Em meio aos preparativos para uma manifestação em apoio ao seu governo em 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu usar seu eleitorado cativo para passar recados a adversários e ameaçar novamente o Judiciário durante um evento com lideranças evangélicas em Goiás, na manhã de hoje (28).
Bolsonaro
foi o convidado principal do 1° Encontro Fraternal de Líderes Evangélicos da
Conemad-GO (Convenção Nacional das Assembleias de Deus do Ministério de
Madureira). Em um discurso de aproximadamente 20 minutos, ele procurou manter
um tom de voz calmo, mas disparou ataques contra o STF (Supremo
Tribunal Federal), o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e a CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado. Ele voltou a fazer uma ameaça
golpista.
"Temos um presidente que não deseja e nem
provoca rupturas. Mas tudo tem um limite em nossa vida. Não podemos continuar
convivendo com isso".
Com
a popularidade em queda por conta da gestão criticada à frente da pandemia de
covid-19 e da crise econômica, Bolsonaro escolheu a dedo o público para o qual
faria a pregação golpista. Os evangélicos são o segmento religioso em que
Bolsonaro tem o maior apoio, segundo as pesquisas de diversos institutos
—apesar disso, vê o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
avançar sobre essa base. Já em termos regionais, é o Centro-Oeste o grande
bastião bolsonarista.
A Assembleia de Deus é a maior denominação
evangélica do país, e o Ministério de Madureira, por sua vez, é um dos maiores
dentro do grupo.
Desafio sobre 7 de setembro
Bolsonaro
também usou a oportunidade para desafiar o Judiciário a tomar alguma medida
contra a organização dos atos de seus apoiadores no 7 de setembro. Nas
convocações, há discursos antidemocráticos —como a pregação de fechamento do STF— e apologia para que
policiais militares da ativa compareçam aos protestos, o que é ilegal.
"Sei que a grande maioria dos líderes
evangélicos vai participar desse movimento de 7 de setembro. E assim tem que
fazê-lo, está garantido na nossa Constituição. Espero que não queiram tomar
medidas para conter esse movimento. A liberdade de se manifestar, vedado o
anonimato, está garantida na nossa Constituição", provocou Bolsonaro.
"É impressionante como alguns querem evitar esse movimento espontâneo do
povo".
Apesar da nova ameaça de ruptura democrática,
Bolsonaro ironizou os críticos que veem em suas ações uma tentativa de
orquestrar um golpe. Segundo ele, o argumento não faria sentido porque ele já
está no poder. Contudo, é um expediente comum líderes autoritários chegarem ao
poder por vias democráticas e então darem um autogolpe para implantar um
regimente ditatorial.
"Comprovei a fraude do TSE [Tribunal
Superior Eleitoral] com documentos do próprio TSE. Por que não querem mais
transparência? Alguns me acusam de querer dar um golpe. Eu já sou presidente,
por que vou querer dar um golpe?", afirmou, fazendo referência aos ataques
que têm feito às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral.
Embora
tenha falado que comprovou fraude, o presidente nunca apresentou qualquer prova
contra o sistema eleitoral, e o TSE já rebateu várias alegações de
Bolsonaro sobre o assunto.
Bolsonaro voltou a
apelar para o discurso anticomunista procurando agradar o público evangélico,
majoritariamente conservador. Em referência velada à possível vitória do
ex-presidente Lula em 2022 —o petista é lider em todas as pesquisas e, segundo
os institutos, bateria Bolsonaro por grande margem
no segundo turno— ele disse que o país
pode "virar uma Venezuela", reverberando um discurso que sua campanha
usou à exaustão em 2018.
"Quando a gente fala o que pode acontecer
com o Brasil e alguns não acreditam, eu recomendo a vocês. Olhe a Venezuela. Se
olharam e não acreditaram, olha o que está acontecendo na Argentina",
disse.
Bolsonaro descarta chance de
ser preso
Outro
ponto de desafio aos adversários diz respeito a possíveis processos criminais.
Bolsonaro disse não existir chance de ser preso por conta de seus atos à frente
do governo federal. Ele é investigado em diversas frentes no STF e no Congresso
—a CPI da Covid deve
indiciá-lo por crimes como curandeirismo, charlatanismo e prevaricação.
"Digo uma coisa aos senhores. Tenho três
alternativas para o meu futuro: estar preso, ser morto ou a vitória. Pode ter
certeza: a primeira alternativa, preso, não existe. Nem um homem aqui na Terra
vai me amedrontar. Tenho a consciência de que estou fazendo a coisa certa. Não
devo nada a ninguém. E ninguém deve nada a mim também", disse Bolsonaro,
sendo aplaudido pelo público.
"Nas palavras de alguns poucos vou ser
enquadrado em charlatanismo e curandeirismo por causa da
hidroxicloroquina", disse, fazendo referência aos senadores da cúpula da
CPI.
Ataques a prefeitos e governadores
Bolsonaro
ainda voltou a atacar prefeitos e governadores
que adotaram medidas de isolamento social para conter a
propagação da covid-19. Recentemente, Bolsonaro foi alvo de críticas de
opositores e nas redes sociais por ironizar a situação de pessoas que têm
dificuldades para comprar itens da cesta básica por conta da inflação.
Ele
chamou de "idiota" quem diz que prefere comprar
feijão e disse que "se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem
quer comprar".
"Sabemos do sofrimento que o povo está
passando, porque como consequência daquela política do 'fica em casa, a
economia a gente vê depois' chegou a conta para pagar. Enfrentamos uma das
maiores crises hidrológicas da história do Brasil, tivemos uma geada. Problemas
nós temos, mas o Brasil é um dos cinco países que menos sofreram no tocante à
economia graças ao trabalho do nosso governo", afirmou.
O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro caiu
4,1% em 2020, a maior redução em 24 anos, segundo dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística).
UOL
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