O passado assombra o futuro do presidente Jair Bolsonaro e de seus familiares. Esta é a conclusão da jornalista Juliana Dal Piva, autora do livro "O negócio do Jair - A história proibida do clã Bolsonaro" (Zahar, 2022), que consolida os esquemas que ficaram conhecidos como "rachadinhas", segundo a autora, para enriquecimento do presidente e seus filhos Flávio, Eduardo e Carlos ao longo de sua trajetória política.
Livro detalha como o clã Bolsonaro montou um esquema de repasses de salários dos funcionários nos gabinetes
De
acordo com Dal Piva, a família atua em bloco: filhos e pai seriam uma coisa
só. "Tão importante quanto as provas reunidas para denunciar
Flávio Bolsonaro pela prática ilegal da rachadinha e a lavagem de dinheiro foi
constatar como diversos detalhes mostravam um aspecto de que Bolsonaro falava
com frequência: seu gabinete e os dos três filhos eram uma coisa só",
escreve Dal Piva.
No
capítulo final do livro, "O clã contra-ataca", ela
faz considerações sobre as manobras empregadas pelo presidente para interferir
nas investigações do caso, iniciadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro,
que foram anuladas pela incompetência de foro da primeira instância, mas que
poderão a vir a ser novamente denunciadas pelo Ministério Público, sustenta a
autora.
Revelado
ao final de 2018, o escândalo da "rachadinha" é
o fio de um novelo que Juliana Dal Piva puxa para alcançar os anos 1990, início
da carreira política de Jair Bolsonaro, ex-capitão do exército, desde os 33
anos na reserva remunerada, quando elegeu-se para a Câmara Municipal do Rio de
Janeiro pela primeira vez.
Em
trabalho de investigação e pesquisa, sustentada em dezenas de entrevistas e
ampla documentação, Dal Piva reconstrói o sistema organizado de desvio de
verbas pública, apontando indícios de que remonta às primeiras disputas
eleitorais de Jair Bolsonaro, com o envolvimento dos filhos, ex-mulheres,
parentes, amigos e milicianos.
Depois
de 811 dias de investigação - dois anos e dois meses -, os procuradores de
Justiça do Rio de Janeiro denunciaram Flávio Bolsonaro em 4 de novembro de
2020. "Flávio Bolsonaro foi apontado como líder de uma
quadrilha que exigia cerca de 90% dos salários de seus funcionários de
gabinete", afirma Juliana Dal Piva.
Dinheiro
pagava despesas pessoais da família Bolsonaro
A
denúncia em face do senador Flávio Bolsonaro, Fabrício José Carlos de Queiroz e
outros 15 investigados, foi pela prática dos crimes de organização criminosa,
peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita, ocorridos entre os anos
de 2007 e 2018, quando o senador fora deputado estadual na Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro.
"Por
uma mesada, essas pessoas sacavam e entregavam praticamente todo o salário a
Fabrício Queiroz, subtenente da reserva da PM- RJ, ex-assessora de Flávio e
amigo de longa data de Jair. Com dinheiro vivo, o primogênito do presidente
pagava despesas pessoais, comprava imóveis e injetava esses recursos no caixa
de uma loja de chocolates de sua propriedade em um shopping da Zona Oeste do
Rio, para fazer lavagem de dinheiro", afirma Dal Piva.
As
provas reunidas na denúncia que segundo Dal Piva traçam o caminho do dinheiro
desviado dos assessores empregados no gabinete da Assembleia Legislativa do Rio
de Janeiro de Flávio Bolsonaro até o próprio parlamentar foram anuladas. Tal
foi possível a reboque da anulação das quebras de sigilo bancário no âmbito do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), depois de vitoriosa a tese de Flávio
Bolsonaro junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) de que deva ser mantido o
foro privilegiado de um parlamentar eleito senador.
Reconhecido
o foro especial de Flávio Bolsonaro, o inquérito foi retirado do juiz da
primeira instância, Flávio Itabaiana. "Com as decisões do STF e
do STJ, a investigação voltou à estaca zero. Não chegou a ser totalmente
anulada, mas ficou com o revés de exigir que se produzisse de novo todas as
provas financeiras que mostraram o caminho do dinheiro dos assessores até Flávio",
escreve Dal Piva.
A
jornalista assinala que, embora pouco provável que ocorra antes do resultado
das eleições de 2022, a Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) do Rio de Janeiro
poderá determinar novos atos para a apuração do caso, após o arquivamento pelo
órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro da primeira denúncia, o
que ocorreu em 16 de maio de 2022. "A PGJ fluminense ficou com
o caminho livre para retomar as investigações e um eventual novo pedido de
quebra de sigilo de Flávio, Queiroz (Fabrício Queiroz, acusado de ser o
operador do esquema) e dos demais envolvidos", afirma ela.
Essa
possibilidade, explicaria de acordo com a autora, as manifestações de
preocupação de Jair Bolsonaro do que pode lhe acontecer se não for
reeleito. "Tanto que tenta se cercar de todas as maneiras,
proibindo acesso até a informações básicas da transparência como a de quem o
visita no Planalto ou na Alvorada. Dados que eram públicos em governos
anteriores agora possuem cem anos de sigilo", avalia Dal
Piva.
A
autora de "O negócio de Jair" conclui: "Jair
Bolsonaro e seus filhos temem que as pessoas conheçam quem eles realmente são,
sua vida e seus empreendimentos secretos. Mas a história proibida da família
Bolsonaro não será apagada", garante a autora.
Com
informações portal Correio Braziliense
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