A praia de Boa Viagem, em Recife, é a mais conhecida no Brasil pela presença de tubarões. Ao longo da faixa de areia, várias placas alertam sobre o perigo de ataques.
O tubarão-anequim é considerado o mais veloz do mundo.
Reprodução/Praia Grande Mil Grau |
Porém, dessa vez, o animal apareceu em outro
lugar. Na Praia Grande, no litoral de São Paulo, assustando pescadores que
conseguiram gravar em vídeo que mostra um tubarão-anequim (Isurus oxyrinchus),
considerado o mais veloz dos tubarões do mundo. O encontro foi registrado nas
proximidades da praia da Aviação, na quarta-feira (23). Os indivíduos adultos
dessa espécie podem nadar a mais de 70 km/h e possuem entre 3,3 a 4,4 metros de
comprimento.
O pescador Juari Alves da Silva, que estava
acompanhado de dois colegas em um barco no momento do flagrante, informou que o
animal estava seguindo em direção ao Canto do Forte, mas que em dado momento
partiu em direção ao alto mar.
"Deu para ver a barbatana de longe, o
mar estava bem 'liso' [sem ondas]. Quando chegamos perto, vimos que era um
cação [filhote]. Na hora deu pra ver que era um anequim. Fazia tempo que não
via um desse, acho que desde que comecei na pesca vi um, mas depois não vi
mais".
O tubarão-anequim ou tubarão-mako é
considerado por especialistas o tubarão mais rápido do mundo, sendo um
excelente nadador e podendo chegar aos 72 km/h em curtas distâncias. Ele vive
em águas temperadas e pode alcançar uma profundidade de 900 metros.
O biólogo Otto Bismarck, professor doutor da
Unesp e especialista em tubarões, afirmou à reportagem que, pelas imagens do
vídeo, é possível perceber claramente, pela parte de trás do corpo e pelos tons
levemente azulados da coloração, que o tubarão avistado pelos pescadores é
mesmo um espécime da família Lamnidae, com "grande possibilidade" de
ser o anequim.
"Essa é uma espécie que normalmente vive
mais afastada da costa, mas no verão não raramente é vista nas proximidades das
praias em nosso litoral. Existem muitas imagens desse animal perto da praia em
outros pontos do litoral de São Paulo ao longo dos últimos anos", afirma o
especialista.
Entre as razões para o anequim se aproximar
da costa estão as correntes marinhas, que podem "empurrar" o animal
em direção às praias. "Outra razão é que os espécimes menores desta
espécie encontram perto da costa uma área mais propícia para se alimentar e se
proteger de predadores em alto mar".
Os acidentes envolvendo anequins não são
comuns. O último caso, que surpreendeu pescadores e especialistas, ocorreu em
2016, no Rio Grande do Sul, quando um pescador foi atacado e morto por um
tubarão dessa espécie após ser pescado, já dentro do barco.
ENCONTROS MAIS
FREQUENTES
Esta não é a primeira vez este ano que um
anequim é avistado no litoral paulista. Em 2019, um indivíduo com cerca de 1,3
metro de comprimento e 35 kg encalhou em uma praia de Mongaguá. Em janeiro
deste ano, um vídeo que circulou nas redes sociais mostrava um exemplar dessa
espécie nadando próximo à Praia Vermelha, em Ubatuba.
A presença de outras espécies também tem sido
registrada com mais frequência. No início desta semana, uma fêmea de tubarão
galha-preta, com pouco mais de 2 metros de comprimento, encalhou no rio
Itanhaém, no litoral de São Paulo, a 200 metros da Praia da Saudade.
No ano passado, em 3 de novembro, um turista
francês foi ferido por um tubarão de pequeno ou médio porte, na praia do
Lamberto. No dia 14 do mesmo mês, uma idosa de 79 anos, foi mordida por um
tubarão, possivelmente um tubarão-tigre ou cabeça-chata.
Apesar do número de avistamentos ter crescido
a partir do início deste verão no litoral paulista, o professor Otto Bismarck
explica que isso não quer dizer que o número de tubarões perto da costa
aumentou.
"Pelo contrário, o número está
diminuindo, muitas espécies estão ameaçadas de extinção. O que acontece é que
existem mais pessoas procurando as praias e elas estão mais ligadas, com a
atenção voltada para o mar. Então tudo o que se move na água agora chama mais a
atenção. Não há motivo para pânico ou preocupação".
RISCO DE EXTINÇÃO
Assim como muitas espécies de tubarão, o
anequim ou mako está em risco de extinção. Sua pesca em alto mar é proibida. O
último relatório da avaliação do risco de extinção dos elasmobrânquios e
quimeras no Brasil, publicado em 2016 pelo ICMBio, do Ministério do Meio
Ambiente, informa que, além de constituir captura acessória na pesca de atuns e
agulhões, o Isurus oxyrinchus é também uma espécie alvo em pescarias com
espinhéis e redes de emalhar.
"A maioria das capturas não são adequadamente
dimensionadas e certamente os dados disponíveis são subestimados", diz o
relatório. Estudos no Atlântico Norte sugerem que essa espécie pode ter sofrido
declínios significativos em abundância em várias partes da sua distribuição.
"Estas considerações, associadas ao
manejo inadequado, pesca sem restrições, e alto valor da carne no mercado, são
fatores que exigem medidas preventivas no Atlântico Sul. Além disso, avaliações
ecológicas de risco colocam a espécie entre aquelas de maior grau de risco",
informa o documento.
Veja o vídeo:
FOLHAPRESS
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