A formação do novo governo do petista já refletiu o capital da região, cujo apoio foi crucial para que derrotasse Bolsonaro por margem estreita (50,9% x 49,1%, a menor desde a redemocratização). Da Esplanada lulista, por exemplo, fazem parte ex-governadores de estados nordestinos, entre os quais estão Camilo Santana (CE), Flávio Dino (MA), Rui Costa (BA) e Wellington Dias (PI), todos eles protagonistas na campanha presidencial.
Presidente Lula em cerimônia no Palácio da Alvorada ladeado pelos ex-governadores do Ceará, Bahia e Piauí (Foto: Ricardo Sturket)
Não
apenas o peso político estava mais calibrado geograficamente, mas a agenda do
Executivo tendia a compensar o Nordeste pela vitória, escalando representantes
do território para postos-chave do Planalto.
Noutro
movimento, Lula esboçou um plano de investimentos imediatos no Nordeste,
formulado a partir de conversas com os governadores recém-eleitos, que
apresentaram suas demandas prioritárias.
Segundo
interlocutores do presidente, o item que encabeça a lista de ações do Governo
para a região é, sem dúvida, a retomada das obras dos 1.753 km da ferrovia
Transnordestina.
Parada
desde 2017 e concebida ainda em 2006, no fim do primeiro governo do petista, a
intervenção liga o município de Eliseu Martins, no Piauí, ao Porto do Pecém, no
Ceará.
Sua
finalidade é garantir o escoamento de minério de ferro e produção agrícola,
atravessando o interior dos dois estados, além de Pernambuco, e chegando ao
litoral cearense num de seus ramais – o outro, que vai até o Porto de Suape
(PE), está provisoriamente sem expectativa de execução.
No
imaginário e no discurso políticos de membros da base governista, as obras da
Transnordestina já substituem outro grande projeto que avançou nos governos de
Lula e Dilma Rousseff (PT) e acabou sendo em parte finalizado nas gestões de
Michel Temer (MDB) e de Bolsonaro: a transposição das águas do rio São
Francisco.
Líder
do Governo na Câmara e vice-presidente nacional do PT, o deputado federal José
Guimarães confirma que a Transnordestina é a nova “menina dos olhos” do
Planalto.
“Todo
o Nordeste brasileiro sabe que o compromisso do Lula com a região é
inarredável. Temos um grande projeto que vai integrar a economia e as
exportações dos estados nordestinos, que é a retomada das obras da
Transnordestina. É o grande projeto”, enfatiza o parlamentar.
De
acordo com Guimarães, “assim como Lula fez a transposição, vai fazer nesses
quatro anos a Transnordestina, especialmente o trecho que liga o município de
Missão Velha ao Porto do Pecém”.
Em
seu traçado, a ferrovia deve cortar as cidades de Iguatu, Senador Pompeu,
Quixadá, Baturité e Maranguape, até finalmente chegar ao Porto do Pecém.
Ex-chefe
da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em 2006, quando a
Transnordestina foi apresentada, o também deputado federal José Airton Cirilo
(PT) considera que a obra ferroviária é de fato a ação de maiores envergadura e
impacto prevista para a região nos próximos quatro anos.
“É
uma obra”, diz o petista, “que vai fomentar o desenvolvimento da economia do
Piauí, Ceará, Pernambuco e demais estados, não só para a produção agrícola,
agropecuária e de grãos, que temos em algumas regiões produtivas, mas por causa
da diminuição do custo dos transportes”.
Ainda
conforme Cirilo, depois da conclusão dos trabalhos, estimada para 2026, a
Transnordestina “vai gerar um processo de desenvolvimento e uma cadeia grande
de negócios para o Nordeste, em particular para o Ceará”.
Assim
como a transposição, no entanto, a Transnordestina tem problemas a enfrentar
pela frente. Um deles é a série de atrasos e prazos descumpridos para
encerramento, responsáveis pela demora na condução do serviço.
Desde
2010, pelo menos, a programação para o fechamento das ações foi sendo
progressivamente adiada, até que, em 2017, o Tribunal de Contas da União (TCU)
suspendeu a Transnordestina, dando aval para a sua retomada apenas no ano
passado.
A
partir de janeiro de 2023, outra dificuldade se colocou na mesa de Lula, mas de
ordem política: a disputa entre Ceará e Pernambuco em torno da construção dos
ramais.
Sob
a gestão de Raquel Lyra (PSDB), os pernambucanos pleiteavam que o Governo
Federal encaminhasse ao mesmo tempo as obras nos dois braços, mas o governador
Elmano de Freitas (PT) acabou levando a melhor.
Com
informações portal O Povo Online
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