Líderes das pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) deverão estar lado a lado na noite deste domingo (28), no primeiro debate presidencial do ano.
O debate acontece neste domingo (28), com início previsto para as 21h, na Band.
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), respectivamente. | Reprodução/Instagram |
O evento é organizado em pool por Folha, UOL e TVs
Bandeirantes e Cultura, com início previsto para as 21h.
A última participação do petista em um debate foi
em 27 de outubro de 2006, quando disputava a reeleição contra o ex-governador
Geraldo Alckmin (PSB), então no PSDB e que agora será seu vice na chapa
presidencial. Já Bolsonaro participou apenas de dois eventos em 2018 –ambos em
agosto.
Em setembro daquele ano, Bolsonaro levou uma facada
em atentado em Juiz de Fora (MG) durante um ato de campanha e não participou de
debates no segundo turno.
Além de Lula e Bolsonaro, foram convidados Ciro Gomes (PDT), Simone
Tebet (MDB), Luiz Felipe d'Avila (Novo) e Soraya Thronicke (União Brasil), de
partidos com representantes na Câmara de Deputados.
O debate deste domingo será dividido em três
blocos. Em reunião com assessores de todos os candidatos ficou acertado que não
haverá plateia no estúdio. Além disso, caso um candidato desista de comparecer,
a cadeira destinada a ele ficará vazia.
Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada
neste mês, Lula lidera com 47% das intenções de voto, ante 32% de Bolsonaro e
7% de Ciro.
A participação de Lula e Bolsonaro no evento deste
domingo é esperada, embora não seja considerada totalmente certa entre seus
aliados.
Bolsonaro disse nesta sexta (26) em entrevista ao programa Pânico que
planeja ir ao debate, após integrantes da campanha terem colocado dúvidas nos
dias anteriores sobre a sua participação.
"Devo estar [no debate] no domingo. Num
momento achei que não deveria ir, mas agora acho que devo ir. Mas vou ser
fuzilado. Sou um alvo compensador. Mas acho que as perguntas eu já preparei
como fazer. As respostas vão ser simples, não devo nada", afirmou.
Com a ida de Bolsonaro, Lula também deve
participar. Dentro da campanha petista, porém, não havia consenso, apesar da
tendência maior a favor da sua participação.
O ex-presidente vinha afirmando que aceitaria
participar de até três encontros no 1º turno, desde que fossem organizados de
forma conjunta por diferentes veículos. Além do debate de domingo, o comando da
campanha de Lula planejava participação dele nas TVs Globo e Aparecida.
No entorno de Bolsonaro, apesar da indicação do próprio presidente,
permanecia uma divisão sobre a melhor estratégia a adotar –e alguns aliados
diziam que o martelo sobre ir ou não ainda seria batido.
Uma ala da campanha teme que Bolsonaro se
transforme em vidraça, sendo atacado por todos os demais, além do receio de
confronto mais ríspido que reforce a imagem de agressivo do presidente.
Terceiro colocado nas pesquisas, Ciro Gomes (PDT)
quer usar a participação no debate como vantagem em relação a Lula e Bolsonaro.
A leitura do núcleo pedetista é que eventual
ausência seria mais prejudicial ao petista do que à imagem do atual presidente.
Parte dos aliados de Bolsonaro vê no debate uma oportunidade para que o
chefe do Executivo reforce a marca do Auxílio Brasil e reafirme a promessa de
tornar o benefício de R$ 600 permanente no ano que vem, além de destacar a
recuperação do emprego. O auxílio foi o carro-chefe das primeiras inserções da
campanha.
A oportunidade de confrontar diretamente Lula ainda
é vista como uma maneira para que o mandatário compare sua administração com os
governos do PT, em especial nos casos de corrupção.
Assessores do chefe do Executivo tinham a
expectativa de que ele atacasse mais o petista na entrevista concedida ao
Jornal Nacional. Na sua mão, por exemplo, ele havia anotado nomes de países
governados pela esquerda que passam por crises econômicas.
A campanha bolsonarista também deve explorar a
declaração de Lula, tirada de contexto, em que fala de agronegócio
"direitista e fascista" –ao se referir a uma parte do segmento. O
petista vem tentando se aproximar do agro, hoje mais alinhado ao chefe do
Executivo.
Há também uma avaliação de que a ida de Bolsonaro ao debate pode
garantir conteúdo com recortes para divulgar nas redes sociais.
Já para aliados do petista, o ex-presidente tem
neste domingo uma oportunidade de diálogo com a classe média, além de uma
demonstração de que não teme debates.
Apesar dessa avaliação, seus colaboradores admitem
que Lula será alvo dos adversários, especialmente se Bolsonaro faltar.
No debate, o petista deverá adotar estratégia
típica de quem lidera as pesquisas. Segundo aliados, Lula não chamará Bolsonaro
para o confronto direto, caso o presidente participe. Suas perguntas deverão
ser direcionadas a candidatos que estejam fora da polarização que marca a
disputa. As perguntas do petista deverão ser antecedidas por memória de seu
governo. Já as respostas deverão ser concluídas com a promessa de tempos
melhores.
A estratégia da campanha de Ciro Gomes é priorizar o programa de governo
e evitar embates diretos com Lula e Bolsonaro, apesar de não descartar
comentários sobre temas espinhosos caso seja provocado.
A principal meta, porém, será divulgar o programa
de transferência de renda para complementar em até R$ 1.000 o orçamento das
famílias que estão abaixo da linha de pobreza.
Essa proposta mira diretamente o eleitor que recebe
benefícios sociais e, historicamente, vota no PT, principal foco de oposição da
campanha.
Outro projeto a ser priorizado na participação de
Ciro no debate é o que promete limpar o nome de devedores inscritos no Serasa.
A ideia é atribuir ao candidato a figura de um homem racional e técnico,
que debate sobre os problemas reais do país em vez de se embrenhar em ataques
políticos a adversários, imagem que Ciro conseguiu passar durante sabatina no
Jornal Nacional na terça (23), segundo leitura de integrantes do partido.
O foco em argumentos propositivos é também uma
forma do candidato de tentar se diferenciar da polarização política vigente
nessas eleições, alvo constante de críticas de Ciro durante as agendas de
campanha.
Acreditando que a eventual presença de Lula e
Bolsonaro vá reforçar a polarização, Simone Tebet deve, segundo assessores,
tentar se colocar como uma alternativa de centro que se diferencie dos líderes
nas pesquisas. Seus aliados dizem que ela deve tentar se mostrar como uma
gestora capacitada e serena.
Um dos principais objetivos da
parlamentar é usar a visibilidade do debate para se apresentar aos eleitores,
uma vez que ela ainda é desconhecida pela maioria dos brasileiros.
Autor: CATIA SEABRA, MARIANA
ZYLBERKAN, MARIANNA HOLANDA, MATHEUS TEIXEIRA, RENATO MACHADO E VICTORIA
AZEVEDO/FOLHAPRESS
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