Representantes do Google e do Facebook afirmaram nesta terça-feira (28), em audiência pública no STF (Supremo Tribunal Federal), que não são omissos no combate a conteúdos ilegais e de desinformação e na remoção de publicações que violam as políticas das plataformas.
Representantes das plataformas participam de audiência pública no Supremo para debater as regras do Marco Civil da Internet.
Ministros do STF | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
As
manifestações foram feitas após ministros do Supremo e do governo federal
voltarem a defender a regulação das redes sociais e de plataformas da internet.
As
companhias se posicionaram em uma audiência pública que discute a
responsabilidade de provedores de redes sociais e de ferramentas de internet
pelo conteúdo gerado pelos usuários, o que pode resultar na flexibilização do
Marco Civil da Internet, principal lei que regula o tema no Brasil.
A
audiência foi convocada em razão de duas ações de repercussão geral (que
incidem em casos similares), de relatoria dos ministros Dias Toffoli e Luiz
Fux, que serão julgadas no Supremo sobre o tema.
O
evento vai até esta quarta (29). Também serão ouvidos integrantes do governo,
estudiosos e entidades civis, além de outras big techs que podem ser afetadas
pelas ações.
O
ponto central da audiência pública é a constitucionalidade ou a necessidade de
regulamentação complementar do artigo 19 do Marco Civil da Internet.
Esse
dispositivo diz que "com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e
impedir a censura", os provedores somente poderão ser responsabilizados
civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se,
"após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito
e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível
o conteúdo apontado como infringente".
Ao
abrir os trabalhos, o ministro Dias Toffoli disse que o tema central das ações
em julgamento é a "responsabilidade civil de provedores de aplicações de
internet por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros".
Ele
citou parcerias que as redes sociais firmaram, por exemplo, com o TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) e afirmou que a audiência acontece "num momento
marcado pelo maior amadurecimento e reflexão por parte das instituições
nacionais e estrangeiras e das próprias entidades privadas".
O
relator do inquérito das fake news, que é cerceado de controvérsias desde a sua
instalação, Alexandre de Moraes, disse que o modelo atual de regulação das
redes é "absolutamente ineficiente, destrói reputações, destrói
dignidades".
Toffoli
ainda que houve o aumento da depressão e suicídio entre adolescentes e citou os
ataques às sedes dos três Poderes.
Outros
ministros presentes na audiência, como Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes,
também se manifestaram a favor da regulação das plataformas, como já haviam
feito antes.
Gilmar
disse que os ataques de 8 de janeiro têm relação com o "uso abusivo da
internet", e Barroso acrescentou que há sérias ameaças à democracia e aos
direitos fundamentais em discursos de ódio e teorias da conspiração
proliferados na internet.
Também
se manifestaram neste sentido os ministros Flávio Dino (Justiça), Jorge Messias
(Advocacia-Geral da União) e Silvio Almeida (Direitos Humanos).
O
Facebook Brasil, afiliado à Meta (dona do Facebook e Instagram), foi
representado na audiência pelo advogado Rodrigo Ruf, que disse que a empresa é
contra a declaração de inconstitucionalidade do artigo 19, "nada obstante
apoie o salutar debate sobre regulação complementar".
Segundo
ele, a Meta tem investido bilhões de dólares para o cumprimento dos seus termos
de uso e políticas, e "deu imediato cumprimento a centenas de ordens
judiciais dos tribunais superiores, inclusive no contexto das investigações dos
atos criminosos de 8 de janeiro".
"Apenas
durante o primeiro turno das eleições, a Meta rejeitou cerca de 135 mil
anúncios eleitorais. Foram removidos mais de 3 milhões de conteúdos no Facebook
e no Instagram por violações às políticas que vedam o conteúdo violento, de
incitação à violência e discursos de ódio, números para o Brasil, entre agosto
de 2022 e janeiro de 2023", afirmou Ruf em sua manifestação.
Estas
postagens incluíam temas como pedidos de intervenção militar e demais
tentativas de subversão do estado democrático de direito. Mais de 3 milhões
desse tipo de conteúdo foram proativamente removidos pela Meta. Sem qualquer
necessidade de intervenção judicial."
