Procurada pela reportagem, a professora pediu desculpas pela atitude,
disse que se excedeu nas palavras e que sua profissão não serve a preferências
políticas.
"No calor das eleições, acabei me excedendo nas palavras",
afirmou. "Peço desculpas pelo ocorrido, as eleições passam e a educação
fica", afirmou.
Na mensagem, Susan se dirigiu especificamente a dois estudantes, a quem
pediu para buscarem outro professor para auxiliar nas pesquisas, e disse que
entregaria à universidade uma "carta de desistência".
Um deles é Debora Arraes, 35, que está no terceiro ano do doutorado na
área de farmacognosia (que estuda princípios ativos naturais, animais e
vegetais).
Bióloga e ecóloga, ela também é professora da
Universidade Estadual do Amapá, e seu doutorado, vinculado à rede de
pós-graduação Bionorte, tem como foco a pesquisa de venenos de sapos. Para
isso, ela usa o laboratório dirigido pela professora.
"Eu sou do doutorado, mas no grupo do laboratório que ela mandou as
mensagens estão também alunos de iniciação científica, do PET [Programa de
Educação Tutorial], mestrado e também de outros programas de
pós-graduação", disse Arraes à reportagem. Segundo ela, ninguém mais se
manifestou no grupo desde então.
A pesquisadora diz que costuma fazer publicações simples sobre política
em suas redes sociais pessoais, inclusive no dia das eleições, mas que nunca
mandou nada do tipo no grupo do laboratório. "Nem toquei nesse assunto com
ela, nunca houve discussão sobre isso."
Ela afirma que se sentiu vítima de perseguição
política e que a professora já a havia tratado com rispidez, mas nunca nesse
nível.
Nas suas redes sociais, Sheylla Susan já teve publicações retiradas do
ar por infringirem a política de fake news, comparou o presidente eleito Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) ao ditador nazista Adolf Hitler e postou uma imagem
de uma seringa médica mesclada a uma munição de arma de fogo para criticar
informações sobre a pandemia.
A postagem diz "eu confio na ciência, mas acontece que",
citando em seguida "censura", "condicionamento social" e
"instauração de pânico" –ecoando argumentos de bolsonaristas contra
medidas de contenção da Covid-19.
A foto de perfil da pesquisadora no WhatsApp diz "estou com
Bolsonaro" e tem uma imagem do presidente.
Em nota nas redes sociais, a Universidade Federal do Amapá caracterizou
o caso como "assédio", disse repudiar a conduta e afirmou que
"serão adotadas as providências necessárias" após a apuração dos
fatos.
A rede Bionorte disse que realizou a "instalação de comissão de
sindicância para apuração dos fatos", que é "totalmente contrária a
qualquer tipo de discriminação" e que tomará "medidas cabíveis"
sobre o caso.
A aluna Arraes também recebeu apoio público do sindicato de servidores,
de diretores da instituição, da Universidade Estadual do Amapá -onde é
professora- e diz que a Bionorte, pela qual cursa o doutorado, também tem lhe
prestado o amparo necessário. Também afirma que recebeu mensagens de diversos
professores e pesquisadores.
Natural do Pará, ela atualmente vive em Macapá, com
o marido e dois filhos. Seguiu carreira acadêmica em universidades públicas e
com auxílio de programas do governo federal.
"Me senti tolhida, ofendida, violentada, desrespeitada.
Principalmente porque sou uma pessoa preta, de família pobre. A trajetória da
minha vida caminha junto com a expansão e melhoria das universidades
públicas", diz ela.
Agora, Arraes ainda pensa em como seguir com sua pesquisa, que já teve
um primeiro artigo acadêmico submetido à revisão e tem um segundo em produção.
"O laboratório é essencial para a minha pesquisa. Agora pretendo
buscar novas parcerias, ver onde posso trabalhar com isso. Não tenho certeza
sobre o que vai acontecer", afirma.
João Gabriel / Folhapress
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