre as ações de preservação ambiental. Com mais
de R$ 5,4 bilhões em recursos, o fundo deverá financiar, nos próximos anos,
projetos de proteção a povos indígenas, de controle do desmatamento, combate ao
garimpo ilegal e promoção do ordenamento territorial da região.
O
governo federal também retomou ações de comando e controle. O número de multas
por desmatamento e outras infrações na região amazônica, por exemplo, no
primeiro trimestre de 2023, aumentou 219%, se comparado à média do mesmo
período do período de 2019 a 2022. Os dados são do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Educação
Na
educação, o governo federal oficializou reajuste nas bolsas de pesquisa, com
variações de 25% a 200%, entre bolsas de graduação, pós-graduação, iniciação
científica e Bolsa Permanência. A medida era uma das principais promessas de
campanha para o setor.
Também
foi reajustado o valor do repasse a estados e municípios para custear a merenda
escolar, em aumentos que chegaram a 39%.
A
suspensão por 60 dias da implementação do Novo Ensino Médio (NEM), criado em
2017, também foi destaque na área de educação nos últimos dias. O Ministério da
Educação (MEC) suspendeu os prazos de parte do cronograma nacional de
implementação da nova etapa do ensino básico e aguardará a conclusão da
consulta pública para avaliação e reestruturação da política nacional sobre o
ensino médio. A medida foi bem recebida por entidades e especialistas.
Direitos humanos
Na
área de direitos humanos, os primeiros 100 dias de governo foram marcados pela
recuperação de um diálogo social e fortalecimento de políticas para mulheres,
população negra, comunidade LGBTQIA+, pessoas com deficiência, além da agenda
de memória e reparação dos tempos da ditadura.
Uma
das novidades, por exemplo, foi o lançamento do novo canal do Ligue 180, de
denúncias de violência contra a mulher, via WhatsApp.
No combate ao
racismo, o presidente da República assinou lei que equipara injúria racial ao
crime de racismo. A discriminação torna-se crime imprescritível. O presidente
Lula também sancionou a Lei nº 14.519, de 5 de Janeiro de 2023, que institui o
21 de março como o Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e
Nações do Candomblé. A sanção presidencial foi considerada “um marco histórico”
pela Fundação Cultural Palmares (FCP).
Mais
recentemente, em 21 de março, o presidente Lula assinou decreto que reserva 30%
dos cargos em comissão para negros e indígenas.
Segurança pública
Nos
100 primeiros dias de governo, um turbilhão de eventos fez do Ministério da
Justiça e Segurança Pública protagonista de boa parte das principais agendas do
governo federal. A pasta teve que lidar com as consequências da tentativa de
golpe no dia 8 de janeiro, incluindo a intervenção no governo do Distrito
Federal; além de aspectos da crise humanitária envolvendo o povo yanomami, os
ataques criminosos no Rio Grande do Norte e o combate ao trabalho escravo em
vinícolas do Rio Grande do Sul.
Outra
agenda envolveu o enfrentamento em uma força-tarefa contra violência nas
escolas, especialmente após dois episódios de massacres ocorridos nas últimas
semanas. Coube ainda ao Ministério da Justiça a responsabilidade de começar a
desfazer uma das principais políticas do governo anterior - os decretos que
flexibilizaram o acesso a armas e munições. Além da revogação das regras até
então em vigor, a pasta iniciou amplo processo de recadastramento de armas e
abriu consulta pública para definir novos critérios de concessão de posse e
porte.
Relações internacionais
A
agenda da diplomacia internacional foi, sem dúvida, uma das áreas prioritárias
do presidente Lula nos primeiros 100 dias de seu terceiro mandato. Além de
reinserir o país em foros regionais importantes, como a Unasul e a Celac, o
presidente buscou restaurar pontes com parceiros históricos e estratégicos do
país, como a Argentina, destino de sua primeira viagem internacional.
Lula
também se reuniu, em Washington, com o presidente dos Estados Unidos, Joe
Biden, em fevereiro. Nesta semana, o presidente viaja para a China, maior
parceiro comercial do Brasil. Em maio, no Japão, participará como convidado
especial da Cúpula do G7, grupo que reúne as sete economias mais desenvolvidas
do planeta.
Economia
Na
economia, a tentativa de recuperar o emprego e a renda em um cenário de juros
altos colocou em choque posições do governo, manifestadas pelo Ministério da
Fazenda, com a política monetária do Banco Central. Do ponto de vista fiscal,
os primeiros 100 dias também foram marcados pela expectativa de apresentação
das novas regras fiscais de controle das contas públicas do governo, que vêm
sendo chamadas de arcabouço fiscal. Apresentado no fim de março, o novo
arcabouço combina uma regra de crescimento de gastos atrelada ao crescimento da
receita líquida e uma banda de metas de resultado primário. O texto será
concluído até esta terça-feira (11), quando deverá ser enviado ao Congresso.
Em
apenas cerca de três meses, a equipe econômica também teve de adiar despesas ou
arranjar recursos para cumprir medidas decididas pelo governo. Por falta de
recursos no Orçamento, o aumento do salário mínimo para R$ 1.320 foi adiado
para maio. O dinheiro virá da revisão de cadastros irregulares no Bolsa
Família.
O
Ministério da Fazenda também teve de encontrar soluções para cumprir uma
promessa de campanha: a correção da tabela do Imposto de Renda e a elevação da
faixa de isenção para R$ 2,6 mil. Os recursos virão da regulamentação das
apostas esportivas online, que deverão pagar Imposto de Renda, com as empresas
devendo pagar outorgas ao governo. A promessa de Lula, de isentar a a faixa que
ganha até R$ 5 mil de salário, no entanto, só deve ocorrer no fim do mandato.
Um
ponto celebrado pela equipe econômica nestes primeiros 100 dias foi o
fechamento de um acordo, entre União e as unidades da Federação fecharam, para
a compensação das perdas de arrecadação do Imposto sobre a Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) com a desoneração de combustíveis. O governo
federal compensará os estados e o Distrito Federal em R$ 26,9 bilhões até 2026.
Combustíveis
Outro
acordo celebrado é o reajuste dos servidores do Poder Executivo Federal, que
vão receber um aumento linear de 9%. O auxílio-alimentação teve aumento de
43,6%, equivalente a R$ 200, passando dos atuais R$ 458 para R$ 658. O pacto
foi selado no último mês de março, e os aumentos começam a valer em 1º de maio,
Dia do Trabalhador.
A
retirada de empresas como os Correios, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a
Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev) e o Serviço
Federal de Processamento de Dados (Serpro), de programas de privatização também
cumpriu uma meta para os primeiros meses de gestão. A promessa de reverter a
privatização da Eletrobras, já em vigor após aprovação pelo Congresso Nacional,
ainda não está no horizonte e demandará enorme correlação de forças para
ocorrer.
Autor:Agência Brasil
0 Comentários