A mortalidade prematura por câncer no Brasil deverá diminuir no período de 2026/2030. A projeção foi feita por pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (Inca), em comparação à mortalidade prematura observada entre 2011 e 2015, para a faixa etária de 30 a 69 anos de idade, com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Mortalidade (SIM). Apesar disso, a redução prevista ficará ainda distante da Meta 3.4 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que estabeleceu até 2030 diminuição do risco de morte prematura de um terço para doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), que incluem os diversos tipos de câncer.
A projeção foi feita por pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
A pesquisadora Marianna Cancela, da Coordenação de
Prevenção e Vigilância do Inca (Conprev), informou à Agência Brasil que, para
certos tipos de câncer, há previsão de aumento e, para outros, de queda. Para
2026/2030, a previsão é de uma redução nacional de 12% na taxa de mortalidade
padronizada por idade por câncer prematuro entre os homens e uma queda menor,
de 4,6%, entre as mulheres.
Em termos regionais, há uma variação de 2,8% entre
as mulheres, na Região Norte, a 14,7% entre os homens, na Região Sul. As
previsões foram calculadas usando o software Nordpred, desenvolvido pelo
Registro de Câncer da Noruega, e amplamente utilizado para fazer previsões de
longo prazo sobre a incidência e mortalidade por câncer.
Marianna explicou que, quando se fala em número de
casos, todos os tipos de câncer terão aumento no período compreendido entre
2026 e 2030 por duas razões. A primeira envolve o aumento da população e
mudança na estrutura populacional, com o envelhecimento de boa parcela dos
brasileiros, para quem a maioria das DCNTs são mais prevalentes; a segunda
razão é o aumento dos fatores de risco.
De acordo com o artigo do Inca Os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável para o Câncer Podem Ser Cumpridos no Brasil?,
publicado na revista científica Frontiers in Oncology no último dia 10 de
janeiro, as DCNTs responderam por 15 milhões de mortes prematuras na faixa de
30 a 69 anos, em todo o mundo, em 2016, sendo que mais de 85% dessas mortes
ocorreram em países de baixa e média renda.
O câncer foi responsável por 9 milhões de mortes
anualmente, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares (17,9 milhões de
mortes/ano), considerada a principal causa de morte por DCNT no mundo. A
perspectiva é que as DCNTs continuem a aumentar em países de baixa e média
renda, contribuindo para perdas econômicas associadas a mortes prematuras da
ordem de US$ 7 trilhões nesses países, nos próximos 15 anos.
Maior
aumento
De acordo com o estudo do Inca, o câncer de
intestino, ou colorretal, é o que deverá apresentar maior aumento de risco de
óbitos prematuros para homens e mulheres até 2030, no Brasil, de cerca de 10%.
Por regiões, o Norte do país deve mostrar o maior aumento (52%) entre os
homens, seguido pelo Nordeste (37%), Centro-Oeste (19,3%), Sul (13,2%) e
Sudeste (4,5%). Segundo Marianna Cancela, a incidência mais alta “é
consequência da chamada ocidentalização, dos hábitos de vida, maior obesidade,
sedentarismo, a questão da alimentação, com preferência por consumir produtos
industrializados”. Nas regiões onde a incidência está mais baixa atualmente, é
previsto um aumento maior. Entre as mulheres, o Nordeste lidera, com projeção
de expansão de 38%, seguido por Sudeste (7,3%), Norte (2,8%), Centro-Oeste
(2,4%) e Sul (0,8%).
O câncer de intestino é o segundo tipo mais
incidente no país, ficando atrás do de próstata entre os homens, e do de mama,
entre as mulheres. O Inca estima que, em cada ano do triênio 2023/2025, serão
diagnosticados cerca de 46 mil casos novos de câncer colorretal, correspondendo
a cerca de 10% do total de tumores diagnosticados no Brasil, à exceção do
câncer de pele não melanoma.
Outros
tipos de câncer
Marianna Cancela informou que o câncer de pulmão
entre os homens foi o que apresentou maior projeção de queda, próximo de 30%,
evidenciando a efetividade de todas as políticas contra o tabagismo
implementadas desde a década de 1980. Para as mulheres, a projeção é de aumento
de probabilidade de morte prematura de 1,1%.