Segundo
a falar, o advogado do Google, Guilherme Sanchez, disse que somente no Brasil
em 2022 o YouTube removeu mais de um milhões de vídeos que violavam as
políticas da empresa contra desinformação, discurso de ódio, violência, assédio
e segurança infantil.
"Esse
número contrasta com uma quantidade muito menor de requisições judiciais para a
retirada de conteúdo", afirmou.
"Responsabilizar
plataformas digitais, como se elas próprias fossem as autoras do conteúdo que
hospedam ou exibem, levaria a um dever genérico de monitoramento de todo o
conteúdo produzido pelas pessoas. Isso iria desnaturar inteiramente o ambiente
plural da internet e criar uma pressão para remover qualquer discurso
minimamente controverso."
Nas
últimas semanas, ministros do Supremo têm insistido no discurso sobre a
necessidade de uma regulamentação das redes sociais para evitar a proliferação
de conteúdo de desinformação.
No
último dia 7, o decano do STF, ministro Gilmar Mendes, disse que a regulação
das redes sociais deve ser feita o quanto antes e que as condições para que
isso aconteça foram fortalecidas após os ataques golpistas de 8 de janeiro.
"É
urgente a disciplina das redes sociais", afirmou ele, em um evento.
"É fundamental que as plataformas sejam responsabilizadas pelas suas ações
ou pelas suas omissões", acrescentou o ministro do Supremo.
Antes,
Barroso também havia defendido em conferência na Unesco a responsabilização das
plataformas da internet antes de ordem judicial em casos de conteúdo que sejam
incitação a crimes, terrorismo e pornografia infantil.
No
Congresso, também tramita um projeto de lei que trata do tema, apelidada de Lei
das Fake News. O Executivo também negocia uma proposta a ser incorporada ao
projeto de lei.
ENTENDA O QUE ESTÁ EM DEBATE
Qual o debate sobre a regulação
das redes sociais?
Sob
o impacto dos atos golpistas do 8 de janeiro, o governo Lula elaborou proposta
de medida provisória que obriga as redes a removerem conteúdo que viole a Lei
do Estado Democrático, com incitação a golpe, e multa caso haja o
descumprimento generalizado das obrigações. Diante da resistência do Congresso,
o Planalto recuou e discute incluir essas medidas do PL 2630, o chamado PL das
Fake News.
O que é o Marco Civil da
Internet?
É
uma lei com direitos e deveres para o uso da internet no país. O artigo 19 do
marco isenta as plataformas de responsabilidade por danos gerados pelo conteúdo
de terceiros, ou seja, elas só estão sujeitas a pagar uma indenização, por
exemplo, se não atenderem uma ordem judicial de remoção. A constitucionalidade
do artigo 19 é questionada no STF.
Qual a discussão sobre esse
artigo?
A
regra foi aprovada com a preocupação de assegurar a liberdade de expressão. Uma
das justificativas é que as redes seriam estimuladas a remover conteúdos
legítimos com o receio de serem responsabilizadas. Por outro lado, críticos
dizem que a regra desincentiva as empresas e combater conteúdo nocivo.
A proposta do governo impacta o
Marco Civil?
O
entendimento é que o projeto abra mais uma exceção no Marco Civil. Hoje, as
empresas são obrigadas a remover imagens de nudez não consentidas mesmo antes
de ordem judicial. O governo quer que conteúdo golpista também se torne uma
exceção à imunidade concedida pela lei, mas as empresas não estariam sujeitas à
multa caso um ou outro conteúdo violador fosse encontrado na plataforma.
Como o Congresso tem reagido à
discussão?
Parte
do Legislativo critica a proposta do Planalto por acreditar que a
responsabilização levaria as empresas a se censurarem para evitar sanções. Além
disso, são estudadas medidas como a criação de um órgão regulador para as
plataformas e a imunidade parlamentar nas redes, ponto defendido por Arthur
Lira, presidente da Câmara.
Autor:José Marques - Folhapress
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