Uma vacina em forma de spray nasal contra a covid-19 está sendo desenvolvida por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em fase de estudos, o novo imunizante promete ser de baixo custo, proteger contra variantes e bloquear o novo vírus ainda no nariz. A expectativa é que ela esteja disponível até o fim de 2022.
“Você já começa a induzir resposta no epitélio nasal e induzir a
produção de um anticorpo que é muito importante nas mucosas, que são as IgAs
[Imunoglobulina A] secretórias”, explica o coordenador do estudo, Jorge Elias
Kalil Filho, professor da Faculdade de Medicina da USP e chefe do Laboratório
de Imunologia Clínica e Alergia do Hospital das Clínicas.
Além de inovar na forma de inoculação do vírus, com aplicação pelo nariz
e não por via intramuscular, o imunizante também se diferencia no antígeno. “Em
vez de usarmos a Spike do vírus de Wuhan, nós vamos utilizar só a RBD [domínio
receptor obrigatório, pela sigla em inglês] das quatro variantes de
preocupação”, diz Kalil Filho. De acordo com a Fiocruz, a proteína Spike é
associada à capacidade de entrada do patógeno nas células humanas e é um dos
principais alvos dos anticorpos neutralizantes produzidos pelo organismo para
bloquear o vírus.
O pesquisador explica ainda que o antígeno vai conter pedaços de
proteínas que estimulem a resposta celular mais duradoura do que aquela mediada
pelos anticorpos neutralizantes. “Nós estudamos 220 pessoas que tiveram a
doença, estudamos também por informática todo o genoma do vírus e selecionamos
fragmentos que teoricamente induzem uma boa resposta celular”, acrescenta.
O imunizante, portanto, deve incluir fragmentos que são capazes de matar
a célula, caso ela seja infectada. “Se o vírus entrar na célula, a única coisa
que você pode fazer é usar as células chamadas CD8 citotóxicas, que matam a
célula infectada”, afirma Kalil Filho. O spray deve incluir, portanto, os
chamados linfócitos T CD8+ citotóxicos, que matam células doentes, e os
linfócitos T CD4+, que auxiliam na produção de anticorpos e nas respostas
citotóxicas.
Outra inovação do produto é a criação de um tipo de nanopartícula que
adere à mucosa do nariz. “A mucosa tem muitos cílios que não deixam nada
aderir, mas desenvolvemos um jeito de colocar uma formulação específica em que
a gente induz uma resposta de mucosa importante”, acrescenta o médico.
Sobre o custo, Kalil Filho diz que deve ficar em torno de US$ 5, mas que
ainda são necessárias outras análises relacionadas ao rendimento. “Nós temos
alguns laboratórios que produzem proteínas recombinantes, mas ainda está muito
no início, então estamos tratando com as empresas farmacêuticas pra ver se a
gente acha alguma que consiga produzir com boa quantidade”.
A vacina spray nasal pode funcionar como um reforço para as doses já
existentes e aplicadas por via intramuscular. “Provavelmente, quando o spray
estiver pronto, boa parte da população mundial vai estar vacinada. Eu acredito
que ele vai ser, sobretudo, como uma dose de reforço”, afirmou o médico.
Foto: © George Campos/Jornal da USP / Fonte: Agência Brasil
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