No câncer de colo de útero, observou-se queda na
mortalidade prematura em todas as regiões. “Só que, mesmo com essa queda, a
taxa de mortalidade prematura na Região Norte continua sendo extremamente
elevada, na comparação aos outros lugares e à média nacional”. No Norte do
Brasil, a mortalidade prematura era mais alta do país entre 2011/2015: 28
mortes por 100 mil pessoas, contra média nacional de 16 óbitos por 100 mil.
A projeção para 2026/2030 na Região Norte é de 24
mortes por 100 mil, enquanto a média brasileira fica em 11 óbitos por 100 mil.
“Mesmo com essa queda, continua sendo muito elevada”, avalia Marianna. A
pesquisadora destacou, que além de ser uma região complicada em termos de
logística, existe no Norte brasileiro um vazio assistencial. “Para certos tipos
de câncer, a gente vê exatamente isso que, mesmo com queda, o número continua
extremamente alto.”
Em relação ao câncer de mama, as projeções para até
2030 são de queda no Sudeste, certa estabilidade no Brasil e na Região Sul e
aumento nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Marianna esclareceu que,
nesse tipo de câncer, há fatores hormonais que tornam complicado evitar a
doença. A diminuição do número de filhos por mulher e o fato de uma mulher não
ter tido filhos aumentam o risco de câncer de mama. “A amamentação é um fator
protetor”. Tal como acontece com o câncer colorretal, aumentam o risco de
câncer de mama a questão da alimentação, p sedentarismo e o consumo de álcool.
Outro fator que aumenta o risco é o fato de as mulheres ficarem grávidas mais
velhas, adiando a maternidade. “Tudo isso acaba resultando em aumento do
risco.”
Sobre o câncer de estômago, apesar de ser projetada
queda, a mortalidade prematura continua alta na Região Norte. É um câncer de
origem infecciosa, que acomete mais homens que mulheres. “A gente tem aí uma
mistura de câncer de países em desenvolvimento com câncer de países
desenvolvidos que resulta nessa dupla carga de doença”. Entre 2011/2015, a
mortalidade prematura de câncer de estômago no Brasil estava em 20 óbitos por
100 mil pessoas. No Norte, eram 21 mortes por 100 mil, no Sudeste, 23; e no
Sul, 24. “Só que a queda [projetada] nas outras regiões foi muito mais
acentuada”. A Região Norte tem queda prevista até 2030 para 19 óbitos por 100
mil habitantes; Sudeste e Sul, para 13 casos, cada, e Brasil, para 12. Ou seja,
a queda é mais acentuada nas regiões mais ricas do país, constatou o estudo.
Políticas
públicas
O câncer respondeu, em 2019, por 232.040 óbitos no
Brasil, em todas as idades. Na faixa de 30 a 69 anos, foram 121.264 mortes. “No
geral, a gente tem visto uma leve queda”, disse a pesquisadora. Entre
2011/2015, eram 145,8 casos por 100 mil entre homens e 118,3 casos por 100 mil
entre mulheres. Para 2026/2030, a projeção é de 127,1 óbitos por 100 mil entre homens
(queda de 14,8%), e 113 casos entre mulheres, por 100 mil (-4,7%). Isso foi
observado em todas as regiões, exceto no Norte, onde se prevê um ligeiro
aumento (1,3% nos homens e 3,5% nas mulheres). Marianna reiterou que, mesmo com
essa queda, vai ter aumento de casos porque acaba acompanhando o envelhecimento
populacional.
O artigo do Inca conclui que há necessidade de
políticas públicas, especialmente para prevenção do câncer, de maneira
multissetorial. “Tem que ter um acesso mais eficaz a todas as fases de controle
do câncer: prevenção, diagnóstico precoce, tratamento, para poder garantir que
tenha uma diminuição”, destacou a pesquisadora.
Ela ponderou, que tal como ocorreu em relação ao
câncer de pulmão, os esforços têm que ser contínuos e de longo prazo, porque o
câncer é uma doença que tem uma latência longa, ou seja, precisa de anos de
exposição para se desenvolver. Por isso, precisa de políticas de prevenção
junto à população durante anos, para que possa haver queda nos números.
Para prevenir o aparecimento de câncer, os
especialistas recomendam não fumar, não beber, praticar atividade física,
evitar o sedentarismo, dar preferência a alimentos não processados. As pessoas
devem sempre prestar atenção a sinais que o corpo dá e não hesitar em procurar
atendimento médico, recomendou a pesquisadora do Inca.
Autor:Ag. Brasil
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