OCNE (Conselho Nacional de Educação) aprovou nesta segunda-feira (14) parecer que define como será o novo Enem a partir de 2024, com provas diferentes por áreas de conhecimento. Também está prevista a inclusão de questões discursivas, e não só de múltipla escolha.
O candidato poderá escolher a partir da 2ª parte da prova.
Também está prevista a inclusão de questões discursivas, e não só de múltipla escolha. | Reprodução |
O parecer traça diretrizes para que o exame se adeque ao novo ensino
médio, cuja implementação começa este ano. A nova legislação prevê uma
flexibilização curricular em que os estudantes veem um conteúdo básico,
articulado com a Base Nacional Comum Curricular, e escolhem uma área do
conhecimento para se aprofundar.
Com as mudanças, o Enem segue essa mesma disposição
por áreas. Os candidatos farão uma prova de formação básica geral (alinhada a
conteúdos da Base Nacional e de caráter mais interpretativa) e uma segunda
etapa para avaliar os itinerários formativos.
Quando se inscrever no Enem, o candidato deverá
escolher uma entre quatro áreas para fazer a prova.A ideia é que essa prova
esteja de acordo com o itinerário formativo que o estudante teve acesso no ensino
médio e com a área do curso de ensino superior que ele almeja. As quatro áreas
do Enem serão:1) Linguagens, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; 2)
Matemática, Ciências da Natureza e suas Tecnologias; 3) Matemática, Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas; e 4) Ciências da Natureza, Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas.
"A complexidade do Enem reside na segunda
etapa do exame que avalia a parte diversificada, os itinerários formativos. É
nela que o novo ensino médio enfrentará o seu maior desafio em relação aos
objetivos de flexibilidade e diversificação do sistema", diz o texto do
CNE, aprovado por unanimidade, com voto favorável também dos membros do MEC
(Ministério da Educação) que compõem o conselho.
Agora, caberá ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais) construir as matrizes de referência das duas etapas da prova. É a
partir das matrizes de conhecimentos que as questões da prova são elaboradas.
"O grande desafio agora será o Inep desenvolver as matrizes que
realmente correspondam à Base Nacional e ao novo ensino médio, que deverão ser
validadas por especialistas", disse à reportagem a presidente do CNE,
Maria Helena Guimarães de Castro.Essas matrizes devem ser construídas ainda
este ano para que no próximo haja o esforço para criação de um novo banco de
itens. Nesse processo será também definido quantas questões discursivas
integrarão cada parte da prova.
A ideia é que a primeira etapa da prova tenha entre 80 a 90 itens no
total. O MEC defende que metade dessa prova seja com questões discursivas.Ainda
não há decisão sobre o tamanho da prova da segunda etapa (por área). Não está
descartado que toda ela seja discursiva.
Esse desafio mais contundente na parte da prova por
áreas ocorre também porque a Base Nacional do ensino médio não definiu
diretrizes curriculares desses itinerários, mas somente da parte de
conhecimentos gerais.
Com a reforma do ensino médio, os chamados
itinerários formativos foram divididos em cinco áreas: linguagens, matemática,
ciências humanas, ciências da natureza e ensino técnico. As redes têm
implementado o novo ensino médio e há experiências, como a de São Paulo, de
itinerários integrados.
"A organização das provas ou bloco de questões
nas quatro áreas citadas permite um melhor diálogo do exame com os diferentes
arranjos dos itinerários formativos associados à organização dos cursos de
nível superior", diz o documento.
O Enem é a principal porta de entrada para o ensino
superior. Assim, ele deve continuar com as mudanças e as instituições deverão
definir quais áreas da prova se adequam para a seleção de seus cursos.
Desde 2009, a prova é organizada em dois dias, com 45 questões de cada
área (linguagens, matemática, ciências humanas e ciências da natureza), além da
redação. A exigência de redação permanecerá no novo Enem, a ser aplicada na
primeira fase.Atualmente, a prova toda, com exceção da redação, é elaborada e
corrigida com base em um modelo matemático chamado TRI (Teoria de Resposta ao
Item) que garante, por exemplo, a comparabilidade de dificuldade das provas.
Segundo Maria Helena, o novo Enem manterá a TRI mesmo com a inclusão de
questões discursivas, para as quais deve ser adotado modelo de correção por
inteligência artificial. "O Pisa [avaliação internacional] já tem
experiências nesse tipo de correção".
A adoção da TRI na segunda etapa da prova ainda não
está definida porque depende das matrizes que serão desenvolvidas.
O parecer do CNE ainda preconiza a transição do
Enem para realização totalmente digital, o que favorece a aplicação de mais de
uma prova por ano. O Inep já aplicou duas edições de projeto piloto do Enem
digital, direcionado para poucos inscritos.
A mudança do Enem a
partir de 2024 já era esperada desde o governo Michel Temer (MDB). Como o novo
ensino médio passa a ser ofertado a partir deste ano, em 2024 haverá, em tese,
a primeira geração que cursou toda a etapa no novo formato.
FOLHAPRESS
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